A DECISÃO - PARTE I
Às doze horas e quarenta minutos, do dia 20 de outubro de 1973, nascia Alexia, em uma clínica, no Rio de Janeiro. Sua chegada a este mundo foi motivo de alegria, pois era uma menina bonita e saudável. No entanto, havia um quê de preocupação no ar. Seus pais tinham sido obrigados a casar por conta da gravidez precoce, mas por serem ainda imaturos, não estavam preparados para lidar com as responsabilidades que um filho acarreta.
Com apenas dezessete anos, Bia - a mãe- era quase uma “patricinha”, só não tinha muito dinheiro. Achava o colégio um “saco”, e sempre que podia matava aula para ir à praia. Costumava ficar lá até o pôr do sol a não ser que tivesse algum programa à noite. Nesse caso, vinha mais cedo para casa, para dar tempo de ir ao salão fazer as unhas e uma escova básica. Foi num desses eventos noturnos que conheceu Caíque, um surfista, de dezoito anos.
O encontro dos dois foi uma explosão de sensações, e nove meses depois, chegava Alexia. Embora os pais de Caíque tenham acolhido os três em sua casa, o casamento durou pouco. Com a separação, Bia foi embora, deixando o bebê para trás. A verdade é que Bia queria sua liberdade de volta, afinal, como ela mesma dizia, não pedira para ser mãe.
Quanto a Caíque, mal terminou o cursinho supletivo, seus pais trataram de arrumar um emprego para ele, porém não dava certo em lugar nenhum. O que ele realmente queria, era sair pelo mundo com uma prancha debaixo do braço, e nesse sonho, não havia lugar para um bebê.
Quando Alexia estava com seis meses, seu pai participou de um campeonato de surfe em Saquarema, no RJ. Pegou boas ondas em todas as baterias, e chegou à final. Ao vencer, levou um troféu para casa assim como um prêmio em dinheiro, e o patrocínio de uma loja de roupas para surfistas. Caíque, então, partiu em busca das grandes ondas. Com a menina, ficaram os avós paternos.
Aos cinco anos, Alexia foi matriculada em um colégio particular, e foi com facilidade que aprendeu a ler e a escrever. Pouco depois, começaram as aulas de balé.
Ao completar sete anos, a menina começou a fazer aulas de inglês com uma professora que morava em seu prédio. Embora tivesse jeito para línguas, Alexia não parava quieta na cadeira. Um dia, sua borracha da Moranguinho caiu debaixo da mesa. Ela deu um pulo, e “mergulhou” como um peixinho. Foi, então, que fez uma descoberta incrível. A parte debaixo da mesa de jantar da professora estava toda desenhada com giz. Aquele pedaço de madeira havia sido seu primeiro “quadro negro”. Alexia se encantou tanto por aquele espaço mágico que não queria sair de lá. A professora, usando de psicologia, propôs um acordo. Ela poderia ficar tendo aulas ali pelo tempo que quisesse, contanto que, fizesse tudo que a sua mestra mandasse. E foi assim que a menina foi aprendendo inglês até que, um dia, resolveu se sentar na cadeira – já não era mais criança. Algum tempo mais tarde, sua professora sugeriu que tivesse aulas num curso de idiomas, pois achava que ela precisava conviver com gente jovem, e lá se foi Alexia para uma nova etapa da sua vida.
Os anos foram passando, e de vez em quando, Caíque aparecia à procura de dinheiro, pois já não era tão fácil “descolar” um patrocínio. O rapaz foi ficando deprimido, porque enquanto os caras de sua idade tinham um bom emprego, ele vivia de biscates aqui e ali. A bebida, então, passou a ser sua válvula de escape. Enquanto isso, Bia, que havia acabado apenas o segundo grau, casara-se novamente, porém não teve filhos com o segundo marido. Também pudera! Ela mal via Alexia, por que haveria de colocar outra criança no mundo?
Apesar dos pesares, Alexia não era uma adolescente revoltada. Pelo contrário, era excelente aluna, mas nem por isso deixava de frequentar a praia ou o cinema. No entanto, teve um grande baque quando, aos quinze anos, seu avô faleceu. Para ela, ele, sim, representava a figura paterna. Algum tempo depois, seu pai também se foi. Num dia de bebedeira, Caíque foi atropelado na Avenida Sernambetiba, na Barra, em frente à praia. Ele ainda chegou vivo ao Hospital Lourenço Jorge, mas após algumas horas, veio a morrer. Para Alexia, aquilo era um tanto assustador porque agora só restara sua avó paterna – seu porto seguro.
Ao entrar para a faculdade de Direito, Alexia veio a conhecer aquela que viria a ser sua melhor amiga - Ana Paula - uma garota bastante interessada em mapa astral, tarô, e coisas semelhantes. Após duas semanas de aulas, Ana convenceu Alexia a acompanhá-la numa visita a uma cartomante. Enquanto Ana fazia muitas perguntas sobre seu futuro, Alexia se mantinha calada. No final da consulta, Ana implorou à Madame Zara:
- Por favor, veja o que as cartas dizem para minha amiga.
Primeiro, a cartomante olhou bem fixo para Alexia, depois, embaralhou as cartas, e disse:
- Escolha uma.
Alexia assim o fez. Madame Zara pegou a carta, estudou-a e profetizou:
- Você vai ter que tomar uma decisão muito importante, entre o mar e a montanha, mas você fará a escolha certa.
Ao saírem da casa da mulher, Ana Paula estava bastante entusiasmada com as suas previsões. Quanto à Alexia, ficou confusa com o seu presságio, porém achou que era bobagem ficar pensando naquilo, e deixou para lá.