O Mais Triste Dos Ofícios

Olhos tristes dramaticamente choravam, aflitas lamúrias, lamentações sinceras, abraços emotivos cheios de compaixão, palavras consoladoras tentavam amenizar a condição de profunda infelicidade, mas tudo era inútil, sem sentido, nada mudava a trágica situação, todos que ali estavam sofriam as conseqüências da abrupta perda, todos solidários a dor latente e incorrigivelmente cruel, entre lágrimas o definitivo momento chegou, iniciou se o penoso sepultamento e o fúnebre trabalho de um homem com o coração de pedra, e de fato para se executar tal tarefa é necessário ter o coração de pedra; alma de gelo.

Sua alma de gelo fora esculpida ao longo dos anos, enterro após enterro, mas já no primeiro enterro percebeu a necessidade de isolar se das lágrimas dolorosas que invadiam seus olhos, seus sentimentos eram muitos, mas para um coveiro absorver a cada pá de terra a angústia fulminante da desoladora ocasião seria demais, para manter seu trabalho o pobre homem recolheu suas emoções no íntimo de suas entranhas, trancando-as em um inquebrável casulo.

Para muitas pessoas seria fácil largar o difícil meio de sustento, afinal todos nós temos escolhas a fazer, mas sabemos que não é bem assim, a vida é implacável e muitas vezes somos forçados a fazer o que não queremos, o homem em questão foi forçado, sem nenhuma alternativa, por não possuir estudo algum e nem qualquer outra qualificação, além de tudo ele tinha família, casará se muito cedo, devido á gravidez precoce de sua então namorada, com o casamento seus sonhos ficaram em segundo plano, para ele sobrou á profissão de coveiro, um digno trabalho, porém traumático, o homem sem escolha congelou seus sentimentos, seu coração sofria tortura por uma dor que não era sua, a culpa desta irremediável tortura era da vida que reservou lhe o mais triste dos ofícios.

Fabiano Sorbara
Enviado por Fabiano Sorbara em 15/03/2014
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