A JORNADA

O ônibus estava prestes a chegar à rodoviária. Fora uma longa e solitária viagem, mas, pelo menos, a poltrona ao seu lado viera vazia, o que lhe dera bastante liberdade para se esparramar nos dois assentos.

Da janela, vira paisagens antigas, que o fizeram lembrar da infância e da juventude. De lá para cá, tanta coisa havia mudado. Já não era mais o jovem ambicioso que partira para a cidade grande como se fosse conquistar o mundo.

Agora, após uns bons anos, voltava à sua terra natal em busca das suas raízes. Não se arrependia de ter tentado transformar o seu sonho em realidade. Pior seria se não o tivesse feito. Podiam acusá-lo de diversas coisas, mas não de covarde. Fora em busca de um objetivo, e o alcançara, porém, depois, havia perdido a graça. No entanto, a sua trajetória na capital servira para ele visse o mundo de uma forma diferente. Redescobrira valores, como família e tradição, que havia posto de lado.

Além de um bom emprego, também deixara para trás um amor, requentado é bem verdade, mas poucos sabiam disso. Conclusão, alguns conhecidos achavam que ele estava passando pela crise da meia idade. É, talvez eles tivessem razão. Precisava, entretanto, se encontrar. Achar algo que o motivasse, e que desse novo rumo à sua vida.

Será que alguém estaria esperando por ele após todo esse tempo? Passara um e-mail para o irmão, mas ele não havia respondido. Pedira que desse o recado à sua mãe. Será que ele assim o fizera?

Pronto, até que enfim, chegara. Olhou pela janela, mas não reconheceu nenhum rosto familiar. Desceu do ônibus, pegou suas malas no bagageiro, e virou-se. Nesse exato momento, seus olhos se encontraram com os olhos sorridentes de uma senhora de cabelos brancos, presos num coque, no alto da cabeça - sua mãe. Lágrimas rolaram pela sua face, e com ela o mesmo se deu. Avançou o mais rápido que pôde, entre a multidão, em sua direção. Largou as malas, e a abraçou forte. Seu peito parecia que ia explodir. Era tanta saudade, tanta emoção! Não conseguia dizer nem uma palavra, nem ela, mas no silêncio, se entenderam.

Após esse abraço interminável, foram para casa. Agora, sim, podia retomar sua vida. Sentia-se forte e revigorado. Que viessem os desafios!

Beth Rangel
Enviado por Beth Rangel em 06/08/2013
Reeditado em 27/08/2013
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