O piano
Caminhava em um longo corredor escuro, a única vela que possuía havia se apagado com um vento que não sei de onde surgiu.
Ouço um ruído... Não conseguia dizer ao certo o que era... O som aumentava... Continuei pelo corredor, no escuro... Ao fundo distingui o som de um velho piano sendo tocado... Tentava encontrar de onde vinha linda melodia. Mas o escuro não permitia!
Fui usando o tato, encontrei uma parede... Colei meu ouvido esquerdo a ela. O som estava ficando cada vez mais forte. Meu coração disparou, tentei enxergar alguma coisa naquele breu, inútil tentativa.
Uma maldição havia sido lançada naquele lugar abandonado e esquecido, se alguém conseguisse encontrar a sala do piano que estava sendo delicadamente tocado, poderia ver-se a luz do dia novamente, poderia falar-se novamente... A pessoa, ou alma que o tocava seria libertada de tamanho castigo... Tocar pela eternidade...
A cabeça girava de tanta confusão, muitos eram os pensamentos naquele momento... Dúvidas se realmente conseguiria encontrar a sala! Queria ver aquela doce alma, que apesar da maldição, tocava com tanta paixão aquele instrumento.
Meu coração, minha alma... Estavam juntos nesse despertar... Fui seguindo o som... Cheguei a um beco sem saída, mas sabia que não deveria voltar para trás, estava muito perto, podia sentir...
Como poderia libertar-te? Imaginava, como seria seu olhar, seu hálito, seu perfume... Sabia que de alguma forma estavas me observando. Encontrei uma maçaneta, era uma porta que estava à minha frente! Tentei abrir... Nada! Pensei em bater... Mas ninguém escutaria... Tentei gritar... Estava muda! Uma lágrima caiu... Senti pingar perto do meu pé... E foi como magia... Ouvi um ruído perto da porta... Silencio! Um silencio que desesperava... Tentei mais uma vez abrir a porta, girei a maçaneta novamente, só que para o outro lado... Ela abriu... A sala era enorme, escura... E ao fundo vi o velho piano... Uma alma aparentemente triste o tocava, um antigo candelabro iluminava o cômodo.
A criatura nem levantou os olhos para me olhar. Fui me aproximando devagar, pois apesar de estar tocando uma melodia muito triste, era ao mesmo tempo linda e emocionante. Longos dedos tocavam as teclas com cuidado... Estava tão longe, mas tão perto ao mesmo tempo... Ele trajava uma antiga casaca preta, um fraque antigo... Camisa branca e tinha cabelos longos, boca levemente avermelhada. Fui me aproximando, estava praticamente à sua frente! Ele olhou em minha direção, encontrou meus olhos a lhe espionar com leve curiosidade, não parou de tocar e pediu... “Aproxime-se mais”... Fui chegando mais perto, ele já havia me visto agora, e mesmo assim não parava de tocar o instrumento. Disse para sentar-se a seu lado, sentei...
A música me hipnotizava... Senti como se estivesse flutuando... Podia sentir sua respiração perto do meu ouvido... Era calma! Meu coração acelerou mais... Ele me contou que sua maldição era não parar de tocar o piano enquanto seu verdadeiro amor não cruzasse aquela porta! E eu contei a ele que minha única maldição era ter muito amor no coração, porém não possuía ninguém para compartilhá-lo.
Ele me olhou demoradamente... E de repente vimos que havia uma iluminação mais acentuada no escuro cômodo, era o sol que a penetrava. Ele estava conseguindo falar e eu também. Percebemos que a maldição só poderia ter findando... Nossas almas haviam se encontrado, eram almas destinadas a união eterna... E assim o piano silenciou para sempre, porém aquela melodia ainda toca em minha mente.