Descansa em paz Sô Vicente

ÔH Sô Vicente!! - Sô Vicente! - Ôooh Sô Vicente... tir’isso da cabeça, Sô Vicente. O sinhô já deu u-qui-tinha-di-dá.

Rodô muntos trecho sem recramá, defendeno na ponta du ferrão o dereito diquém nem ómenos cunhicia; Apartano briga, ivitano morte de tocaia, de vigança; disatano nóle de corda de suicida, - sarvano vida.

E num era só isso! E, nus infrentamento? - Contos sôco seco bem dado, e coice, na boca-du-istamo dus –infratô!? - Daquêis qu’infringia a lei e risistia ino contra-as-orde. Acuado, feito um gato... pra si defende, as-veiz teve memo qui –atacá.

Atulerô um tanto di-cumpanhêro már-criado, ruim di sirviço, qui ainda afrontava a disciprina e as-hierarquia. A valença qui-o-sinhô num refrescava, num passava a mão na cabeça de ninguém... Isso o Sinhô nunca feiz!!! Pelo contrário - dizia: - “Tem gente, Mandruvachá, qui-só-sai pafrente à base de ferro... e num é-quiô-tenho o coração ruim não! - Mais essa é a pura verldade.”

Éhhh Sô Vicente, a peleja é dura, é árdua divera, - inxige munto dá gente. E condo vai chegano pru finár da carrêra é bem comum a gente ficá iscardado memo, disacursuado. Quem dera eu nu seu lugá Sô Vicente... quem dera!

Causdiquê o Sinhô tá percupano qü’isso? – Refresca a cabeça, a giriza, pede a contage de tempo e toca pra-diante, - o seu ta garantido meu fiio. Dêxa prus mais novo. Deita e drôme um sono sorto. - Discansa im –paiz Sô Vicente!

Tá chegano a hora du sonho o amigo rializá, du terrenin, duma chacrazinha comprá. Mai-iscói bem iscuído, Sô Vicente... pra dispois num si –arrependê; de preferença prudiperto d’uma matinha, numa grota, com nascente e água boa.

- Inté parece qui-te-vejo chegano rinitente na buléia daquele caminhãozin, e nem carece fechá o zói pra te inxergá na terrinha qui petece pissuí.

A muié rudiano a bêra du fugão à lenha, naquela cuzinha lairga; batata-doce assano du-lá-dumas-baginha-di-minduin, na cinza quente; vaca berrano nu currar; grilo, sapo, pintin piano e colêrin gravatinha na cerca da horta e gai-das-laranjêra cantano; porco sorto roncano, cabrito andano e cagano na porta da cuzinha; a lavôra de café pruduzino; muin d’agua, ingenhoca, munjolo; e separadin, pruditrais da horta, uma aguinha caíno mansinha dia e noite num pocin... alí: lambarí, bagre, traíra, tilapia e tambaquí fazeno festa. Já, no fundim, mais imbaxo, pastano, a égua baia du rapaizin ir pr’iscola.

Comprano, Sô Vicente, airma uma ridinha diba-duma-airve di copa lairga, c’uma sombra boa, prus amigo apriciá; nus finár de semana pó -isperá qui nóis chega lá. Vamo sim - vamo lá pra concêis armuçá; das histora, dus causos nóis recordá... pode ajeitá a viola e riuní us amigo qui -dinoitizinha nóis vai prusiá.

SINTINO AS –DORE DO PARTO ISCUITA SÓ U-QUIÔ-VÔ-CONTÁ:

Óh meu amigo Sô Vicente

pessoa como sinhore

é difici d’incontrá

Saiu da roça munto cedo

Pru’sonho ir conquistá

O sinhô é fio di promessa

nisso pode aquirditá

inhantis du seu nascimento

Já tava iscrito

Neste... nome de santo nóis vai botá

Ter um padre na famia / era mutivo de honraria

a santa bença todo dia / mais pra isso, o Sô Vicente

tinha qui istuidá

Cumprino gosto da omõe

aos duzesseis ano de idade

no siminário resorveu entrá

Aprendeu as iscritura de cór e sartiado

mais nu camin num quis andá

Ingressô pôco dispois

na groriosa Pulicia militá

foi praça, intermidiario e oficiar

Percorreu quais toda graduação

Muntos home pôde comandá

Adquiriu fama, famia

patente arta

muié, minino, aposentadoria

óhhh... meu caro Sô Vicente

agora, chegô memo a hora

do amigo refoirmá.

Mandruvachá
Enviado por Mandruvachá em 10/10/2014
Reeditado em 18/07/2017
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