GUERRA (parte 1) - O PALCO DO FIM

 
Passos apertados rumo a um local seguro. O suor incessante escorre sem demora pelo meu rosto sujo de lama e Sangue. Meu corpo, com avançada exaustão, reclama e reage com sofreguidão aos meus Comandos. Mas preciso reagir, minha vida depende disso. Preciso rever minha família, preciso voltar para casa e sair deste inferno onde fui obrigado a adentrar representando a uma Bandeira e seus interesses Políticos.
 
Os sons das rajadas contínuas das metralhadoras e fuzis se fundem às explosões provocadas pelas granadas e outros explosivos que vem destruindo tudo o que tem vida em seu raio de ação. Os gritos dos atingidos enchem o ar de agonia, dor e desespero. Aliados e inimigos urram em coro, uníssonos, antes de seus corpos caírem mudos e mutilados ao chão.
 
Estamos em guerra! Minhas lágrimas caem diante à culpa de ter que tirar uma vida; mas é preciso, pois o Inimigo se aproxima e está à minha procura, assim como eu estou à dele.
 
Finalmente, encontrei um local que possa me proteger. Me aconchego entre os grossos troncos caídos de uma árvore mutilada. Preparo, aponto meu fuzil e começo novamente o abate. Cada tiro do meu fuzil é uma vida que estou tirando, é um filho que perde seu Pai e um Pai que perde seu Filho. As lágrimas continuam a descer.
 
Outro companheiro chega ao meu lado. Sinto um grande alívio ao vê-lo com vida, ainda mais por estar perto e com munição suficiente para me ajudar, e assim, nos proteger. Nos encaramos por um breve momento. Palavras não foram ditas, não precisavam ser ditas; vimos um no outro o desespero e o medo, mas também o alívio de termos nos encontrado.
 
Infinito foi o tempo que me pareceu naquele local, meu companheiro foi baleado e jazia morto ao meu lado. Me deixando todo o seu legado: a munição. Não demorou muito para que esta também acabasse, me deixando apenas com minha faca de lâmina afiada e faminta a cortar quaisquer tecidos em que tocasse.
 
Saí dali e me escondi em tocaia, pronto para pular em cima do primeiro inimigo que encontrasse. Não demorou muito para o encontrar, mas este deve seu fim antes mesmo que pudesse me ver. Ele não estava só, seu companheiro que vinha logo atrás me atingiu no Peito. Não senti dor, apenas uma estranha sensação de peso em meu corpo que, aos poucos, foi saindo de meu controle, ficando pesado, insuportável.
  
Antes de fechar meus olhos, pude olhar a fronte de meu assassino e notar que ele também lamentava em seu íntimo por ter tirado minha vida, por ter perdido seu companheiro em minha lâmina e, acima de tudo, por estar naquele local de onde, provavelmente, também não sairia com vida.

Apaguei...
 


 
( Continua no texto: "GUERRA (parte 2) - O OUTRO LADO" )
 
William Holanda Mesquita
Enviado por William Holanda Mesquita em 30/08/2013
Reeditado em 03/09/2013
Código do texto: T4458318
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