COURO CRU

Na instância papai adorava revelar seu talento artístico manuseando o couro de boi.

Quando um bovino era abatido na comunidade, papai pedia o couro para fazer os seus apetrechos.

Quando chovia ele tirava o dia para fazer a armação do couro e depois pendurar em uma árvore para secar.

Lá ficava dias e às vezes meses.

Depois era tirado com cuidado, enrolado e guardado em cima dos arreios de reserva da boiada carreira.

Tempo chuvoso, principalmente quando se aproximava o Natal, naquele tempo era muito úmido. E o espírito natalino levando a todos a trabalharem menos na lavoura, e consequentemente levava papai para o rancho velho que ficava num canto do terreirão e lá passava o dia inteiro confeccionando vários objetos com o couro.

Enquanto a chuva ia calando no terreirão, a faca de papai ia deslizando sobre o couro molhado. Uma fita comprida aqui, outra fita comprida acolá.

Assim ele ia cortando o couro em fitas de larguras iguais.

Depois ia trançando rédeas, reios e outros utensílios, tudo de forma bem dura e rústica.

Um trabalho artesanal de causar inveja.

Alto de montanha, sítio encharcado com as águas da chuva, estradas deterioradas, neblina cobrindo os cumes dos montes e novos objetos de couro sendo confeccionados.

O friozinho com vento rasteiro ia calando o dia.

A noite começava a chegar mais cedo devido ao tempo chuvoso. E as nuvens passavam na mesma altura de nossa querência. Tudo ficava enfumaçado.

Couro de boi, couro cru.

Chuvas de verão, Natal no sertão.

Tempo bom!

É isso aí!

Acácio Nunes

Acácio Nunes
Enviado por Acácio Nunes em 22/12/2014
Código do texto: T5077771
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