O CÓDIGO NEGRO
(Demi Lopes)
(Demi Lopes)
O frio era impiedoso e o vento açoitava as costas dos tristes presentes ali.
Era o enterro de Armand, filho pródigo da cidade e querido por muitos. Uma vida dedicada à arte e ao Whisky escocês. Morreu jovem vítima de uma bala que transfixou seu pulmão. Um fim injusto para alguém que sempre cultuou a paz.
Pierre Degault já havia passado dos quarenta e perambulava pela cidade em busca de trabalho. Os tempos de ouro onde tropeçava em emprego haviam acabado, agora era apenas um andarilho e frustrado artista de rua. Pouco conseguia com um retrato ali e outro ali. A depressão o assolava.
- Ah meu caro, agora estás em paz. – Meio embebedado, olha para o jazigo abaixo e chora a morte do amigo e mentor.
- Vá com Dios! – E tomou um belo gole de vodka.
Entre um gole e outro viu os poucos se afastarem e ficou ali olhando ainda e sozinho começou a andar devagar. O cemitério estava ermo quando apareceu uma silhueta ao longe vindo em sua direção.
Agora sim! Riu por dentro, que venham os fantasmas.
Forçou a vista e distinguiu um Senhor com andar vagaroso que vinha chegando mais perto e mais perto.
Quando estava ao seu lado lhe estendeu a mão. Olhos assustados e receosos, sem dizer nada lhe oferece algo.
Pierre olha o objeto em suas mãos e estranha aquele Senhor com olhar que lhe pareceu familiar.
- O que é isso vovô? Por que...
Mas tão estranho como apareceu, foi-se com a neblina e garoa.
Pierre ficou ali vendo o Senhor ir embora sem entender nada.
- Que loucura é essa meu amigo! – Falou sozinho.
Olhou o tablet em suas mãos, manuseou-o para tentar ligar, sem sucesso, mas que aparelho estranho, sem botões, preto, apenas com o visor e travado nos números 604800. Porra vovô, se funcionasse pelo menos.
- E funciona!
Uma voz soou vindo de trás da árvore que estava escorado.
Um homem igualmente de negro e chapéu surgiu do nada lhe dando um tremendo susto.
- O que? Quem é você?
- Não precisa saber quem sou, apenas saber por que estou aqui..
Pierre pegou a garrafa de vodka e jogou longe, olhou em volta, apenas ele e o cidadão no cemitério.
- Tchau... – Disse Pierre e saiu andando.
- Não quer saber pelo menos o que significa o código em seu bolso?
Pierre para, enfia a mão no bolso, retira o aparelho e volta para a aparição de terno:
- Ah isso. É seu? Tome, aquele velho me deu, acho que se enganou de pessoa.
- Não não, agora é seu.
- Meu? E pra que vou querer isso?... Nem funciona. – E deu risada.
- Pense bem... – Agora aquele homem chega mais perto de Pierre. – O que mais quer nesta vida?
Pierre enxerga aquele homem de negro, acha tudo muito estranho, seria uma brincadeira ou algo assim? Alguém queria lhe pregar uma peça?
Olha para o jazigo, pensa no amigão de tantas histórias que se fora.
Olha novamente para o homem e pensa: E por que não? Afinal não tinha ninguém mesmo para desabafar assim.
- Vida eterna. – Disse. – É isso que procuro.
O Homem ao seu lado ficou fitando-o por um tempo e nem o sibilo do vento se ouvia.
E Pierre completou:
- Mas quem não quer isso não é?
E caiu na risada.
Mas em seu intímo ele sabia que queria de verdade.
O Homem, a criatura, ou sei lá o que, disse:
- Ok Pierre. Preste atenção nos números e terá o que tanto quer.
E sumiu.
Pierre meio tonto não entendendo nada, tirou novamente o aparelho do bolso tentando devolve-lo mas já era tarde, não havia mais ninguém ali.
Percebeu que agora o “tablet” era como um cronômetro e os números estavam decrescendo: 604799, 604798, 604797...
Tratou de sair dali.
A luz do meio dia invade o pequeno quarto e a fresta na janela também faz o vento mostrar que ainda está frio. Tudo fica claro.
Pierre Degault abre os olhos.
Que pesadelo, pensa.
Ainda tonto se levanta e com gosto metálico na boca sorve o café de ontem na cozinha apertada. Se admira ao ver que dormira de paletó e gravata e se espanta ao ver que há algo em seu bolso.
Todo o sonho volta a sua mente e percebe que não tivera um pesadelo, foi tudo real, aquele objeto ainda está com ele e agora marcava 518700, 518699...
Que doidera era aquela.
- Aááá!
Pula para trás, bate a cabeça no armário, como era possível? No seu quarto novamente está o pesadelo.
- Olá Pierre. – Calmamente o homem de outrora lhe cumprimenta.
Mas como diabos ele entrou ali.
Pierre chacoalha a cabeça, tenta voltar a realidade. Acorda, acorda, diz pra si.
- Calma Pierre, não é um sonho, eu sou real, sou eu mesmo de ontem, lembra?
Agora ele visualizava melhor o homem de nariz muito fino, corpo atlético, voz macia e cabelos alinhados, parecia ter uns 35, 40 anos.
Mas era incompreensível ele ter entrado ali, como? De onde viera?
- O que é você? – Pergunta Pierre ainda atordoado.
- Ah desculpe. Me permita. – E o ajuda a se recompor. – Estou aqui para lhe explicar sua tarefa.
- Minha tarefa?
- Sim sim, o tablet, está vendo? Está decrescendo, são os segundos. – E o ajuda a verificar o visor do “tablet”.
- Começou em 604800 segundos e vai zerar em 7 dias. Todos os dias na mesma hora você tem apenas que apertar o botão lateral. Vê? – E mostra a ele. – Assim vai conseguir o que pediu, vida eterna.
- Peraí, peraí, não estou entendendo muito bem, quer dizer que eu fazendo isso terei o que pedi? Apenas isso?
- Sim, mas tem que apertar na hora certa. 604800 segundos dão 7 dias, todos os dias você tem que subtrair 24 horas, ou seja, 86400 segundos. Olhe o visor, vai ter que apertar em 518400 que dão certinho 24 horas.
- Aperte agora! – Grita com Pierre
Pierre viu o tablet e marcava 518400, instintivamente apertou o botão lateral que estava escondido.
O tablet apenas emitiu um “pi” e a contagem continuou decrescendo.
- Ok, amanhã mesma coisa: 432000 e assim por diante.
- E se eu não apertar? E se eu apertar antes ou depois?
- Antes no dia não terá efeito, mas se apertar depois ou não apertar...
O homem olha para Pierre em tom ameaçador mas sorri:
- Aí não vai ganhar seu prêmio, a vida eterna.
- Quem é você? – Pierre pergunta.
O homem aponta para a janela em direção ao céu, depois ao chão e depois ao redor.
- Me chame que eu apareço, me procure que me encontrará. Sou o que todo o Homem quer, o que todo Homem procura dia a dia. Olhe na rua e me verá, olhe em você e me verá. Seu olhos ficaram vermelhos e fitaram Pierre.
E incrivelmente o homem desaparece.
Pierre Degault fica parado por uns instantes tentando diluir tudo aquilo que presenciara, põe a mão na cabeça, olha para os números, tenta achar uma explicação lógica para tudo. Já sabia de quem se tratava. Então ele existia mesmo, não era história para criança dormir.
Naquele dia passou em casa trancado até de noite, seu pequeno apartamento no 2º andar estava silencioso, nem o barulho dos carros dos vizinhos ele ouvia, nem um som do apartamento ao lado, tudo quieto, parecia que o tempo parou. Só ele e aquele estranho tablet.
500000, 499999, 499998...
E assim novamente pegou no sono.
Pesadelo o assolaram, com ranger de dentes e gritos.
Acordou diversas vezes, e assim foi a noite toda, sem conseguir dormir direito. Já que não dormia mesmo fez as contas de quando teria que apertar o botão a cada dia. Riu... Caso fizesse isso.
Estava destruído pela manhã, mesmo assim teria que sair, era dia de tentar encontrar algum trabalho no centro da cidade, era onde ganhava alguns trocados. Seu trabalho era totalmente artístico, a cidade turística ajudava, as vezes fazia um bom dinheiro com retratos e quadros.
Olhou pela janela, o velho mendigo Carlos já estava subindo a rua, viu que a vizinha Dona Madalena acordou mais cedo que o habitual, o gato dela estava agitado também. Que miado estridente. O Telefone toca.
- Pierre! Sabe que dia é hoje? 27 esqueceu? – Do outro lado a senhoria cobrando o aluguel atrasado.
Mas ainda teria que fazer algo.
Olhou o tablet em cima da mesinha ao lado da cama, viu que o momento se aproximava. Pegou em suas mãos.
- Que ridículo isso! – Jogou em cima da cama e saiu batendo a porta.
Minha vida eterna enquanto durar está aqui ó, no meu suor. Bateu no braço.
O dia estava indo de mau a pior, alguns artistas também compartilhavam a praça com ele, mas diferentemente tinha clientes e um atrás do outro. Que má fase. Lembrou quando tinha o amigo Armand ao seu lado, tudo parecia mais fácil, as horas não eram tão vazias, suas palavras confortavam em momentos difíceis.
Chegou um rapazinho de uns 7 anos, sentou no banquinho ali para ser retratado. Era branquinho e cabelos lisos, olhos grandes.
- E então rapaz, vai querer um desenho ou um quadro à óleo?
O menino ficou parado olhando para ele e falou baixinho:
- Você não está executando a tarefa...
E depois completa:
- Um desenho só.
- O que? O que disse? – Pierre pergunta apavorado.
- Um desenho só.
Pierre se levanta, pega seu material e se afasta dali.
Os outros artistas estranham o fato dele sair rápido e de não ter tido nenhum cliente no dia. A garrafa de vodka vazia no chão. Um olha para o outro e balançam a cabeça.
Volta para seu apartamento. Nem percebe o tablet em cima de sua cama.
Droga! Droga! Droga.
O que está acontecendo? Preciso parar de beber.
Como o menino sabia? E quem era ele?
Abriu o armário e inaugurou outra garrafa. Em boas goladas sentou-se na cama e ligou a televisão, agora sim viu o tablet e o pegou nas mãos. Estava congelado nos números 432000 e uma luzinha piscando sem parar.
Cacete! Eu não quero apertar! Não sou obrigado.
Lá estava o número parecendo pedir para apertar o botão, igual ao menino e o homem de chapéu negro.
Jogou na parede e voltou à vodka.
Não sabia distinguir que horas eram, mas já passava das tantas da madrugada com certeza, arregalou os olhos, suor escorrendo. Levantou com Armand lhe gritando nos ouvidos em um sonho igualmente aterrador:
- Não execute a tarefaaaa!! Pierre!! Não aperte o botãooo!!
Depois vem a mente o homem de chapéu dizendo com muita educação e simpatia:
- Execute a tarefa Pierre, a vida eterna lhe aguarda.
Levantou, entrou no banheiro ligando a ducha gelada e entrou com roupa e tudo. Ficou ali por 30 minutos e foi ali que dormiu.
Abriu os olhos pois a luz o incomodava. Olhou pela janela, o velho mendigo Carlos já estava subindo a rua, viu que a vizinha Dona Madalena acordou mais cedo que o habitual, o gato dela estava agitado também. Que miado estridente.
Opa! Um Dejavú.
Estava mais disposto aquela manhã, foi ao banheiro escovou os dentes e tomou banho, fez café, viu o tablet caído perto da tv e estranhamente ainda piscava congelado.
O telefone toca. Pierre atende rapidinho antes de dar mais um gole no café forte.
- Pierre! Sabe que dia é hoje? 27 esqueceu?
Ele solta o telefone, pega seu celular e constata que ainda é dia 27.
- Meu Deus! – E lembrou das palavras do homem: “Se não apertar não vai ganhar seu prêmio”.
Então era assim, de um jeito ou de o outro tinha que apertar o botão, se não apertasse o tempo pararia, estava perdido, agora teria que ir até o fim.
Apertou o botão.
Seu dia foi tranquilo, conseguiu alguns retratos, teve muitos clientes e outros marcaram para o dia seguinte, os turistas não paravam de chegar. Sua sorte estava mudando, voltou sorridente pra casa, até entrou no bar do Rick.
Voltou cantarolando para casa.
Teve uma noite tranquila, nunca tinha dormido daquele jeito, como um anjo, sem pesadelos, sem pânico noturno, sem homens de chapéu.
Pela manhã prontamente pegou o tablet e apertou o botão no momento certo. Vamos lá, se tem que ser assim, vai ser assim.
E foi assim todos os dias. Botão apertado, trabalho, bar do Rick e casa. Tudo normal e em paz.
Foi no 5º dia que Pierre acordou cedo, fez o ritual de sempre e apertou o botão, estranhamente ele continuou congelado no número 172800. Apertou de novo, nada, de novo e de novo.
Droga!! Estou apertando e nada! – Gritou para as paredes, talvez esperando alguém responder.
Mas ninguém respondeu.
O dia novamente voltou a ser terrível, nada de dinheiro. A noite voltando para casa entra no bar do Rick.
- Uma orloff Rick.
Entre um gole e outro tenta ainda apertar o botão do maldito tablet.
Merda! Nada.
De repente a luz se apaga, o número volta a descrescer e aparece a frase embaixo na tela até então escura: TAREFA ATUALIZADA.
E estranhamente abre uma tela.
Na sequência aparece o número 518400 e em seguida um vídeo “escroto”.
Depois o número 432000 e outro vídeo igualmente horrível.
Nossa, pensou Pierre o que são estas coisas. Percebeu que eram os números que ele havia apertado, mas e aqueles vídeos o que significavam.
Ao seu lado estava o homem de chapéu negro.
- Alguma dúvida Sr. Pierre?
- Caramba! Que susto... Sim sim muitas dúvidas, o que é isso?
- Preste atenção nos números Sr. Pierre, são os segundos onde apertou diariamente até hoje, e também atenção aos vídeos.
- Sim entendi, mas estes vídeos.. Peraí. Nossa!
Os vídeos são medonhos.
O primeiro mostra como que algum amador filmando, um homem entrando em uma casa e atirando a queima roupa em uma criança ainda dormindo. Viu bem o rosto da menina loira antes que ela morresse.
O segundo vídeo, outra morte, uma Senhora atropelada por um caminhão. Que coisa horrível.
E assim ia, a cada número um vídeo mostrando algum tipo de tragédia humana.
- Sr. Pierre lembre-se o Sr. É responsável pelos seus atos. Em troca terá a vida eterna.
Pierre Degault sente o estômago revirar e percebe que a sequência termina mas começa de novo. O número que ele apertou é rapidamente relacionado ao vídeo em questão e assim sucessivamente.
São acontecimentos reais meu Deus! De alguma forma ele era o causador daquilo. Esse era o poder da máquina.
- Não! – Pierre grita com o homem – Eu não, não fui eu que causei isso.
- Veja Sr. Pierre, apenas isso pedi em troca, apertar o botão na hora certa. Mas não se preocupe, como o sr. tem milhares e milhares espalhados pelo mundo, todos em uma hora diferente e logo será em um segundo diferente, e foi fácil, de novo a ganância humana venceu, todos querem a vida eterna.
- Como é possível isso?
- Simples caro Pierre, quando vocês meus discípulos apertam o botão uma vez por dia, uma alma inocente é enviada para morrer nas mãos de algum demônio.
Pierre a ponto de desmaiar de tanto horror.
- E você o que quer?
O homem mostra os dentes:
- Eu quero almas, afinal sabe quem eu sou. – E sorri para ele.
Tudo passa na cabeça de Pierre.
Se livrar do tablet, sumir, fugir do país, ou até mesmo se matar. Não queria se sentir o responsável por áquilo tudo, quanta barbaridade. No caminho em uma atitude de fúria joga o tablet bem no alto que cai no rio que beira a praça.
Vai correndo, pela praça, pelas ruas até chegar em seu apartamento.
Quão surpreso e trêmulo fica ao constatar que o aparelho estava em cima de sua cama intacto.
Encontra refúgio na garrafa de Orloff, não sabe mais o que fazer.
Meu Deus! Meu Deus!
Os pesadelos voltam e muito mais claros. Em um deles aparece Clara, a menina loira morta no vídeo e a sra. Atropelada, todos bem deformados e dizendo com voz sofrida “Não aperte o botão Pierre” por favor, não aperte. Também Armand aparece dizendo o mesmo. Sua cabeça gira e acorda com olhos e rosto vermelhos suando muito.
Sexto dia.
Já passa de meio dia e ele ainda está largado no chão do quarto, bebeu o que tinha que beber e parecia um trapo humano, seu quarto estava um lixo. O tablet na mão a noite toda, restavam 086700 segundos. Ouvia pela décima vez o telefone tocar e o miado estridente em um ciclo sem fim.
Não vou apertar, não vou apertar desgraçado.
O choro veio, foi embora, as lágrimas secaram.
- Isso tudo é mentira! – Encontrou forças para se levantar e ir até a janela – Tudo mentira desgraçado.
Viu pela enésima vez o mendigo Carlos subindo a rua.
Gritou, mas não tinha mais voz. O dedo vacilava junto ao botão do tablet. Não aguentava mais.
86400, a luz veio.
Apertou o botão.
Neste exato momento ouviu um grito que veio da subida da rua. Carlos o mendigo caiu sem explicação. Muitos correram em direção a ele, mas Pierre já sabia que ele estava morto.
Meu prêmio está chegando, apenas mais um dia e estou livre.
Passou a noite acordado, a ansiedade era tanta que não queria tentar dormir. Era ele e sua companheira garrafa. E repetia como um mantra:
- Não vai me vencer demônio... Desgraçado. A vitória está chegando.
003600, 003599, 003598...
- Vida eterna, vida eterna.
Ergueu a cabeça e viu o dia que nasceu. Era um novo horizonte, uma nova perspectiva para ele, a batalha valera a pena.
000005, 000004, 000003, 000002, 000001, 000000.
Abriu os olhos bem devagar, estava tudo enevoado, maldita vodka, ainda vou parar de beber, pensou. Se sentia particularmente cansado, os ombros pesavam, as pernas doíam. Estranho, estava em pé e caminhando. Aos poucos a visão ia clareando, aos poucos enxergava aquele jardim e a árvore ao longe. Ainda estava com o tablet na mão, olhou o visor apagado, sabia que tinha que entregar o aparelho e algo lhe dizia que era para aquele homem escorado na árvore à frente. Seu prêmio com certeza o aguardava.
Foi se aproximando, chegou bem perto, parecia já conhecer aquele homem de costas. Estendeu a mão para ele. Meu Deus!
Ficou mudo, atônito, quando viu sua mão toda enrugada entregando o tablet ao mesmo tempo que enxerga o rosto do homem. Mas sou eu!
Meu Deus... Sou eu. O pavor o domina, fica horrorizado olhando para ele mesmo no que parecia um cemitério.
- Que isso vovô?
Não, não, não! – Um grito ecoa no cemitério para ninguém ouvir
Ao lado estão Armand, Clara, Carlos o mendigo e a Sra. Atropelada. As almas choram ao ver que Pierre havia conquistado a vida eterna.
Era o enterro de Armand, filho pródigo da cidade e querido por muitos. Uma vida dedicada à arte e ao Whisky escocês. Morreu jovem vítima de uma bala que transfixou seu pulmão. Um fim injusto para alguém que sempre cultuou a paz.
Pierre Degault já havia passado dos quarenta e perambulava pela cidade em busca de trabalho. Os tempos de ouro onde tropeçava em emprego haviam acabado, agora era apenas um andarilho e frustrado artista de rua. Pouco conseguia com um retrato ali e outro ali. A depressão o assolava.
- Ah meu caro, agora estás em paz. – Meio embebedado, olha para o jazigo abaixo e chora a morte do amigo e mentor.
- Vá com Dios! – E tomou um belo gole de vodka.
Entre um gole e outro viu os poucos se afastarem e ficou ali olhando ainda e sozinho começou a andar devagar. O cemitério estava ermo quando apareceu uma silhueta ao longe vindo em sua direção.
Agora sim! Riu por dentro, que venham os fantasmas.
Forçou a vista e distinguiu um Senhor com andar vagaroso que vinha chegando mais perto e mais perto.
Quando estava ao seu lado lhe estendeu a mão. Olhos assustados e receosos, sem dizer nada lhe oferece algo.
Pierre olha o objeto em suas mãos e estranha aquele Senhor com olhar que lhe pareceu familiar.
- O que é isso vovô? Por que...
Mas tão estranho como apareceu, foi-se com a neblina e garoa.
Pierre ficou ali vendo o Senhor ir embora sem entender nada.
- Que loucura é essa meu amigo! – Falou sozinho.
Olhou o tablet em suas mãos, manuseou-o para tentar ligar, sem sucesso, mas que aparelho estranho, sem botões, preto, apenas com o visor e travado nos números 604800. Porra vovô, se funcionasse pelo menos.
- E funciona!
Uma voz soou vindo de trás da árvore que estava escorado.
Um homem igualmente de negro e chapéu surgiu do nada lhe dando um tremendo susto.
- O que? Quem é você?
- Não precisa saber quem sou, apenas saber por que estou aqui..
Pierre pegou a garrafa de vodka e jogou longe, olhou em volta, apenas ele e o cidadão no cemitério.
- Tchau... – Disse Pierre e saiu andando.
- Não quer saber pelo menos o que significa o código em seu bolso?
Pierre para, enfia a mão no bolso, retira o aparelho e volta para a aparição de terno:
- Ah isso. É seu? Tome, aquele velho me deu, acho que se enganou de pessoa.
- Não não, agora é seu.
- Meu? E pra que vou querer isso?... Nem funciona. – E deu risada.
- Pense bem... – Agora aquele homem chega mais perto de Pierre. – O que mais quer nesta vida?
Pierre enxerga aquele homem de negro, acha tudo muito estranho, seria uma brincadeira ou algo assim? Alguém queria lhe pregar uma peça?
Olha para o jazigo, pensa no amigão de tantas histórias que se fora.
Olha novamente para o homem e pensa: E por que não? Afinal não tinha ninguém mesmo para desabafar assim.
- Vida eterna. – Disse. – É isso que procuro.
O Homem ao seu lado ficou fitando-o por um tempo e nem o sibilo do vento se ouvia.
E Pierre completou:
- Mas quem não quer isso não é?
E caiu na risada.
Mas em seu intímo ele sabia que queria de verdade.
O Homem, a criatura, ou sei lá o que, disse:
- Ok Pierre. Preste atenção nos números e terá o que tanto quer.
E sumiu.
Pierre meio tonto não entendendo nada, tirou novamente o aparelho do bolso tentando devolve-lo mas já era tarde, não havia mais ninguém ali.
Percebeu que agora o “tablet” era como um cronômetro e os números estavam decrescendo: 604799, 604798, 604797...
Tratou de sair dali.
A luz do meio dia invade o pequeno quarto e a fresta na janela também faz o vento mostrar que ainda está frio. Tudo fica claro.
Pierre Degault abre os olhos.
Que pesadelo, pensa.
Ainda tonto se levanta e com gosto metálico na boca sorve o café de ontem na cozinha apertada. Se admira ao ver que dormira de paletó e gravata e se espanta ao ver que há algo em seu bolso.
Todo o sonho volta a sua mente e percebe que não tivera um pesadelo, foi tudo real, aquele objeto ainda está com ele e agora marcava 518700, 518699...
Que doidera era aquela.
- Aááá!
Pula para trás, bate a cabeça no armário, como era possível? No seu quarto novamente está o pesadelo.
- Olá Pierre. – Calmamente o homem de outrora lhe cumprimenta.
Mas como diabos ele entrou ali.
Pierre chacoalha a cabeça, tenta voltar a realidade. Acorda, acorda, diz pra si.
- Calma Pierre, não é um sonho, eu sou real, sou eu mesmo de ontem, lembra?
Agora ele visualizava melhor o homem de nariz muito fino, corpo atlético, voz macia e cabelos alinhados, parecia ter uns 35, 40 anos.
Mas era incompreensível ele ter entrado ali, como? De onde viera?
- O que é você? – Pergunta Pierre ainda atordoado.
- Ah desculpe. Me permita. – E o ajuda a se recompor. – Estou aqui para lhe explicar sua tarefa.
- Minha tarefa?
- Sim sim, o tablet, está vendo? Está decrescendo, são os segundos. – E o ajuda a verificar o visor do “tablet”.
- Começou em 604800 segundos e vai zerar em 7 dias. Todos os dias na mesma hora você tem apenas que apertar o botão lateral. Vê? – E mostra a ele. – Assim vai conseguir o que pediu, vida eterna.
- Peraí, peraí, não estou entendendo muito bem, quer dizer que eu fazendo isso terei o que pedi? Apenas isso?
- Sim, mas tem que apertar na hora certa. 604800 segundos dão 7 dias, todos os dias você tem que subtrair 24 horas, ou seja, 86400 segundos. Olhe o visor, vai ter que apertar em 518400 que dão certinho 24 horas.
- Aperte agora! – Grita com Pierre
Pierre viu o tablet e marcava 518400, instintivamente apertou o botão lateral que estava escondido.
O tablet apenas emitiu um “pi” e a contagem continuou decrescendo.
- Ok, amanhã mesma coisa: 432000 e assim por diante.
- E se eu não apertar? E se eu apertar antes ou depois?
- Antes no dia não terá efeito, mas se apertar depois ou não apertar...
O homem olha para Pierre em tom ameaçador mas sorri:
- Aí não vai ganhar seu prêmio, a vida eterna.
- Quem é você? – Pierre pergunta.
O homem aponta para a janela em direção ao céu, depois ao chão e depois ao redor.
- Me chame que eu apareço, me procure que me encontrará. Sou o que todo o Homem quer, o que todo Homem procura dia a dia. Olhe na rua e me verá, olhe em você e me verá. Seu olhos ficaram vermelhos e fitaram Pierre.
E incrivelmente o homem desaparece.
Pierre Degault fica parado por uns instantes tentando diluir tudo aquilo que presenciara, põe a mão na cabeça, olha para os números, tenta achar uma explicação lógica para tudo. Já sabia de quem se tratava. Então ele existia mesmo, não era história para criança dormir.
Naquele dia passou em casa trancado até de noite, seu pequeno apartamento no 2º andar estava silencioso, nem o barulho dos carros dos vizinhos ele ouvia, nem um som do apartamento ao lado, tudo quieto, parecia que o tempo parou. Só ele e aquele estranho tablet.
500000, 499999, 499998...
E assim novamente pegou no sono.
Pesadelo o assolaram, com ranger de dentes e gritos.
Acordou diversas vezes, e assim foi a noite toda, sem conseguir dormir direito. Já que não dormia mesmo fez as contas de quando teria que apertar o botão a cada dia. Riu... Caso fizesse isso.
Estava destruído pela manhã, mesmo assim teria que sair, era dia de tentar encontrar algum trabalho no centro da cidade, era onde ganhava alguns trocados. Seu trabalho era totalmente artístico, a cidade turística ajudava, as vezes fazia um bom dinheiro com retratos e quadros.
Olhou pela janela, o velho mendigo Carlos já estava subindo a rua, viu que a vizinha Dona Madalena acordou mais cedo que o habitual, o gato dela estava agitado também. Que miado estridente. O Telefone toca.
- Pierre! Sabe que dia é hoje? 27 esqueceu? – Do outro lado a senhoria cobrando o aluguel atrasado.
Mas ainda teria que fazer algo.
Olhou o tablet em cima da mesinha ao lado da cama, viu que o momento se aproximava. Pegou em suas mãos.
- Que ridículo isso! – Jogou em cima da cama e saiu batendo a porta.
Minha vida eterna enquanto durar está aqui ó, no meu suor. Bateu no braço.
O dia estava indo de mau a pior, alguns artistas também compartilhavam a praça com ele, mas diferentemente tinha clientes e um atrás do outro. Que má fase. Lembrou quando tinha o amigo Armand ao seu lado, tudo parecia mais fácil, as horas não eram tão vazias, suas palavras confortavam em momentos difíceis.
Chegou um rapazinho de uns 7 anos, sentou no banquinho ali para ser retratado. Era branquinho e cabelos lisos, olhos grandes.
- E então rapaz, vai querer um desenho ou um quadro à óleo?
O menino ficou parado olhando para ele e falou baixinho:
- Você não está executando a tarefa...
E depois completa:
- Um desenho só.
- O que? O que disse? – Pierre pergunta apavorado.
- Um desenho só.
Pierre se levanta, pega seu material e se afasta dali.
Os outros artistas estranham o fato dele sair rápido e de não ter tido nenhum cliente no dia. A garrafa de vodka vazia no chão. Um olha para o outro e balançam a cabeça.
Volta para seu apartamento. Nem percebe o tablet em cima de sua cama.
Droga! Droga! Droga.
O que está acontecendo? Preciso parar de beber.
Como o menino sabia? E quem era ele?
Abriu o armário e inaugurou outra garrafa. Em boas goladas sentou-se na cama e ligou a televisão, agora sim viu o tablet e o pegou nas mãos. Estava congelado nos números 432000 e uma luzinha piscando sem parar.
Cacete! Eu não quero apertar! Não sou obrigado.
Lá estava o número parecendo pedir para apertar o botão, igual ao menino e o homem de chapéu negro.
Jogou na parede e voltou à vodka.
Não sabia distinguir que horas eram, mas já passava das tantas da madrugada com certeza, arregalou os olhos, suor escorrendo. Levantou com Armand lhe gritando nos ouvidos em um sonho igualmente aterrador:
- Não execute a tarefaaaa!! Pierre!! Não aperte o botãooo!!
Depois vem a mente o homem de chapéu dizendo com muita educação e simpatia:
- Execute a tarefa Pierre, a vida eterna lhe aguarda.
Levantou, entrou no banheiro ligando a ducha gelada e entrou com roupa e tudo. Ficou ali por 30 minutos e foi ali que dormiu.
Abriu os olhos pois a luz o incomodava. Olhou pela janela, o velho mendigo Carlos já estava subindo a rua, viu que a vizinha Dona Madalena acordou mais cedo que o habitual, o gato dela estava agitado também. Que miado estridente.
Opa! Um Dejavú.
Estava mais disposto aquela manhã, foi ao banheiro escovou os dentes e tomou banho, fez café, viu o tablet caído perto da tv e estranhamente ainda piscava congelado.
O telefone toca. Pierre atende rapidinho antes de dar mais um gole no café forte.
- Pierre! Sabe que dia é hoje? 27 esqueceu?
Ele solta o telefone, pega seu celular e constata que ainda é dia 27.
- Meu Deus! – E lembrou das palavras do homem: “Se não apertar não vai ganhar seu prêmio”.
Então era assim, de um jeito ou de o outro tinha que apertar o botão, se não apertasse o tempo pararia, estava perdido, agora teria que ir até o fim.
Apertou o botão.
Seu dia foi tranquilo, conseguiu alguns retratos, teve muitos clientes e outros marcaram para o dia seguinte, os turistas não paravam de chegar. Sua sorte estava mudando, voltou sorridente pra casa, até entrou no bar do Rick.
Voltou cantarolando para casa.
Teve uma noite tranquila, nunca tinha dormido daquele jeito, como um anjo, sem pesadelos, sem pânico noturno, sem homens de chapéu.
Pela manhã prontamente pegou o tablet e apertou o botão no momento certo. Vamos lá, se tem que ser assim, vai ser assim.
E foi assim todos os dias. Botão apertado, trabalho, bar do Rick e casa. Tudo normal e em paz.
Foi no 5º dia que Pierre acordou cedo, fez o ritual de sempre e apertou o botão, estranhamente ele continuou congelado no número 172800. Apertou de novo, nada, de novo e de novo.
Droga!! Estou apertando e nada! – Gritou para as paredes, talvez esperando alguém responder.
Mas ninguém respondeu.
O dia novamente voltou a ser terrível, nada de dinheiro. A noite voltando para casa entra no bar do Rick.
- Uma orloff Rick.
Entre um gole e outro tenta ainda apertar o botão do maldito tablet.
Merda! Nada.
De repente a luz se apaga, o número volta a descrescer e aparece a frase embaixo na tela até então escura: TAREFA ATUALIZADA.
E estranhamente abre uma tela.
Na sequência aparece o número 518400 e em seguida um vídeo “escroto”.
Depois o número 432000 e outro vídeo igualmente horrível.
Nossa, pensou Pierre o que são estas coisas. Percebeu que eram os números que ele havia apertado, mas e aqueles vídeos o que significavam.
Ao seu lado estava o homem de chapéu negro.
- Alguma dúvida Sr. Pierre?
- Caramba! Que susto... Sim sim muitas dúvidas, o que é isso?
- Preste atenção nos números Sr. Pierre, são os segundos onde apertou diariamente até hoje, e também atenção aos vídeos.
- Sim entendi, mas estes vídeos.. Peraí. Nossa!
Os vídeos são medonhos.
O primeiro mostra como que algum amador filmando, um homem entrando em uma casa e atirando a queima roupa em uma criança ainda dormindo. Viu bem o rosto da menina loira antes que ela morresse.
O segundo vídeo, outra morte, uma Senhora atropelada por um caminhão. Que coisa horrível.
E assim ia, a cada número um vídeo mostrando algum tipo de tragédia humana.
- Sr. Pierre lembre-se o Sr. É responsável pelos seus atos. Em troca terá a vida eterna.
Pierre Degault sente o estômago revirar e percebe que a sequência termina mas começa de novo. O número que ele apertou é rapidamente relacionado ao vídeo em questão e assim sucessivamente.
São acontecimentos reais meu Deus! De alguma forma ele era o causador daquilo. Esse era o poder da máquina.
- Não! – Pierre grita com o homem – Eu não, não fui eu que causei isso.
- Veja Sr. Pierre, apenas isso pedi em troca, apertar o botão na hora certa. Mas não se preocupe, como o sr. tem milhares e milhares espalhados pelo mundo, todos em uma hora diferente e logo será em um segundo diferente, e foi fácil, de novo a ganância humana venceu, todos querem a vida eterna.
- Como é possível isso?
- Simples caro Pierre, quando vocês meus discípulos apertam o botão uma vez por dia, uma alma inocente é enviada para morrer nas mãos de algum demônio.
Pierre a ponto de desmaiar de tanto horror.
- E você o que quer?
O homem mostra os dentes:
- Eu quero almas, afinal sabe quem eu sou. – E sorri para ele.
Tudo passa na cabeça de Pierre.
Se livrar do tablet, sumir, fugir do país, ou até mesmo se matar. Não queria se sentir o responsável por áquilo tudo, quanta barbaridade. No caminho em uma atitude de fúria joga o tablet bem no alto que cai no rio que beira a praça.
Vai correndo, pela praça, pelas ruas até chegar em seu apartamento.
Quão surpreso e trêmulo fica ao constatar que o aparelho estava em cima de sua cama intacto.
Encontra refúgio na garrafa de Orloff, não sabe mais o que fazer.
Meu Deus! Meu Deus!
Os pesadelos voltam e muito mais claros. Em um deles aparece Clara, a menina loira morta no vídeo e a sra. Atropelada, todos bem deformados e dizendo com voz sofrida “Não aperte o botão Pierre” por favor, não aperte. Também Armand aparece dizendo o mesmo. Sua cabeça gira e acorda com olhos e rosto vermelhos suando muito.
Sexto dia.
Já passa de meio dia e ele ainda está largado no chão do quarto, bebeu o que tinha que beber e parecia um trapo humano, seu quarto estava um lixo. O tablet na mão a noite toda, restavam 086700 segundos. Ouvia pela décima vez o telefone tocar e o miado estridente em um ciclo sem fim.
Não vou apertar, não vou apertar desgraçado.
O choro veio, foi embora, as lágrimas secaram.
- Isso tudo é mentira! – Encontrou forças para se levantar e ir até a janela – Tudo mentira desgraçado.
Viu pela enésima vez o mendigo Carlos subindo a rua.
Gritou, mas não tinha mais voz. O dedo vacilava junto ao botão do tablet. Não aguentava mais.
86400, a luz veio.
Apertou o botão.
Neste exato momento ouviu um grito que veio da subida da rua. Carlos o mendigo caiu sem explicação. Muitos correram em direção a ele, mas Pierre já sabia que ele estava morto.
Meu prêmio está chegando, apenas mais um dia e estou livre.
Passou a noite acordado, a ansiedade era tanta que não queria tentar dormir. Era ele e sua companheira garrafa. E repetia como um mantra:
- Não vai me vencer demônio... Desgraçado. A vitória está chegando.
003600, 003599, 003598...
- Vida eterna, vida eterna.
Ergueu a cabeça e viu o dia que nasceu. Era um novo horizonte, uma nova perspectiva para ele, a batalha valera a pena.
000005, 000004, 000003, 000002, 000001, 000000.
Abriu os olhos bem devagar, estava tudo enevoado, maldita vodka, ainda vou parar de beber, pensou. Se sentia particularmente cansado, os ombros pesavam, as pernas doíam. Estranho, estava em pé e caminhando. Aos poucos a visão ia clareando, aos poucos enxergava aquele jardim e a árvore ao longe. Ainda estava com o tablet na mão, olhou o visor apagado, sabia que tinha que entregar o aparelho e algo lhe dizia que era para aquele homem escorado na árvore à frente. Seu prêmio com certeza o aguardava.
Foi se aproximando, chegou bem perto, parecia já conhecer aquele homem de costas. Estendeu a mão para ele. Meu Deus!
Ficou mudo, atônito, quando viu sua mão toda enrugada entregando o tablet ao mesmo tempo que enxerga o rosto do homem. Mas sou eu!
Meu Deus... Sou eu. O pavor o domina, fica horrorizado olhando para ele mesmo no que parecia um cemitério.
- Que isso vovô?
Não, não, não! – Um grito ecoa no cemitério para ninguém ouvir
Ao lado estão Armand, Clara, Carlos o mendigo e a Sra. Atropelada. As almas choram ao ver que Pierre havia conquistado a vida eterna.
FIM