O Coronelzão da Gameleira
O coronelzão estava no alpendre de seu casarão na fazenda Gameleira. Era cearense. Homem sério e de pouca conversa. Olhava o gado e as benfeitorias que havia construído com seu trabalho, durante os trinta anos que havia labutado desde que tinha chegado ao Urucuia. Nisso passou um cachorrão preto de um de seus agregados com uma manta de carne-de-sol na boca, todo dono de si com a presa roubada. Passou e foi comê-la debaixo de um pé de umbu do outro lado da cerca. O velho ficou irado com aquele abuso e resolveu dar cabo naquele cachorro ladrão. Gritou por seu sobrinho, um rapazinho ruivo e apatetado que lhe servia como motorista, secretário e bajulador. __Gervásio!!! Traz o rifle aqui, seu cabra, e dê um tiro naquele cachorrão preto do Zé Carrapicho, que anda roubando a casa. O Rapaz veio com o rifle na mão, deu um salto virado do alpendre pra calçada e deitou-se no gramado. Arrastou-se como um soldado no campo de batalha até o cruzeiro que ficava entre o casarão e a cerca de varas, na metade do caminho entre a casa e o cachorro ladrão. Daí arrastou-se até a cerca, passando por debaixo dela em direção ao cachorro que, indiferente, comia a manta de carne-de-sol roubada no fundo da casa, como se não houvesse mais nada no mundo. O velho ficou fulo da vida com aquela patacoada do rapaz e gritou autoritário:__ Gervásio!!! Seu cabra maletoso, tu tá ficando doido? Traga esse rifle aqui, que eu vou lhe mostrar como se atira. Se fosse para matá-lo a cacetadas eu teria lhe mandado pegar um cacete. O rapaz volta descabriado e entrega o rifle ao coronel, que, do alto do alpendre faz a pontaria e fuzila o cachorrão com um balaço na cabeça. Entrega a “papo amarelo” ao sobrinho e escova o pateta:__ Tu tome tento... Seu cabra abestado .