Eu notei que ela clamava com os olhos...
Eu notei que ela clamava com os olhos por algo, como um escravo clama por liberdade. Mas quem poderia saber o que era. Nunca ninguém se arriscou a descobrir aquele “eu”que ali estava, no canto, cabisbaixa e com os cabelos negros sobre o rosto. Era a imagem da dor. Devagar, para não assusta-la, eu me aproximei dela e fiquei olhando sua cabeça. Quando ela, subitamente a levantou, nossos olhos se cruzaram por alguns segundos. Congelamos ali nesse pequeno intervalo de tempo. Não sei quanto tempo passou, mas se pudesse contar, diria que se passaram dias.
-Por favor, não me olha nos olhos. -Disse ela enquanto cobria o rosto com o cabelo novamente.
Com a mão direita eu aponto para o coração dela e digo.
-Se o sol não brilhasse toda manhã, nada existiria, nem mesmo nós. Seus olhos são como o sol, se não deixa-los amostra para brilhar, nada vai crescer ai dentro.
Ainda cabisbaixa ela retruca.
-Aqui dentro já é terra infértil. Nada tem a capacidade de crescer aqui novamente. Sou terra árida. Deserto sem fim. Sou alma perdida e um poço de água suja.
Sorrindo eu digo.
-São nos piores desertos que nascem as mais belas flores!
-Por que diz isso? -Ela pergunta sem levantar a cabeça.
-Porque a onde tiver ao menos uma gota de amor, ele crescerá. E você já amou uma vez, assim como eu te amei.
Ela levanta a cabeça e olha para mim com lágrimas nos olhos.
-Quem é você para dizer isso? -Ela pergunta levantando o rosto e me olhando nos olhos.
-Eu sou a flor do teu deserto!