Sobriedade

Ana conheceu Marcos numa noite fria, em que se deseja apenas cama, sexo e cachaça. Marcos, acostumado com os calores de São Luís, fora até o bar e boate naquela noite de junho desejando apenas cama, sexo e cachaça. Nada mais exigia ou pagaria. Ao chegar na antessala, que também era um barzinho, deparou-se com algo mais que o barman, bebidas e balcão. Marcos encontrou algo que não procurava. Ana, em cuja noite era Sandra, sentava no canto direito de um sofá grená de tecido já desbotado, rodeada apenas por uma mesa de centro circular em que se apóia bebidas e cigarros. Com sua pele branca ouriçada de frio, estava com a perna direita cruzada sobre a mão e perna esquerdas, enquanto revezava na outra mão um copo de bebida e o cigarro. Marcos não sabia, mas a partir daquele dia passaria a exigir algo mais que apenas cama, sexo e cachaça. Sandra, ao perceber Marcos, sentira que fora tocada. Josés, Andrés, Ricardos nunca haviam tocado Ana. Sandra, que ultimamente só queria cachaça, viu em Marcos algo mais além de sexo e cama. Sofredora das juras nunca realizadas, Sandra acreditou quando Marcos lhe prometera sua cama e sexo, em troca de sua cachaça. Ana deixara Sandra. Decorridos 25 anos de sobriedades na cama e no sexo, era manhã quando Marcos chegou sem sucesso para a abrir a porta da sala. Marcos cheirava a cama, sexo e cachaça. Embriagada de ódio, Ana fora a cozinha, puxou a gaveta do armário abaixo da pia e sacara a faca mais afiada. Naquele dia sem sexo e cama, Ana percebeu que não havia esquecido o gosto da Sandra que há muito era guardada. Ana sentiu que nunca havia ficado sóbria de sua cachaça.

Lucian Rodrigues
Enviado por Lucian Rodrigues em 25/05/2015
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