Jorro sem socorro...?

O céu é lindo quiçá eu tenha lhe contado, ou insinuado, e não me lembro. Mas foi lá na praça de esportes daí. Devia ser o segundo semestre de 66. Houve um torneio de futebol de salão e nosso São Geraldo botou as chuteiras. Ou ki-chutes, pois era futebol de salão.

Eu sonhava ser convocado, ainda que na reserva, pra defender nossas

cores. Mas a realidade é que não tinha fubebol pra tanto. Tive que me conformar com a assistência. E acomodar minha frustração à torcida.

As partidas se realizavam no início das noites, bem frescas por sinal. Os irmãos Cônsoli defendiam o Colégio São Tarcísio. Dava gosto ver a habilidade do Carlos com seus dribles desconcertantes. Deu pra ver também o Márcio Lara, jogando com alma, determinação e categoria. E o pé esquerdo.

Confinado à torcida, de pé, postei-me rente a um dos cantos da quadra, na penumbra. E a turma de colegas assistentes se espalhou em volta da quadra. Numa dada altura do jogo, sinto um leve relar de cotovelo contra cotovelo. Era uma mocinha duns olhos verdes, talvez um pouco de sardas no rosto, cabelos pretos, nariz arrebitadinho. E gente à nossa volta por todo lado.

Tive aquele tremorzinho até recuperar a respiração - e queria estar de olho no jogo, bem um olho no jogo outro naquele jogo de seios que se insinuava. E arfava.

Com os braços cruzados, ficava tentando estender meu cotovelo direito - justo rumo ao peito. Mas cotovelo não tem elasticidade nenhuma, ainda que possa balançar um pouco. Mas me veio a forma engenhosa de superar adificuldade no alongamento: com a mão esquerda, avancei cautelosa e medrosamente. E apalpei aquele seio como se estivesse tocando uma coisa divina. Vai ver até que tive uma molhação-ereção súbita, mas nem tavali pra perceber. Ou tentar controlá-la. Já vali?O negócio foi que peguei, bem mais rocei e de respiração quase parei.

Atônita ou em êxtase igual, ela cooperava. Ousei ao cabo de uma eternidade de segundos, perguntar, sem sussurro -'qual é seu nome?

- Maria, ela me soprou, sem tirar os olhos do jogo ou o peito da ponta de meus dedos.

Não sei se algum colega torcedor ou circunstante percebeu aquela subreptícia mas estranha movimentação. Vai ver que o jogo tava muito bom mesmo. Aquelas pernas endiabradas do Carlos...

Perdemos. 2 a 1. Bem feito, não me quiseram. Quanto a amiga de peito (o jogo com duas metades de 20 minutos cada, corre rápido - e nunca vi um tão rápido quanto aquele), acho que ela esperava mais perguntas. E vai ver que fiz, como me revém à memória que ela morava na Esplanada.

Jogo findo, momento tão lindo, voltei pro seminário cabisbaixo, considerando as belezas, em par, que o bom Deus botou nesse mundo. Mas não na minha cama.

E policiado o tempo todo dentro daqueles muros, duvido que, em nome do tão sublime momento, tivesse, manualmente, procedido ao divino crime - do jorro sem socorro...

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 17/10/2015
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