Zé ninguem
Maria morava no morro da alegria, um lugar onde a alegria se fazia na tristeza da miséria de um dia seguinte. Maria como todas as jovens de sua idade, viveu as alegrias da vida muito cedo, e aos 16 ficou grávida.
E foi no morro da alegria, num dia qualquer que ninguém nasceu. Zé ninguém, Filho de Maria com um alguém. Zé ninguém era um garoto franzino, mal tinha dois quilos quando nasceu. Mas Zé suportou as dificuldades do parto e veio ao mundo, e suportou a miséria de sua infância.
Apesar de sua parca alimentação, saúde frágil e do trabalho diário, ninguém estudou muito, e como ninguém saiu do morro e foi para a faculdade. Foi fazer direito, faculdade de direito, no meio de tanta pobreza Maria, mãe de Zé, se orgulhava de seu filho, pois ali ninguém tinha futuro.
E ninguém se tornou um juiz honesto e honrado, e ao contrario de seus colegas, ninguém fez direito.
Mas Zé era mal visto pelos grandes magnatas da cidade. "Quem esse Zé NINGUÉM pensa que é para querer desafiar o poder?" Diziam eles e riam um riso asqueroso, riam do pobre Zé.
E Zé foi perseguido, foi ameaçado, foi punido, e voltou para o morro da alegria. E Ninguém foi feliz, viveu com sua mulher e filhos na casa de sua mãe, Maria, velha e doente. E Zé trabalho duro, foi pedreiro, feirante aos domingos, gari durante as noites, e apesar do pouco dinheiro, Zé sempre sustentou a família.
E como ninguém tinha coração nobre, ajudou os vizinhos quando precisaram, e ninguém sempre foi honesto, mesmo quando não tinha o que comer.
Mas uma vez ou outra Zé era confundido com traficante, preso por engano, apanhava da polícia, e depois era solto. Até que um dia levaram o Zé, bateram nele, e ninguém revidou, e Zé sumiu, e o corpo apareceu deformado, num lixão.
Mas hoje no morro da alegria Zé ainda é lembrado, pois ninguém teve um coração tão grande, ninguém era bom, honrado e honesto, e ninguém foi morto pela policia. E mais um ano se passou e o morro da alegria continua ali, do mesmo jeito, cheio de Zé e Marias, e muitos ninguém.