Jennifer - Pais - Segundo ato

Acordou e colocou um sorriso no rosto. Hoje era o grande dia. Levaria seus pais ao galpão, dizendo que tinha descoberto um ótimo lugar para ler e de onde se conseguia ver toda a imensidão do mar, subindo até o terceiro andar – o que não era necessariamente uma mentira.

O dia rastejou-se. Jennifer estava ansiosa, obviamente. Nunca teve nada contra seus pais. Foram ótimos em tudo. Na educação que lhe deram, em cada presente, em cada viagem, em cada problema, em tudo, sempre foram os melhores. Mas Jennifer preferia não pensar nisso.

Quando o relógio bateu oito horas da noite, Jennifer anunciou:

- Pai, mãe… Tenho um lugar para mostrar para vocês.

- Agora? Já é tarde… Veremos amanhã, tudo bem? – falou seu pai

- Não, pai. É um lugar lindo. De lá, subindo ao terceiro andar, dá pra ver toda a imensidão do mar! É um lugar calmo e quieto, nem o vento se faz ouvir. Vamos! Por favor! Só é bonito de noite! – implorou, fazendo cara de criança com fome.

- Tá, tudo bem, nós vamos, não é mesmo, querido? – disse sua mãe. “Obrigada, mamãe!”, pensou Jennifer.

Foram de carro até o galpão. Quando iam entrando, Jennifer ficou dois passos atrás. Disse “vão, eu deixo vocês descobrirem, a escada tá ali, do lado direito, subam!” e tirou as seringas de seu bolso. Seus pais foram andando na frente, chamando-a de louca, dizendo que ninguém em sã consciência te apresenta um lugar e diz para você ir na frente. Só Jennifer. Jennifer é diferente.

Jennifer aproximou-se com calma, sem fazer barulho. Pegou uma seringa em cada mão, já com a dose um pouco mais forte – um grama e meio para cada seringa – para que eles ficassem pelo menos inconscientes enquanto arrumasse tudo. Quando ela chegou perto o suficiente – seus pais andavam colados, de mãos dadas – deixou seu braço cair, com todo seu peso, nos pescoços de seus pais, injetando assim toda a heroína ali mesmo. Para Jennifer, duas doses de um grama e meio é fichinha. Para quem nunca experimentou – seus pais, por exemplo – é uma baita dose, digna de inconsciência. Seus pais ficaram tontos. Sua mãe caiu primeiro. Seu pai vagueou um pouco, tonto. Depois, caiu também. Jennifer puxou sua mãe para dentro do galpão e amarrou-a em pé num poste de madeira. Fez o mesmo com seu pai – usando o dobro de sua força. Porque ele tinha que ser gordo? Porra.

Quando acordaram, estavam bem presos e devidamente amordaçados. Jennifer estava sentada no chão na frente deles. Estava com o cadarço no braço havia pelo menos vinte minutos, suas veias já estavam muito visíveis e saltadas.

- O que… Aconteceu? – sua mãe perguntou.

- Você tá presa, mamãe.

- P-porquê?

- Porque sim

- Jennifer… Me solta… Ou… Eu cancelo… Seu cartão… – seu pai disse, tonto.

- Eu usei o cartão para comprar as cordas, papai.

Acendeu um cigarro. Sua mãe fechou os olhos e virou o rosto. Seu pai bufou. Ambos estavam bem o suficiente para vê-la com clareza. Abriu sua caixinha, começou a preparar tudo para uma picada.

- Jennifer! O que você tá fazendo?! – gritou seu pai.

- Me picando, pai.

E se picou. Dois gramas. Isso era quase nada, mas tudo bem. Tinha que fazer um drama, então quando terminou de se picar, jogou-se para trás, caindo no chão.

- JENNIFER! JENNIFER! AH, MEU DEUS! JENNIFER, ACORDA! – gritou sua mãe.

Jennifer levantou-se na hora e deu uma gargalhada.

- Mãe… Você fica patética quando está desesperada.

- Não faz mais isso, larga essas porcarias! E me solta! – gritou com autoridade.

Caminhou calmamente até sua mãe e deu-lhe um tapa na cara.

- Você é quem está presa. Não manda em porra nenhuma. Cala boca, caralho.

- Olha como você fala com sua mãe! – gritou seu pai.

Foi até seu pai. Bateu-lhe com o soco inglês.

- Lembra desse soco inglês? Você me deu há anos…

- Me solta!

- Eu sempre poli ele… Já matei com ele, papai.

- Você é doente! Me solta!

- Não. – e bateu nele de novo.

Foi até sua bolsa. Tirou dali o maçarico. Aproximou-se de seu pai.

- Agora, pai, fica quietinho. Se não, posso acabar te queimando, sem querer.

E começou a queimar as roupas de seu pai. Claro, como de costume, queimou um pouco da pele. E ele gritou.

- Você é uma mocinha, papai. – e queimou-lhe no umbigo. Seu pai gritou mais ainda.

Foi até sua mãe, queimou-lhe as roupas. Ela não gritou, apenas fez cara de dor.

- Assim eu gosto, mamãe. Você é forte. Será divertido.

Começou com sua mãe. Pegou o terço folheado a prata pela corda. Deixou a cruz pender um pouco, balançar no ar. Esquentou o terço com o maçarico. Quando achou que estava quente o suficiente, parou.

Aproximou-se de sua mãe.

- Não, filha… Não… Não faça isso. – sua mãe implorou.

- Farei, sim. Desculpa.

Deixou marcas de cruzes por todo o corpo de sua mãe. Cada vez que encostava a cruz, sua mãe gritava. Às vezes tinha que parar para esquentar novamente, mas tudo bem. Tinha tempo de sobra. Quando não havia mais espaço para as cruzes, parou. Deixou sua mãe descansar. Aproximou-se do pai.

- Papai… Você lembra quando me disse que eu tinha que ser boa em matemática?

- Me deixa ir embora!!! – disse seu pai, com raiva.

- Escuta, caralho! – gritou com ele e deu-lhe um soco na cara – Você lembra, né? – não esperou resposta – Então. Hoje eu vou mostrar que sei contar.

Tirou o canivete do bolso e abriu a boca do pai. Arrancou um dente.

- Um. – mais um dente – Dois. – e assim, até o sétimo dente. – Sete. Lembra que você gosta do número sete?

- Sua vaca! – gritou, com a boca cheia de sangue.

- Sim, eu sou uma vaca. Uma vaca suja, ainda por cima. Você tem ideia de quantas doenças eu tenho? Você tinha razão quando dizia que eu estava “por aí” com algum macho. Eu estava mesmo. Agora, você e a mamãe tem doenças sexualmente transmissíveis. HIV. Sífilis. Hepatite. Como você se sente? – riu.

- Vadia! Puta! Vagabunda!

- Três insultos, três dentes. – arrancou mais três dentes de seu pai. – Não… Eu não gosto de números pares. – arrancou mais um – Agora sim.

Com o maçarico, queimou a barriga do pai. O número sete. Riu da doce ironia. Riu de felicidade, de prazer. Riu de tudo.

Quando percebeu que seu pai estava fraco, deixou-o de lado. Voltou à sua mãe.

Pegou em sua mochila as agulhas de tricô. Começou a passá-las levemente pelo corpo de sua mãe. Depois, furou-a em todos os lugares onde podia. Axilas, barriga, pernas. Fez furos em seus joelhos. Atravessou o seio esquerdo com uma das agulhas. Fez o mesmo no outro seio, com a outra agulha. Pegou as linhas finas de costura e fez pequenos furos no rosto. Sua mãe escondia muito bem as rugas com aquela maquiagem toda.

Teve a ideia de lavar o rosto dela, para vê-la pela primeira e última vez sem maquiagem alguma. Não tinha água, só as cervejas. “Porra, minhas cervejas não…”, mas não teve jeito. Pegou uma das cervejas, abriu, deu um bom gole e depois, com cuidado, despejou em suas mãos, esfregando no rosto da mãe. Claramente ardia, pois a cara que a mãe fazia não era boa. Decidiu que jogaria outra cerveja fora e despejaria por todo o corpo da mãe. Assim o fez. Quando viu a cerveja toda despejada, desperdiçada, arrependeu-se. Começou a lamber o corpo da mãe. A sensação era boa. Será que sua mãe sentia prazer? Chupou os peitos da mãe, ainda firmes, apesar da idade, e deu mordidas nada de leve. Riu. Usou novamente sua ferramenta favorita – o canivete – e fez inúmeros X no corpo da mãe. Em todos os lugares. De repente, cansou-se da mãe. Voltou para seu pai.

- Eu sou uma vaca. Uma vadia suja, não sou? – perguntou.

- Sim, você é! Uma puta! – ele bradou.

- Então tá, só pra eu ter certeza.

Ficou de joelhos – na altura exata da virilha do pai – e começou a masturba-lo.

- O que você tá fazendo? Sua suja! – xingou.

- Pai, lamento dizer, mas você tá ficando de pau duro. O que quer que eu faça? – perguntou.

- Nada! Me deixa ir!

- Não, seu bobo. Já sei. – fez um corte nas bolas do pai e começou a chupá-lo. Fez uma pausa – Avisa quando for gozar, hein? – e riu

- Para com isso! Quando eu me soltar você vai pagar caro!

- Você ficou de pau duro, significa que quer. Não é assim que funciona? Ou você está preocupado com as doenças? Você já as tem, de qualquer forma. Então relaxa e goza! – e riu. Parou um pouco – Mas avisa quando for gozar!

- Doente! Você é louca! Um monstro! Você vai para o infer… AHHHHHH! – gozou.

- Porra, eu disse para avisar. E agora? – pensou um pouco. – Vai… Ser… Pu… Ni… Do… – cortou o nobre, minúsculo e contaminado pau do pai. – E sim, eu sou doente, um monstro. Mas não vou para o inferno. Porque o inferno não existe, é invenção. E adivinha quem inventou? Sim, isso mesmo. Pessoas doentes. – falou, calmamente, enquanto seu pai gritava.

Jennifer estava cansada, já havia passado três horas desde que estava ali com os pais. O tédio já a dominava. Ela acabaria com isso e daria o fora. Sem olhar para trás, sem arrependimentos.

Tirou as agulhas de tricô dos seios da mãe. Com o canivete, arrancou seus olhos e, também, sua vida. Ela já estava fraca. Espetou os olhos da mãe na agulha de tricô. Deixou lá, como um espetinho, aparentemente apetitoso. Foi até seu pai e fez o mesmo, arrancando aqueles belos e vazios olhos azul-esverdeados daquele rosto enrugado e gordo e espetando na outra agulha.

Abriu um pequeno corte, exatamente onde fica o coração do pai. Enfiou sua delicada mão de assassina naquele peito e arrancou-o sem pensar duas vezes. Fez o mesmo com a mãe, dando-lhe um beijo no rosto antes de arrancar-lhe o coração.

- Descansem em paz, meus velhos. Veremos-nos no infer… Não, não nos veremos lá. Não nos veremos nunca mais. – falou e saiu.

Pegou as agulhas de tricô e os corações. O pacote de batatinhas, aquele que ela comia enquanto os pais estavam inconscientes, serviu como recipiente para guardar os corações. Jogou tanto as agulhas quanto o pacote dentro da mochila. Colocou-a nas costas e saiu do galpão sem olhar para trás. Caminhou calmamente até o carro. Entrou, ligou o carro e foi-se embora. Para onde, nem ela sabia. Só sabia que ia. Talvez viajasse pelo mundo, talvez ficasse apenas em seu país. A partir da meia-noite seria maior de idade. Poderia ir para qualquer lugar, ficar em qualquer lugar e ninguém faria pergunta alguma. Só mais uma garota normal querendo aproveitar o que a vida tem para lhe dar.

E que assim seja.

Tammie
Enviado por Tammie em 13/07/2014
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