EMPÓRIO SÃO JOSÉ DOS CAFEZAIS.

No pé do morro da biquinha, havia um riacho conhecido por Córrego das Antas, uma passagem de água cortando a estrada e um morro comprido e cheio de curvas mansas e profundas.

E no início do morro, havia uma curva de barranco alto e do lado direito uma venda meio escondida, empoeirada e antiga na região.

Um estabelecimento chamado pelos habitantes dali de venda do Zé do Pinho.

Esse apelido foi dado ao seu José Mendonça, devido a uma violinha de pinho que de vez em quando chorava em seus dedos.

Do lado de fora da venda, havia uma pedra onde os compadres ficavam “proseando”.

Muitos caboclos fizeram seus cigarros de palha, mascaram fumo de rolo, encheram a cara de cachaça e dormiram naquela laje natural. Isso eles faziam antes de levar as encomendas para as crianças que ficavam em casa.

Ao lado da pedra, uma plaqueta com os dizeres: “Empório São José dos Cafezais”.

Duas portas de madeira eram o suficiente para entrar no recinto do pequeno armazém.

Nas ripas e caibros do telhado visível de dentro da mercearia, as aranhas teciam todas as noites as armadilhas para caçarem os insetos que tentavam por ali morar.

Nas paredes, algumas propagandas já bem antigas de cerveja, cevada e Skol. De cigarros continental e minister e um cartaz do lançamento do DKV 54, alvejantes Van San, biotônico fontoura, gillete persona...

Sem contar as fotos das decisões de São Paulo, Palmeiras, Santos, Flamengo...

Ao lado direito de quem entrava, em cima do canto do balcão, havia uma vitrine com doces caseiros e alguns doces industrializados. Doces de abóbora, de banana, pés-de-moleque, geleias, daquelas de duas cores, Bolachas Maria e Netinho que ficavam em latas de 20 litros de cor pinque.

Um vidro enorme ao lado da vitrine, com quatro bocas, seu Zé do Pinho guardava as balas as quais vendia-as por dúzia.

Na vitrine do balcão de madeira de jacarandá, algumas chupetas de plástico, empoeiradas pelo pó da estrada e que há anos estavam ali para serem vendidas.

Alguns pentes flamengo, duas ou três mamadeiras para bebês e um retratinho do antigo titular do empório: Seu Inácio Mendonça de Melo, falecido havia muitos anos.

Na parede de fundo da venda, alguns alumínios amarelados pelo tempo e sujo por falta de cuidados.

Dois quadros pendurados na parede, um do Sagrado Coração de Maria e outro de São Jorge.

Ambos do tempo em que o seu Inácio estava em total atividade.

Também existiam alguns produtos esmaltados, tais como pinicos, pratos, bules e chaleiras e alguns brinquedos de madeira, produzidos pelos presidiários da cidade.

No caixote de madeira com várias divisórias ficavam o arroz, o feijão, o açúcar, o fubá e a farinha.

Seu Zé do Pinho vendia esses produtos por quilo para a freguesia local.

Enquanto, querosene, álcool e azeite, ele vendia por lata.

Havia um consumo razoável por parte da clientela que morava próximo do empório.

E por falar em querosene, numa tarde dessas de chuvosas, chegou ao empório, seu Joaquim do Prado, um negro muito conhecido no lugar.

Entrou no empório, tirou o chapéu, encostou os cotovelos no balcão e disse:

- Cumpai Zé, vancê poi arrumá umas dua lata di crelosene peu levá, a di casa cabô.

Prontamente o seu Zé do Pinho foi atender o seu compadre e antigo freguês.

Enquanto isso, dona Feliciana, esposa do seu Zé do Pinho,

entrou num excesso de riso no fundo do empório.

Depois de respirar e ter domínio da situação ela disse:

- Cuitadu do cumpai Quim Tropero (apelido do senhor Joaquim do Prado), já tem mai de oitentanu e num prendeu inda falá creosena!

Seu Joaquim do Prado tomou uma cachaça da boa,

Colocou as duas latas de querosene na garupa do “Vadio”, um burro preto de estimação que ele tinha e sumiu "capinou" morro acima.

É isso aí!

Acácio Nunes

Acácio Nunes
Enviado por Acácio Nunes em 07/05/2014
Reeditado em 25/04/2017
Código do texto: T4798239
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