COCHO

Em dias frios e com nevoeiros, pelos trilhos da restinga meio grossa, às beiras do riacho, papai caminhava em busca de uma tiriveira, madeira dura, que nem as chuvas e nem o sol ardente eram capazes de danificar, somente os anos é que faziam essa madeira ir se desfalecendo.

Madeira grossa, madeira de tiriveira que era tombada e arrastada com uma junta de bois até o gramado que embelezava ao redor de nossa querência.

Tronco curto, pesado, bem roliço e de pouca valia.

Era essa madeira que papai usava para confeccionar cochos para oferecer sais minerais ao gado.

O dia todo escutava-se o barulho da enxó comendo a madeira.

As mãos firmes daquele homem forte e convicto de que o cocho ficaria bom, durante o dia todo lançava a enxó na madeira.

Aos poucos, o majestoso tronco ia ganhando forma e aos poucos ia parecendo uma canoa. Mas não era, na realidade era um esplêndido prato para as línguas ríspidas de gado lamberem o delicioso sal mineral.

Dois dias inteiros e o cocho estava pronto. Sobre duas forquilhas fincadas no chão, o tronco trabalhado e sem sua carne interna ganhava seu local para oferecer a o sal aos lambedores de desenfreados.

Depois de pronto, lançava-se o produto e os bovinos estreavam o prato novo com algumas farpas que escaparam da enxó.

E assim aquela madeira começava a exercer uma nova tarefa e que hoje só restam saudades.

Recordar é viver, escrever a recordação é história.

É isso aí!

Acácio Nunes.

Acácio Nunes
Enviado por Acácio Nunes em 16/07/2014
Código do texto: T4884619
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