COCHO
Em dias frios e com nevoeiros, pelos trilhos da restinga meio grossa, às beiras do riacho, papai caminhava em busca de uma tiriveira, madeira dura, que nem as chuvas e nem o sol ardente eram capazes de danificar, somente os anos é que faziam essa madeira ir se desfalecendo.
Madeira grossa, madeira de tiriveira que era tombada e arrastada com uma junta de bois até o gramado que embelezava ao redor de nossa querência.
Tronco curto, pesado, bem roliço e de pouca valia.
Era essa madeira que papai usava para confeccionar cochos para oferecer sais minerais ao gado.
O dia todo escutava-se o barulho da enxó comendo a madeira.
As mãos firmes daquele homem forte e convicto de que o cocho ficaria bom, durante o dia todo lançava a enxó na madeira.
Aos poucos, o majestoso tronco ia ganhando forma e aos poucos ia parecendo uma canoa. Mas não era, na realidade era um esplêndido prato para as línguas ríspidas de gado lamberem o delicioso sal mineral.
Dois dias inteiros e o cocho estava pronto. Sobre duas forquilhas fincadas no chão, o tronco trabalhado e sem sua carne interna ganhava seu local para oferecer a o sal aos lambedores de desenfreados.
Depois de pronto, lançava-se o produto e os bovinos estreavam o prato novo com algumas farpas que escaparam da enxó.
E assim aquela madeira começava a exercer uma nova tarefa e que hoje só restam saudades.
Recordar é viver, escrever a recordação é história.
É isso aí!
Acácio Nunes.