"Não vou falar"

Disse:

- Estou bravo. Não vou falar.

E o silêncio se fez maior que a quietude profunda de uma coruja atenta.

Era noite de festa.

Tinha acabado de chegar em casa; tirara os sapatos, trocou a roupa, escolhida cuidadosamente, pelas vestes do sono, mas antes precisava falar-lhe.

Estavam tão distante aquela noite, que pouco sentia o coração.

Suas vidas, separadas, não pareciam caminhar muito bem (quando a vida não caminha bem tornam-se inevitáveis os ruídos de comunicação).

O acontecido confirmara:

nada podem os corações em apartaide.

Dormiram tristes aquela noite...

E sabiam que algo começava a ser verdade;

talvez não fosse a verdade que desejavam, mas pelo menos algo se mostrava real.

Eram dois.

Dois lugares,

duas vidas,

dois olhares,

duas lembranças...