A DECISÃO - PARTE II
Em 1995, no último ano da faculdade, Alexia apaixonou-se por um professor, e foi com ele que conheceu o amor em todas as suas facetas, porém a relação acabou não dando certo. Infelizmente, esse seria o primeiro de alguns amores frustrados.
Uma semana após sua formatura, Alexia foi à casa da sua primeira professora de inglês para dar uma ótima notícia. Ela conseguira uma bolsa de estudos pela Comissão Fulbright, dos Estados Unidos, por ter tirado o PRIMEIRO lugar num concurso com estudantes de Direito do mundo inteiro. E como prêmio, iria passar dois meses estudando na Universidade de Georgetown, em Washington, D.C. Sua professora não cabia em si de alegria e orgulho por ver que aquela menininha estava alçando grandes voos.
Pouco depois da sua volta ao Brasil, Alexia começou a trabalhar em um escritório de advocacia no centro do Rio, e logo, emendou com o mestrado. Como advogada e aluna, tudo ia bem, mas o mesmo não se podia dizer da sua vida amorosa. Um dia, ao acordar, ela se descobriu com quase 40 anos, e sozinha. Será que seria para sempre? Será que não teria a sorte de amar um cara legal, e de constituir a família que tanto sonhara? Pensava nisso por algum tempo, mas logo depois guardava essas indagações em um cantinho da sua cabeça. Com a família que tinha, fora forçada a aprender a ser prática e objetiva. Não adiantava nada ficar conjecturando sobre coisas sobre as quais não tinha nenhum controle.
Em janeiro de 2011, Alexia levou sua avó para fazer o check-up anual com o Dr. Nunes, médico que a acompanhava há anos. Durante a consulta, ele percebeu que a tireoide de D. Maria estava maior do que o normal. Pediu uns exames, e assim que eles ficaram prontos, elas foram vê-lo novamente. O médico, então, achou melhor encaminhar a paciente para outro colega porque, ao que tudo indicava, era caso de cirurgia. Alexia tentava demonstrar confiança na frente da avó, mas, a verdade é que, estava apavorada com a possibilidade de ser uma coisa séria. É lógico que sabia que sua avó não iria durar para sempre, mas a perspectiva de perdê-la era angustiante. Seu pai e seu avô já não estavam mais nesse mundo, e quanto a sua mãe? Bem, as coisas haviam mudado um pouco já que as duas agora se viam mais amiúde, porém não se podia dizer que eram grandes amigas.
No dia da consulta com o cirurgião – o Dr. Daniel, Alexia levou todos os exames. D. Maria parecia estar otimista, e tentava tranquilizar a neta. Ao entrar no consultório Alexia, que estava esperando encontrar um senhor da mesma idade do Dr. Nunes, deparou-se com um homem de seus quarenta anos. Embora ela estivesse tensa, não pôde deixar de notar que ele era bem apessoado e simpático. Parece que a atração foi mútua, pois ele quase não desviava o olhar de seu rosto. Ficava admirando-a e sorrindo. D. Maria, que não era boba nem nada, e que tinha muita experiência de vida, só fazia observar, quieta.
Marcaram a cirurgia, e tudo correu bem. Enquanto Alexia esteve no hospital com a avó, Dr. Daniel sempre dava uma passadinha no quarto para ver a paciente. Além disso, sempre que possível, ele descia para tomar um café com Alexia. Numa dessas conversas na cafeteria, ele pediu para que ela deixasse de chamá-lo de doutor. Nesse mesmo dia, ela ficou sabendo que ele era separado, mas não tinha filhos. Daniel, então, convidou-a para jantar na sexta-feira. Os dois acabaram “ficando”, afinal, ele era bonito, inteligente e sedutor. Que mais havia de querer?
Umas três ou quatro semanas se passaram até que um dia, durante o café da manhã na casa de Daniel, Alexia foi pega desprevenida. Ele comentou que faria um curso de três meses em Porto Alegre, RS. Nesse meio tempo, não tinha como vir ao Rio, portanto, os dois iriam se comunicar por Skype, e e-mail. Alexia ficou tão desorientada que não sabia o que pensar, mas não havia nada a fazer.
Passados quase dois meses da viagem de Daniel, tudo parecia estar, relativamente, bem entre o casal. Num sábado, Ana Paula convidou Alexia para irem, à noite, a um bom restaurante em Ipanema, para tomarem um vinho. As duas estavam botando o papo em dia quando, ao olhar casualmente para a porta, Alexia viu Daniel entrar, acompanhado de um casal. Primeiro, ela ficou surpresa. Depois, falou indignada com Ana.
- Que cara de pau! Ele chega ao Rio, não me diz nada, e vem jantar com amigos aqui, tão perto da minha casa!
- Calma, Alexia. Veja lá o que você vai fazer.
Alexia levantou-se de súbito e foi até a mesa dele. Como ele estava sentado de costas para ela, não a viu chegar. Ela se abaixou um pouco e abraçou-o por trás. Ele virou-se para ver quem era. Foi, então, que Alexia reparou que embora parecidíssimo com Daniel, aquele homem não era o médico.
- Mil desculpas. Pensei que era um amigo. – disse ela sem graça.
- Não tem problema. Isso já me aconteceu antes. Meu nome é Felipe e você deve ter me confundido com meu irmão gêmeo, Daniel. Não fique tão sem jeito.
- Mais uma vez, me desculpe.
- Só desculpo se você sentar aqui conosco. Você está sozinha?
- Não, com uma amiga.
- Então, chame-a para cá. Esse cara aqui é meu amigo de infância, e ele acaba de me dizer que vai se casar com essa ruivinha. Eles namoram há cinco anos. Ainda por cima, ele me convidou para padrinho! Estou tão feliz que hoje é por minha conta. Por favor, convença sua amiga a sentar-se conosco. Faço questão.
Já que Alexia e Ana Paula não tinham nada a perder, acabaram se juntando ao grupo, e foi uma noite muito agradável. Felipe era um bom papo, brincalhão e extrovertido como o irmão. Ao final da noite, ele convidou as duas moças para caminharem, no dia seguinte, na Lagoa, mas Ana foi rápida, e inventou logo um pretexto para não ir.
No domingo, Alexia foi se exercitar com Felipe. Enquanto andavam, ele lhe perguntou como conhecera o irmão. Ela contou a verdade sobre o caso da avó, porém omitiu o fato de que os dois eram um pouco mais do que simplesmente amigos.
Uma semana após aquele encontro casual no restaurante, Alexia estava sem saber o que fazer. Por um lado, sentia-se culpada, por estar atraída por Felipe, mas por outro, Daniel já estava fora há algum tempo. Além disso, quem poderia garantir que o médico estava sendo fiel a ela, e que não estaria saindo com alguma gaúcha? Será que eles ficariam juntos quando ele voltasse ao Rio?
Como Felipe estava de férias, ele e Alexia viam-se com frequência, e com o passar dos dias, eles foram se aproximando. Ela ficou sabendo que ele era engenheiro de produção numa plataforma de petróleo, na Bacia de Campos. Havia se casado, e tivera um filho, porém sua mulher havia morrido num acidente de carro. Ele criava o menino com a ajuda dos pais, já que, no regime de embarque, ficava quatorze dias fora, e vinte e um em terra.
Uma noite Felipe levou Alexia para dançar. Ela, então, não pôde mais resistir ao seu charme, e foi com um misto de remorso e excitação que acabou se deixando beijar e, mais tarde, foi parar em sua cama.
Numa quinta-feira, duas semanas depois, Alexia se despediu de Felipe, que iria embarcar no dia seguinte. Ela acordou bem disposta, e quando estava se preparando para ir para o trabalho, o telefone tocou. Era Daniel que tinha uma novidade para contar. Havia recebido uma proposta irrecusável para trabalhar em Caxias do Sul, na serra gaúcha. Ele também havia sentido muito a falta dela, e por isso queria saber se ela estaria disposta a ir com ele. Era bem verdade, que ele não estava propondo casamento ainda, mas poderiam tentar viver juntos. Se desse certo, quem sabe? Alexia ficou desconcertada, pois não contava com isso, e disse que precisava pensar antes de responder.
Alexia passou boa parte do dia lembrando ora de um irmão, ora de outro, e quando foi à noite, quem ligou foi Felipe. Ele disse que estava com saudades e que pensara muito neles. No seu próximo desembarque, iria abrir uma exceção, e iria apresentá-la ao filho. Desde que a mãe de Gabriel morrera, há dois anos, que ele procurava poupar o menino, pois tinha medo que o garoto se apegasse a sua namorada. E se o namoro acabasse? Seria uma nova perda para uma criança de apenas três anos. Alexia ficou ainda mais perturbada. Isso era prova de que ele realmente estava levando fé no relacionamento dos dois. No entanto, ela argumentou que achava cedo demais para encontrar Gabriel, mas deixou claro que gostava muito de crianças.
Quando Alexia desligou o telefone, parecia que sua cabeça ia explodir. Tomou uma aspirina, trocou de roupa e deitou-se. Ficou pensando, pensando até que, de repente, lembrou-se da cartomante. Era isso! Essa era a decisão importante que teria que tomar. De um lado, Daniel em Caxias do Sul, na serra gaúcha, do outro lado, Felipe, no meio do oceano Atlântico – montanha X mar. Sentiu um frio na espinha, afinal, precisava pensar com cuidado em seus sentimentos, e nos prós e contras de cada um dos irmãos.
Alexia passou quase a noite toda acordada, estudando a situação. Quando levantou, no entanto, já havia tomado sua decisão. Ao passar pelo quarto da avó, em direção à cozinha, notou que D. Maria já estava de pé, arrumando a cama. Parecia estar bem feliz e cantarolava uma música de Dorival Caymmi, que começava assim: “Minha jangada vai sair...” Alexia não pôde deixar de sorrir, essa sua avó era um espanto!