O Taradinho

E na galeria de tipos excêntricos da Velha Serrana, tinha também o Taradinho. Geraldo era seu nome, mas só o soubemos por menção de terceiros, pois a locução de Geraldo não passava de um balbuciar elementar, com que insistia em cumprimentar.

Embora não constasse quaisquer atos ou fatos que lhe desabonassem a conduta, principalmente em relação às moças do lugar, predominavam os boatos de que o Geraldo não era flor que se cheirasse. Talvez fosse uma precaução descabida, mas essa era de então a vida, e a cotidiana lida:

Cuidado com o Taradinho, que, aliás, raramente podia ser visto sozinho. No mais das vezes era visto com o irmão Joaquim, até que este entrasse em algum botequim - deixando o mano zanzando sozim, ele que de álcool não parecia a fim.

Geraldo ia ao cinema e parecia se empolgar quando alguma mais brava cena fazia a platéia vibrar, mas ninguém, porém, ousava em a seu lado sentar.

E até a missas e procissões ele comparecia, e do chapeuzinho de feltro então se desfazia, como que por magia. Mas o certo e reto é que a cabeça descobria, exibindo uma negra e oleosa cabeleira, sempre aparadinha, nas laterais e traseira.

Não namorou, não flertou e muito menos se casou, mas de olhar nada pio, e no balbucio, foi que causou tanto arrepio. De fio a pavio, sobretudo em noites de frio.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 18/11/2014
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