O SARAU POÉTICO

Poesia é a festa dos sentidos através da palavra. Todavia, alguém tem de organizar o ambiente para a dádiva do poema vívido de corpo, a viva voz. As abelhas-obreiras – zumbindo – fazem parte da dadivosa colmeia de surpresas, encantamentos e disfarçados risos. Num zás-trás produzem o mel a ser fruído ainda fresco, perfumado. Uma garrafa de vinho desce goela abaixo; um olho de sol para o incerto dia seguinte, doçuras no palatino. Na pulsante metrópole noturna, além da porta do bar, um alarido: alguém assaltado, imprecações e o socorro que nunca chega. No palco, alguém canta “Felicidade foi-se embora / e a saudade no meu peito ainda mora...”. Ambulância e polícia chegam juntas. Os ritos de viver assombram o bem e o mal. O poema-verdade geme sua pequenina dose de amor à criatura humana e suas desditas... Logo após ouve-se a sirene do carro fúnebre, o “rabecão”, com a vida extinta.

– Do livro OFICINA DO VERSO, 2015.

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