A casa em uma mochila

Minha amiga, de nome Luiza, depois de oito anos residindo em São Paulo decidiu retornar à Porto Alegre. Alguns motivos muito fortes a fizeram tomar essa decisão, afora uma boa proposta de emprego. Quando a questionei sobre a mudança ela não hesitou: “Meu tempo na paulicéia desvairada chegou ao fim. Ponto!”.

De um apartamento confortável contando com um quarto somente para guarda das suas roupas, deparou-me com duas malas com algumas peças e acessórios para viver os seus próximos meses, já que ainda não tinha comprado ou alugado um apartamento para acomodar-se em Porto Alegre. Sua mudança seguiu direto para a garagem da residência da sua mãe no interior. Ela e suas malas iam e vinham de um lugar a outro.

Vários foram os lugares que lhes deram abrigo por seis meses, inclusive o meu, no qual aprendí, em várias conversas na madrugada que tudo pode ser mais simples do que parece.

Na fase de adaptação ao novo emprego Luiza viajou muito, reduzindo em uma mala o que continha nas duas. E foi vivendo e refazendo a sua vida com novos desafios, sem perceber que faltava uma ou outra coisa. Vida intensa, pessoas diferentes, readaptação à sua terra. Nítida a sua felicidade!

Aos poucos foi conhecendo novos amigos e retomando contatos que sempre lhe foram importantes. Tempo curto, mas curtido! O novo sempre a atraiu e a adaptação à mudanças nunca foi assunto sério. O importante é que ela estava radiante, tão cheia de boas energias que, sem precisar procurar muito, encontrou e adquiriu um apartamento do jeitinho que queria. Sem pressa comecou a mobiliá-lo, até que chegou o dia da mudança definitiva. A garagem da residência da sua mãe foi transferida para o seu novo espaço.

Resolví auxiliá-la e, chegando lá, encontrei-a nervosa. De repente, parou, olhou ao seu redor e falou: Meu Deus! Quanta coisa! Quantas roupas! Quantos acessórios! Quantas e quantas caixas que nem sei mais o que contém. São desconhecidas prá mim. Uma estranha sensação de invasão no meu novo mundo. Viví com duas malas e fui feliz. Prá quê tanta “tralha” se a vida se passou tão bem nesse período?

Sentamos, tomamos um chá, e começamos a separar o que seria doado. A maioria não tinha mais qualquer significado para Luiza. A sua felicidade com a nova vida era tão grande que acabou tomando espaço de muitas coisas que antes eram necessárias. Resolveu optar pelo sentimento.

Rosalva
Enviado por Rosalva em 05/09/2014
Reeditado em 06/09/2014
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