Expectativas e Coincidências
J. Silveira: - Hoje descobri que gosto de você.
M. Sant´anna - (silêncio)
J. Silveira: - Na verdade, hoje tive a certeza do quanto você é importante pra mim.
M. Sant´anna - (Olha para cima, olha para baixo)
J. Silveira: - Nos conhecemos em setembro de 2005. Ou teria sido em dezembro?
Não me lembro direito mas sei que quando conheci você, senti algo bom. Senti que seria uma pessoa inesquecível na minha vida.
M. Sant´anna - (Segue com os olhos um ônibus que passa em alta velocidade)
J. Silveira: - Trocamos algumas palavras por conta daquela enquete maluca que o Guedes formulou. Nada a ver, perguntar numa festa tão animada, quem seria a favor da pena de morte no Brasil. Simplesmente, fora de propósito. Mas como eu conhecia poucas pessoas e queria me enturmar, fui um dos primeiros a discordar, num tom calmo e respeitoso. Guedes, queria alguém que concordasse com sua opinião, quase que fascista, de condenar a morte todos os bandidos do Brasil. Conseguiu apoio de uma pessoa, se não me engano. Enfim, percebi um sorriso seu de aprovação, ao final do meu breve discurso e ganhei a noite.
M. Sant´anna - (Olha Silveira nos olhos)
J. Silveira: - Mas percebi que você não estava só e fiquei sem graça de puxar assunto com você. A segunda vez que nos vimos, foi no metrô. Eu estava indo para zona norte e você para zona sul. Nos olhamos e dei um "tchau" com a mão direita e você balançou a cabeça positivamente. E logo o seu trem chegou e você embarcou. A terceira vez também foi rápida. Eu fazendo a prova para a Prefeitura na Uerj e num momento de dúvida sobre uma questão de português, olhei para a porta e vi você passando. Três segundos foi o tempo de duração do seu percurso. Dessa vez, só eu vi você.
M. Sant´Anna (Continua olhando Silveira, mas com mais indiferença)
J. Silveira: Ali, eu percebi que tinha que conhecer você. Eram encontros rápidos, era como se a vida me dissesse: "É o seu futuro! Corra atrás!". Nunca acreditei em coincidências. Concluí, então, que um dia você faria grande parte dos meus dias.
M. Sant´Anna - ( Expressão indiferente muda para espanto )
J. Silveira: Mas de abril de 2007 até fevereiro de 2008 não tive mais esses encontros inesperados com você. A última vez foi em Março, naquela festa, da sua prima que fiz aquela besteira.
M. Sant´Anna - ( Olha o relógio e a expressão fica mais áspera )
J. Silveira: Ah, outra coincidência. Sua prima fez faculdade comigo, saímos algumas vezes e ela nunca mencionou você.
M. Sant´Anna - Tenho que ir embora ! ( Fala com tom forte )
J. Silveira: - Ei, espera, deixa eu me desculpar por aquela besteira. É preciso.
M. Sant´Anna: - Não é preciso. O que é preciso saber é que não há como eu ser importante na sua vida. Só me viu umas cinco vezes na vida. Você não me ama, apenas cismou comigo.
J. Silveira: ( Fica em silêncio )
M. Sant´Anna: - Já esqueci aquela besteira toda. Era uma festa idiota, com gente idiota e você não passava de mais um ser imbecil.
J. Silveira: - Desculpa, vamos recomeçar.
M. Sant´Anna: - Chega! Não há o que recomeçar. Talvez a única que coisa que concordemos seja sobre a pena de morte no Brasil e mais nada. Você criou expectativas alucinadas. Em três anos, conversamos rapidamente uma única vez, nos esbarramos outras poucas e nada mais.
J. Silveira: - Ok. Desculpa. Você deve ter razão mesmo. Fiquei meio desequilibrado após a morte repentina do meu irmão. Uns 15 dias atrás. Desculpa, estou meio perdido.
M. Sant´Anna: - Olha, sinto muito pela sua perda. Desejo que você se recupere logo mas agora partirei.
J. Silveira: - Tudo bem. Mas, nem isso lhe sensibiliza ?
M. Sant´Anna: - Não. A perda é sua e eu não gosto de pessoas desequilibradas. Ficarei feliz se nunca mais encontrar você nessa existência. Viajo para Europa amanhã e pretendo não mais voltar!
J. Silveira: - E por acaso seria Paris seu destino ?
M. Sant´Anna: - Sim. Por que ? - (Espanta-se)
J. Silveira : ( Ri. Ri maior. Ri em grande escala)
M. Sant´Anna: - O que foi ? Qual é a graça ?
J. Silveira: - Minha firma me transferiu para lá em Maio. Nos esbarramos na Torre Eiffel. Boa tarde.