Tão bela a vida era...
...que deixei os arvoredos no quintal, ao Deus-dará, e fui brincar de médico. Não foi difícil arrumar a paciente, que me procurou, impenitente. Regulávamos em idade e iríamos, agora, nos empatar em intimidade.
A consulta se fez em local apropriado, indevassado, e com o mais criterioso cuidado. Não requereu preenchimento de ficha, constatação de que o plano de saúde cobria - enquanto o pano se descobria. Eram tempos do IAPI e de seus assemelhados.
Não saberia então explicar, mas confesso que gostei do que vi, apalpei, e acho até que na ponta da língua senti. Sapore di sale che non aveva nessuna cosa di sapore di male.
A consulente, em nenhum momento sentiu-se inibida, ofendida, ou desenxabida. Aquilo tudo parecia transcorrer sob um script perfeito, consentâneo e espontâneo.
Pena que o remédio que prescrevi teve efeito imediato, além de ser bem barato. Não tinha tarja de qualquer cor, era carente de odor, um vero elixir do amor.
Fechei o consultório, de simplório. Sob a vigilante espreita do oratório.
Fui atrás doutra profissão, mas me contento de ter sido médico dum plantão. Ou Platão?