COURO CRU
Na instância papai adorava revelar seu talento artístico manuseando o couro de boi.
Quando um bovino era abatido na comunidade, papai pedia o couro para fazer os seus apetrechos.
Quando chovia ele tirava o dia para fazer a armação do couro e depois pendurar em uma árvore para secar.
Lá ficava dias e às vezes meses.
Depois era tirado com cuidado, enrolado e guardado em cima dos arreios de reserva da boiada carreira.
Tempo chuvoso, principalmente quando se aproximava o Natal, naquele tempo era muito úmido. E o espírito natalino levando a todos a trabalharem menos na lavoura, e consequentemente levava papai para o rancho velho que ficava num canto do terreirão e lá passava o dia inteiro confeccionando vários objetos com o couro.
Enquanto a chuva ia calando no terreirão, a faca de papai ia deslizando sobre o couro molhado. Uma fita comprida aqui, outra fita comprida acolá.
Assim ele ia cortando o couro em fitas de larguras iguais.
Depois ia trançando rédeas, reios e outros utensílios, tudo de forma bem dura e rústica.
Um trabalho artesanal de causar inveja.
Alto de montanha, sítio encharcado com as águas da chuva, estradas deterioradas, neblina cobrindo os cumes dos montes e novos objetos de couro sendo confeccionados.
O friozinho com vento rasteiro ia calando o dia.
A noite começava a chegar mais cedo devido ao tempo chuvoso. E as nuvens passavam na mesma altura de nossa querência. Tudo ficava enfumaçado.
Couro de boi, couro cru.
Chuvas de verão, Natal no sertão.
Tempo bom!
É isso aí!
Acácio Nunes