Em apenas uma única frase *
Quem poderia imaginar que escrever sobre o intrigante caso a respeito de três pessoas de sobrenome Obama que nunca se conheceram pessoalmente mas que realizaram cada uma fatos concomitantes, coincidentes e sincronizados, tais como durante a inesperada e fatídica ocasião em que tropas russas invadiram violentamente bases ucranianas sediadas na já conturbada Crimeia ontem à noite, e que ocorreu ironicamente ao mesmo tempo em que, há dezenas de milhares de quilômetros dali, ao vivo e em rede nacional de televisão e rádio, o presidente dos Estados Unidos Barack Obama – prêmio Nobel da Paz em 2009 – lia com veemência um polêmico discurso justamente sobre a nova política de estado referente ao aumento de intervenção militar americana em países estrangeiros, enquanto era assistido ansiosamente por mais de cento e cinquenta milhões de telespectadores compatriotas já cansados de financiar há décadas e à custa de altos tributos incursões militares duvidosas, quando, de repente, resolveu interromper a leitura sistematicamente ensaiada – sem saber que fora no exato instante em que um militar russo também de sobrenome Obama executava civis arbitrariamente nas ruas da capital Simferopol – para decidir fazer uso de sua influência política mundial por meio de um apelo pessoal espontâneo e genuíno rogando pela diminuição da violência e da intolerância no mundo, finalizando sua breve fala improvisada porém sincera considerando que o mundo, apesar de tantas guerras e massacres de natureza religiosa, étnica, política, territorial, ideológica ou de vingança enfim, é ainda e apesar disso um bom lugar para se viver e para se lutar por ele, embora não pensasse assim um terrorista também de sobrenome Obama, que também assistia ao pronunciamento do presidente via rádio, e que, também ao mesmo tempo em que dezenas de civis eram mortos pelo Obama russo, estava prestes a detonar uma bomba em um escritório das Organizações das Nações Unidas em Nova Jersey, mas que desistiu subitamente de executar o atentado ao ser sensibilizado pelo discurso repentino mas humanamente convincente do presidente americano, deixando, assim, de causar a morte de outras dezenas de civis inocentes, concluindo destarte o relato sobre esses três eventos simultâneos capitaneados por cada um desses três Obamas, terminasse por render trezentas e oitenta palavras neste presente conto composto de uma lauda e, além disso e o mais importante, composto em apenas uma única frase.
(publicado em: Palavra é Arte-Narrativas, 2017)