A velha paixão
O dia é trinta de dezembro, o ano dois mil e quatro. Um senhor está sentado a mesa de um bar, seu nome é Alcides. Todos os dias, o solitário senhor está ali, parado a pensar na noite do dia trinta de dezembro de mil novescentos e setenta e quatro.
Estava ele, naquele mesmo bar, sentado junto com dois amigos. Estavam bebendo cerveja e jogando papo pro ar quando aconteceu um acidente: um carro desgovernado se chocou de frente com um poste. A motorista nada sofreu, só saiu meio abalada de dentro do carro e o jovem Alcides foi a seu encontro.
Seus amigos estranharam quando Alcides começou a conversar com a garota. O rapaz era tímido e de díficil entrosamento. Como poderia puxar assunto com alguém que nem conhecia?
A garota tinha um pouco mais de um metro e sessenta de altura, possuia olhos tão azuis quanto o céu num belo dia ensolarado. Eram tão brilhantes que de longe se notava suas radiações. Seus cabelos morenos eram mais escuros do que a noite. Os lábios carnudos e molhados completavam aquele rosto angelical. Alcides foi chegando e dizendo:
-Você está bem Carla? Não se machucou?
-Não, não! Está tudo bem! Só foi um susto, mas... como você sabe meu nome?
-Eu reconheci seu rosto. Estudamos juntos na sexta série. Você não se lembra de mim? Eu sou o Alcides, aquele menino do fundo da sala que pouco conversava.
-Oh! Me desculpe, é que já fazem oito anos e éramos tão pequenos. Sei quem você é mais já não me lembrava de seu rosto. Como você me reconheceu?
Dando um suspiro, o rapaz deu uma pequena pausa e recomeçou a falar com a garota:
-Carla... durante estes oito anos eu me arrependi profundamente de não ter lhe falado uma coisa. Eu era apaixonado por você, mas não tinha coragem de dizer e acredite se quiser, ainda sonho com você. Tudo o que faço penso em você. Se vou a praia penso como seria ter você tomando banho de sol ao meu lado. Quando chego em casa, penso em como eu seria recebido por seus beijos. Você é a pessoa que eu mais gosto neste mundo apesar de nunca termos conversado um com o outro. É um amor platônico, mas é um amor que me mantém vivo. Eu queria ter lhe dito isto há oito anos atrás, mas minha timidez não deixou. Hoje já não sou tão tímido e por isso não quero perder esta oportunidade. Não me interessa o que você vai pensar sobre tudo isso que estou te falando, mas preciso pelo menos tentar, senão jamais serei feliz. Você é a garota mais linda que já vi. Entre todas as estrelas do céu, você é a que mais se destaca, mesmo estando na terra. Não sou um cara romântico, mas estou disposto a decorar um livro de poesias para te declamar toda noite, durante o resto de nossas vidas.
Nisso a garota se emocionou e sem exitação respondeu ao rapaz:
-Infelizmente é tarde! Se você tivesse me dito essas palavras há oito anos atrás, quem sabe não estariamos juntos até hoje? Eu era caidinha por você, mas tinha receio de lhe dizer alguma coisa. Você era muito quieto. Eu gostava de você e poderia até sair com você agora, mas olhe meus dedos. Vê a aliança? Me casei mês passado.
Essas últimas palavras foram como choques de três mil volts para Alcides que se virou e seguiu em direção aos dois amigos. Pegou um papel e escreveu um bilhete com os seguintes dizeres:
"Te esperarei aqui, neste mesmo lugar, durante todos os dias de minha vida. Se seu casamento não der certo venha para cá, pois estarei esperando. Pode levar o tempo que for: cinqüenta, até cem anos. Estarei aqui. Lhe desejo toda felicidade do mundo".
Alcides