Abaixo à Navalha!
Passou que nem um raio pelo beiral da porta da cozinha atropelando a língua num - Saúde Mãe! - gaguejado. A porta do quarto bateu ligeira sacolejando até o tímpano velho da vovó que cochilava na sala. Na tevê o Domingão do Faustão começava em estreia – saudoso 89! Respirou fundo! Enxugou as mãozinhas suadas na camisa alviverde e retirou dos dois bolsos um pacote cada um. Meteu os dedos limpos no primeiro e sacou de lá todos aqueles recortes colecionados: Sócrates, Raul Seixas, Che Guevara, Belchior e Tim Maia. Com fita adesiva pregou todos eles na parede junto ao espelho. Sacudiu o outro pacote pardo em cima do colchão, desembrulhou a barra de sabão e a mergulhou entre as mãos na bacia. Aí que se conteve. Olhou incrédulo pro instrumento e pro espelho. E com as bochechas brancas de espuma gritou:
- Vem cá me fazer uma barba pai! Prá ser astro de bola já se poder usar bigode...