VENDA DO SEU AVELINO NOGUEIRA

Na venda do seu Avelino tinha quase de tudo.

Tinha três portas de duas folhas, já envelhecidas, de cor azul clara. Mas de azul clara mesmo só tinha na parte alta. Pois o beiral que encostava ao chão era na cor da madeira. Assim era a venda do seu Avelino no povoado das Vertentes.

Pedaço de porta que ao longo dos anos já tinha molhado e enxugado muitas e muitas vezes devido ás chuvas.

Na venda do seu Avelino tinha balas de goma de doce de leite, balas duras de menta.

Havia Maria-mole, bolachão, pé-de-moleque, gibi, doce de abóbora, doce de batata doce, branca e doce de batata doce rocha, suspiros coloridos e canudos com doce de leite dentro, e coco ralado na borda.

Tinha sorvetes feitos com um produto que vinha em litros escuros e máquina de bater o sorvete era movida a querosene. O líquido onde as bandejas de alumínio dos picolés eram congelados tinha soda cáustica e fazia um barulho parecido com locomotiva.

Um balcão enorme de madeira onde separava boa parte da mercadoria que estavam expostas à venda.

Havia chupetas, mamadeiras, pentes da marca flamengo, buchinhas para cabelos, esmaltes, pó-de-arroz para os rostos das minas. Tinha espelhos grandes e espelhinhos redondos de bolso com estampa de mulheres de biquínis no verso.

Tinha shampoo sem marca e shampoo lux, tinha algodão. Tinha agulhas, linhas de costura e de bordados.

Na venda do seu Avelino tinha pinico, coador de café feito de pano, mancebo, pelego, bacheiro, freios e cabrestos, cravos e ferraduras. Tinha martelo, turquês, alicate e chave de fenda, chave inglesa e estrela. Tinha faca, facão, cerrote, abridor de lata e os alumínios em geral.

Tinha botijão de gás pequenino e grandão e camisinha para lampião.

Na venda do seu Avelino tinha panelas de barro, de pedra e de ferro fundido. Tinha torrador de café, fogão de três pernas e talheres em geral.

Havia cadernos, réguas, compassos, lápis, canetas, borrachas, e até mochilas e embornais para levar o material para a escola do arraial.

Na venda do seu Avelino tinha enxada, enxadão, cavadeira, picareta, machado, foice, e alfanje. Tinha máquina para o plantio do milho e do feijão. Tinha canivete, chapéu de palha, de pelo e até panamá. Tinha bonés de pano, lenços para as mulheres e tecidos para os cortes que estavam nas mentes das costureiras do povoado.

Na venda do seu Avelino tinha sabonetes lux, talcos el door, tinha pomadas para chulés e spray para a boca, quando os moços iam ao encontro das donzelas.

Tinha brinquedos de plástico, bolas grande e pequenas, graxas para sapatos, e cintos para as calças fixarem nas cinturas e para os mais chunchudos os suspensois das mais variadas coires. Além das gravatas francesas, borboletas e de lacinhos.

Na venda do seu Avelino tinha raibâns, arquinhos de cabelo, tiaras e meias. Meias calças e calças inteiras, sapatos e sapatões.

Na venda do seu Avelino tinha corda indiana e corda de pita e tinha fumo de rolo, cigarros continental e minister, guarda chuva, sombrinha, capa de pelo de coelho e capa plástica, além das bonitas vulcabras e sete léguas e ainda tabatinga ensacada. T

Tinha laço de couro, reio com cabo de pau e rabo de tatu. Tinha foguete de vara e caramuru.

Havia ferradura, argola para colocar nos chifres dos bois de guia da boiada carreira, tinha chinelo de dedo, botina com solado de pneu, ki chute, conga, meias de todas as cores e até ceroulas de pano com braguilha de botão lacinho no final das pernas. Tinha short de brim com listas brancas do lado, regata para vestir debaixo das camisas. Tinha saiotes, saias calcinhas de algodão com florzinhas para a mulheres e cuecas com abertura disfarçadas na frente para a rapaziada.

Na venda do Seu Avelino tinha licores diversos, vinhos beloto, sangue de boi, Campeão e vários outros. Tinha conhaque presidente, Campari, cachaça, álcool, querosene e talhas para refrescar água e até pote de barro. Sem falar das moringas e dos garrafões de cachaças.

Na venda do seu Avelino tinha cano de plástico, copos de vidro, bandejas, jogos de café, de jantar e até panela de pressão.

Na venda de seu Avelino tinha arroz, feijão, açúcar, sal, macarrão, farinha de trigo, farinha de milho e até de mandioca torrada e sem torrar. Tinha legumes e tinha verduras. Tinha queijo de tábua, coalhada, milho branco para fazer canjica, canjiquinha para fazer com costelinha de porco e queijo fresco sem ter freezers para guardar. Tinha linguiça defumada, toucinho, frango caipira, ovos caipiras, patos e marrecos já limpinhos, gaiolas para passarinhos e arapuca para caçar.

Tinha pão, roscas, pó de café, bicarbonato, fermento e até carne seca.

Tinha vassouras de piaçaba, vassouras de plantação, milho pipoca na espiga e debulhada. Tinha rodos, pano de chão, de mão, de prato, toalhas e lençóis, travesseiros, fronhas e até papagaio com comadre. Tinha um trem que era para esfregar no chão e dar lustro do cimento natado. Tinha cera cardeal,tinta da marca xadrez de várias cores, e tinta para colocar na nata de cimento para deixar os pisos vermelhos, amarelos e até verdinhos. E tinha tinturas para roupas, alvejantes van sân. e tantas outras coisas. Tinha rádio de pilha, sonata para tocar uns discos de vinil.

Na venda do seu Avelino tinha quase de tudo.

É isso aí!

Acácio Nunes

Acácio Nunes
Enviado por Acácio Nunes em 17/10/2015
Reeditado em 17/03/2017
Código do texto: T5418094
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