A canção de rancor da rosa
A rosa cinza esperava em silêncio
Presa e sem opção, desesperadamente tentava guardar resquícios da beleza e do frescor de anos passados.
Em vão, ouso dizer. Nada diminuía a ação do tempo ou minimizava a decrepitude em que ela havia mergulhado.
Mas ela continuava lá. Altiva em sua roupagem de impactar aos domingos.
Cega de vaidade e de fel diante do que já não possuía, via desfilar diante de seus olhos de inveja todas as cores que havia perdido.
Eu a observava e confesso, me compadecia.
Sentia pena das tentativas inúteis de mostrar que em outros tempos havia sido bela, havia tido valor e em tantas ocasiões tinha sido a escolhida dentre tantas.
Agora, minguava corroída pelo vento e pelos dias de silêncio e tédio.
Esticando o pescoço e tentando chamar a atenção dos que passam sem notá-la, todas as manhãs procura penduricalhos e ornamentos cada vez mais exagerados.
Mas nada, absolutamente nada, trazia de volta a emoção de ser comentada e desejada.
E assim a rosa cinza padecia.
Largada na pedra fria para purgar seus últimos dias, olhava o céu azul e amaldiçoava seu destino.
Um dia teve serventia. Um dia enfeitou cortejos e foi o objeto mais observado.
Hoje, envelhecida, murcha e vazia de virtudes, busca no espelho as marcas da beleza que acreditou possuir em algum momento.
Dias de expectativa que escorriam pelos dedos feito areia.
Eu me lembro dela de vez em quando. Coloco-me no seu lugar e imagino a angústia que sente ao perceber que nada restou.
A rosa amarga pragueja e diante do argumento irrefutável da vida que cobra o preço da futilidade de uma existência, torce o nariz e parte em busca de qualquer moeda que lhe sirva de barganha.
Ninguém mais se interessa.
E no túmulo que enfeia dia após dias, a rosa amarga por fim sucumbe ao sol escaldante e perde as últimas cores de suas pétalas de plástico.
Ela por fim, descansa em paz.