Sala Prateada
06:32 AM
12 de Junho de 2005
Departamento de Segurança Nacional, Brasil.
— Seu nome, por favor?
Conhecida como Dra. Zelda, a mulher que iniciava o interrogatório pestanejou, calculando o numero de movimentos que o homem a sua frente produzia tentando se ajustar entre os aparelhos do polígrafo. “Eu faria a mesma coisa” pensou ela, ao erguer a cabeça e encarar os olhos negros que guardavam as mentiras mais cobiçadas do mundo.
— Acho que você já sabe meu nome!— Respondeu ele entoando sua língua materna, o árabe.
— Portuguese! — Uma voz eletrônica berrou ordens do Pequeno Autofalante.
— Acho que você já sabe meu nome! — Cambaleou ao tentar falar português, revelando seu sotaque e o seu pouco conhecimento sobre essa língua.
— Adir, creio que o senhor, ou melhor, Vocênão fala português fluentemente e que também já conhece meu velho amigo! — Descontraindo ela levou a mão sobre uma pequena caixa de metal que detectava mentiras e soprava o ar responsável pelo aquecimento indesejado da Sala Prateada.
A Sala Prateada, apelido carinhoso que o Departamento de Segurança Nacional (DSN) usava para definir a recinto central de interrogatórios. Composta apenas por uma mesa metálica e um imenso espelho que possibilitava a visualização dos que permaneciam ali dentro, a Sala Prateada salvava vidas . Dra. Regina Zelda Alves, respeitada por sua frieza e determinação nos trabalhos em campo, conduzia a investigação de um dos terroristas mais procurados do mundo: Issa-Faizel. Criado como um dos filhos dele, Elias Adir, fora aprendido tentando fugir pela fronteira Argentina e agora era a principal fonte da investigação. Seu corpo, já maltratado por interrogatórios anteriores, estava coberto por roupas comuns e imundas que possuíam o propósito de encobrir suas descendências culturais e religiosas. A ampla iluminação da Sala se perdia na profundidade dos melancólicos olhos de Adir, o rosto amargo e mal desenhado aparentava estar coberto por barro e sua boca, riscada pelos maus tratos do tempo, não era tocada pela água há dias.
— Not! — Adir reverenciou o detector de mentiras.
— Preciso apenas que você responda sim ou não. — Dra. Zelda sorriu transpassando a confiança necessária para arranjar respostas.
— Seu nome é Elias Kamal Adir? — Perguntou ela, esperando uma confirmação imediata. A ausência de som ocupou o lugar da voz de Adir e tornou-se um obstáculo a ser ultrapassado.
— Adir... Eu preciso de respostas! Colabore e você será recompensado, acredite em mim. Você não sabe o que essas pessoas são capazes de fazer por algumas respostas. — O silêncio permanecia inerte e sem nenhum indicio de ser vencido.
— Kamal, por favor...
— Não! — Adir Gritou.
— Eu preciso de Respostas, e só você pode me ajudar.
— Sinto muito, Sinto muito, Sinto muito, Sinto muito... — Balbuciou Adir choramingando e agitando seu corpo em direção à mesa.
— Por que você...
— Pergunte! — Adir elevou seus olhos à altura dos curiosos óculos da Dra. Zelda e não permitiu-se chorar, limpando as lágrimas na camiseta surrada.
— Você foi o responsável pela bomba naquele Restaurante? — Dra. Zelda mudou o tom da conversa.
— Não.
— Você sabe quem foi?
— Sim.
— Quem? — Ela rangeu os dentes, ansiosa pela resposta.
— Você disse apenas sim ou não. — Adir ignorou a pergunta.
— Seu pai foi o responsável?
— Sim.
— Você estava presente naquele dia?
— Não.
— Adir... — Sua voz foi interrompida por uma série de soluços e lamentações.
— Sinto muito, Sinto muito, Sinto muito, Sinto muito... — Adir torturava-se, provocando em seu rosto diversos hematomas ao colidi-lo com a mesa sucessivamente.
— Por que você Sente muito? — Perguntou Dra. Zelda.
— Por que eu... Sou Muito ruim, eu sou mal! — Gritou Adir.
— Kamal, mantenha a calma.
— Pergunte mais uma!
— Seu Pai é Issa-Faizel?
— Sim.
Tudo se tornou insignificante, a luz dominou as centenas de vidas que trabalhavam naquele lugar.A Sala prateada ouviu pela ultima vez o som da voz humana, mal sabiam eles que aquela imensidão pálida daria vida a um dos mais famosos memoriais do mundo.
00:32 PM
12 de Junho de 2005
Riade, Arábia Saudita.
Dois homens conversam em frente a uma televisão:
—Meu menino!— Diz o mais velho.
— Como ele fez aquilo?— Pergunta o outro.
— A ordem das verdades, Ele não suportou falar, ela o corroeu por dentro... Corroeu como uma bomba...
Algum tempo depois...
“Como você se sente hoje? Como você se sente após a descoberta dos planos de Issa-Faizel?”
“Eu sinto que a imagem de minha mãe foi honrada, digo mais, eu não vou sossegar até acabar com todo esse movimento e espero que ninguém pare de caça-los. Eles têm que pagar pelo que fizeram a minha mãe e a todos nós, que ficamos acuados em nossas casas com medo de sair nas ruas. Digo aqui e ao vivo que eu vou tomar o lugar de minha mãe como Diretor e que eles vão pagar! ”, Respondeu Edgar Alves, Filho de Regina Zelda Alves ao Jornal Matutino.
“Qual foi a causa da morte?”
“Soldados aliados descobriram documentos que comprovam a existência de um dispositivo acionado por voz, os peritos estudam a ideia da bomba estar acoplada ao estômago de Elias Adir e que o acionamento foi causado por um código de voz, mais precisamente, uma sequência de caracteres.”
Trecho Retirado da Matéria especial sobre a inauguração do Memorial Regina Zelda Alves - 15 de Agosto 2008.