A lamúria dos anjos
Era uma manhã de sábado, fazia frio e as nuvens escuras no céus anunciavam que a chuva estava chegando.
Todos na casa estavam tristes, pois o pequeno Timoty havia falecido! Vítima de atropelamento, o motorista havia fugido! Apenas seis anos... Todos estavam tão emocionalmente envolvidos com o funeral que nem perceberam que Daniele, a irmã do menino, não se encontrava em casa.
Chegou a hora do sepultamento, a mãe chorava desolada, estava tão esgotada pelo ocorrido trágico, que apenas beliscara dois biscoitos o dia todo, o pai do garoto bebeu tanto whiskey, para provavelmente tentar esquecer o fato, que teve de ser levado embora do cemitério por um parente.
Foram se dirigindo à sepultura destinada à criança. Começou a chover, guarda-chuvas pretos foram abertos. A mãe chorava inconsolável, suspirava... Pobre mulher, perdeu seu garotinho!
O caixão branco foi baixando no buraco... Choros, lamentos, rezas... O padre abençôou a todos e lamentou novamente o ocorrido, clamou à Deus por justiça, rezou... “Que Deus nos guie em nossa jornada”!
A chuva aumentava, parecia a lamúria dos anjos, que choravam, pois mais um anjinho deixava a terra para juntar-se a eles no céu.
Ninguém reparou na garota de cabelos negros, calça jeans e casaco preto que se escondia atrás de uma árvore de grosso tronco. Sim, era Daniele. Ela sentia tanta dor em seu coração, tanto ódio do motorista que fugiu após matar ser irmão, nem prestou socorro, infeliz! Deveria pagar por aquilo. Ela não suportava ver o sofrimento de sua mãe, e agora, provavelmente, seu pai se entregaria de vez à bebida e com certeza as brigas em casa aumentariam.
Todos foram embora. A garota se aproximou da cova onde seu irmão havia sido sepultado a poucos minutos. A chuva continuava forte, seus cabelos negros estavam colados no rosto a roupa encharcada colada ao corpo... Ela chegou mais perto, se ajoelhou e chorou. Lágrimas de tristeza se misturaram às de raiva. Em uma das mãos ela segurava um pequeno urso de pelúcia, brinquedo preferido do irmãozinho, na outra, rosas brancas, simbolizando a pureza daquela pequena alma! Perdeu a noção do tempo em que ficou ali, quando se levantou para ir embora, a chuva já havia se transformado em leve chuvisco e começava a escurecer.
Ela jurou que faria justiça, esse motorista assassino teria de pagar por essa morte, não poderia sair impune. A polícia não tinha nenhuma pista, nem o número da placa do carro!
Ela voltou para casa e entrou escondida pela janela do quarto, ninguém sentiu sua falta. Ainda havia muita gente na casa. Tomou um banho quente para se aquecer, secou os cabelos e deitou na cama. Não conseguiria dormir, não conseguia parar de pensar em Timoty e novamente chorou. Acabou adormecendo em meio aos soluços... Sonhou com um lindo anjo de asas cor de marfim, vestido com roupas brancas, ele segurava o pequeno Timoty pela mão. O menino acenava para a irmã, ele sorria, isso significava que estava bem. O anjo o pegou no colo e ambos se aproximaram de Daniele e lhe deram um beijo na testa. O pequeno menino acenava de longe, dizia adeus... Era a despedida final.
Depois desse sonho, nunca mais a garota pensou em vingança, não sentiu mais ódio no coração e nem chorou mais com raiva, pois sabia que o irmão estava bem, não havia sofrido. E que se o culpado por tudo isso não pagasse por seus atos na justiça dos homens, ele pagaria e seria punido pela justiça divida, afinal, o futuro à Deus pertence, o Diabo apenas concorda e diz amém!