Infância
Antigamente as crianças ficavam horas e horas brincando, na rua com amigos se distraindo, os pais não possuíam medo e, tranquilos, deixavam a livre diversão.
O dinheiro era pouco, então a criatividade era a inspiração.
Eram brincadeiras de burquinha, pipas, pega-pega, pique-esconde, roda, todos eram amigos de todos, todos se conheciam, não havia medo de quedas, nem de esbarrão, as árvores eram apenas obstáculos facilmente ultrapassados onde brincava-se de avião, subia e acreditava-se que nas alturas seriam pássaros e usava-se muito a imaginação.
As frutas eram comidas direto do pé, às vezes sem sequer lavarem-se as mãos. Eram tantas as brincadeiras que a hora passava sem querer voltar para casa ou mesmo abandonar a criação.
Tantas coleções que se tinha: tampinhas, figurinhas, bolinhas, muitas vezes simples e sem valorização, comprava-se chiclete e balas, não pelo doce e sim pela coleção.
Muitas vezes também campainha eram a alegria e infelicidade da região, tocava-se e corria rindo deixando bravo mais um vizinho ou mesmo um novo e antipático em contradição.
Toda esta diversão era somente quebrada quando as mães gritavam e ameaçavam com o chinelo na mão, todos corriam sujos muitas vezes, desesperados, gritando, rindo e sem medo, apenas na obediência materno/paternal.
A televisão não era muito frequente, canais não se tinha muita opção.
Engordar era coisa que não se via muito, pois os exercícios eram tantos que não dava tempo e nem capacidade para tal fato de observação.
João tentava explicar ao seu filho, como foi sua infância, seu passado distraído, divertido, criativo e bem amigo, no entanto para Philipe era tudo coisa de gente velha e sem importância, não entendia como o pai tinha se divertido com coisas para ele totalmente sem sentido, sem graça e sem importância.
Enquanto o pai queria imputar no filho sua vida, sua história e queria que o filho visse tudo da mesma forma não entendia que para o filho a vida era totalmente diferente, os tempos eram outros e a diversão tinha mudado de sentido e de história.
As controvérsias de idade repercutiam na história, no momento e em suas infâncias, o filho queria outras coisas, queria mais era viver na frente da televisão, desenhos animados eram poucos, no entanto filmes eram muitos e parte da realidade, pipoca então nem se fale e guloseimas eram tantas que nem acreditava que depois haveria refeições.
O forte para o filho era a tecnologia, vídeo game, celular último modelo, computador, internet, jogos on-line, amizades feitas em uma tela e nada de contato com vizinhos e nem conhecer ou saber quem eram estes ou mesmo o que faziam. Às vezes até mesmo o vizinho era o amigo de internet, no entanto não se sabia, pois contatos pessoais não eram trocados, somente nicks e apelidos.
Mal sabia o pai que o responsável por esta total mudança era ele mesmo que proporcionava a aquisição de tantos aparelhos e medo de criar o filho com tantas observações, tantos medos, descobertas e que a tudo contradizia com o que tinha vivido e realizado.
Philipe tentava “colocar na cabeça” do pai que os tempos eram outros, o pai estranhava e não conseguia compreender, só dizia que esta vida o faria engordar, nada conhecer, amigos de verdade não ter e muito menos em quem realmente se acreditar, confiar e com quem viver.
A diferença de idade fazia com que não se entendessem e nenhum queria abrir mão de suas convicções.
Chegou então dona Cristina, a esposa de João, tentando intermediar a situação e na hora já buscou dar uma solução na questão:
- Quando vocês dois vão parar de discutir qual é a melhor infância e tentarem conviver? Mais parecem duas crianças, tentando brigar por causa de infância, sem, no entanto realmente se entender. Toda época tem uma forma de viver e ambos devem aproveitar e juntos brincar, tirar o maior proveito antes que o tempo se vá e esqueçam-se que pai e filho são, nem se conheçam e quando mais tarde observarem foi-se um precioso tempo que poderia ter sido unicamente de diversão.
João e Philipe diante do discurso de dona Cristina procuraram conversar e divertirem-se com as melhores brincadeiras de cada geração, hoje pai e filho riem descontraidamente, enquanto o vídeo game é pura diversão.
Nos finais de semana no parque já o colorido voa alto, enquanto ambos se divertem e a pipa no ar faz piruetas que antes não havia na vida do filho e na do pai era pura recordação.
Também toda a família busca fazer piqueniques e agora é pura interação.
O pai conhece um pouco mais do mundo do filho e o filho se distrai com as brincadeiras que na vida do pai fizeram parte e agora da sua infância também passaram a ter valorização.
Uma vida, ou duas vidas entrelaçadas diante das palavras sábias da mãe que a um gerou, ao outro amou e os fez compreender a importância da família mesmo na recreação, os três agora sorriem e juntos vivem puramente na alegria e com saudável união.
Publicada originalmente: http://www.camarabrasileira.com/mb15-021.html