SEXO, DROGAS E ROCK´N ROLL

Aristides era um homem de 45 anos, desquitado e sem filhos, morava com a mãe, uma senhora aposentada de 75 anos num apartamento no centro de São Paulo. Fumante inveterado e grande consumidor de bebidas destiladas, Aristides estava longe de ser um exemplo de cidadão de vida regrada. Conhecia e frequentava todos os muquinfos da cidade, era amigo dos malandros, dos engraxates e das prostitutas do baixo meretrício, circulava com naturalidade da Estação da Luz à Lapa de Baixo passando por Pompéia, Pinheiros, Água Branca, ruas Major Sertório, Bento Freitas, Rego Freitas e adjacências, conhecia os tipos e a noite paulistana como poucos com suas bocas de fumo, a boca do lixo com seus inferninhos e travestis e também seus antros de jogatina embora não fosse um jogador. Frequentava clubes de dança como Som de Cristal, Garitão Danças e Escolas de Samba onde era conhecido por sua empatia, sua facilidade em lembrar sambas antigos dos compositores da Velha Guarda como Noel, Cartola e Nelson Cavaquinho e, adorava também, blues e rock´n roll. Desconhecendo que tinha pressão arterial e colesterol altos, cometia excessos na alimentação e nas bebidas, era sedentário, jamais fez um checkup na vida e nunca ligou para sua própria saúde. Bem humorado adorava a companhia dos amigos e das mulheres, frequentava bares onde consumia alimentos que fariam qualquer nutricionista se apavorar, sempre acompanhados de cigarros e bebidas. Gostava de música e sempre que podia assistia shows e apresentações de seus pagodeiros e rockeiros prediletos. Comprava discos com frequência e livros mais raramente tendo uma boa quantidade desse material em sua casa. Outra coisa que Aristides adorava era consumir maconha. Adorava ir para a cama com uma prostituta e consumir maconha no mesmo ambiente em que fazia sexo. Gostava de ler um livro ou pôr um disco na vitrola, acender um cigarro de marijuana e “viajar” ao sabor da história do livro ou ao som da música que ouvia. Deixava-se levar pelo ritmo e voz do cantor ou cantora interagindo com a música que ouvia. Adorava a voz de Janis Joplin e Ray Charles, chegando em alguns momentos a senti-la dentro de si próprio. Hoje a mãe de Aristides foi ao Clube com algumas amigas onde passará a tarde toda jogando bingo, sendo que mais tarde Aristides deverá buscá-la com seu carro. Adora quando isso acontece pois gosta ficar sozinho em casa e assim não precisa ficar fechado em seu quarto para fumar seu cigarrinho ou ouvir seus discos prediletos na altura que gosta. Preparou uma boa dose de Whisky com gelo, deu uma bicada e colocou o copo sobre a mesinha de centro. Acendeu seu cigarro especial, pegou um antigo disco de vinil de Ray Charles, acomodou-se no sofá e passou a ouvi-lo. A voz afinada e rouca do Rei do Blues invadiu todos os cantos do apartamento e também penetrou nas veias e mente de Aristides. Quando os primeiros acordes iniciaram a introdução de “Stella By Starligth“, Aristides sentiu a veia jugular externa pulsar no pescoço ao som e ritmo do contrabaixo. Continuou dando grandes puxadas na maconha e deliciosos goles na bebida mesmo sentindo a veia pulsando loucamente, sem saber que isso acontecia devido ao fato da mesma estar obstruída, consequência da vida desregrada que sempre levou. Não se mexeu, continuou bebendo e fumando sem perceber que a veia estava prestes a se romper. De fato, sem nenhum aviso abriu-se um orifício no pescoço de Aristides por onde jorrou grande quantidade de sangue que espirrava na parede ao ritmo da pulsação da veia que acompanhava a marcação do blues. Em pouco tempo o copo caiu-lhe da mão e quebrou-se no chão com um estalido seco. Enquanto teve forças o coração bombeou o sangue na parede que escorrendo para o chão formou uma grande poça misturado ao Wisky. Sem sentir nenhuma dor e ainda curtindo o som, Aristides lentamente foi perdendo a consciência. Mesmo deixando esta vida sozinho, longe da mãe, das mulheres e dos amigos, Aristides provavelmente tenha morrido feliz. Ao menos se foi fazendo o que mais gostava, disso não há a menor dúvida...

JotaCF
Enviado por JotaCF em 01/05/2015
Reeditado em 25/11/2015
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