MORTE SÚBITA - PARTE I


Quando ele viu seu estado de inconsciência tentou reanimá-la. Procurou pelos sinais vitais, reclinou a cabeça sobre o seu peito, examinou os pulsos, não localizou contrações. Nervoso, acionou o Resgate pelo celular. A viatura chegou em poucos minutos. No caminho para o hospital fizeram de tudo para reabilitá-la. Desfibrilador ligado, várias descargas no
 tórax da paciente para reverter a fibrilação cardíaca. Os paramédicos entreolharam-se pelo quadro crítico, tentaram, uma vez mais...E a morte venceu.

Oiapoque ficou desconsolado. Sua companheira de tantas jornadas, caminhos percorridos, vida à dois que começou por simples olhar quando se conheceram. Tantos momentos e agora via-se sem chão, sem ombro, sem sorriso, sem desejo, sem o seu amor. Amigos, familiares, desconhecidos o cercaram expressando os sentimentos. Compartilhando lágrimas por tão repentina perda...

O funeral foi providenciado por amigos mais próximos, porque Oiapoque estava sem cabeça, abatido, sem direção, inconsolável...Como a perda de um ente querido aproxima as criaturas! Como o calor emana do sol, vemos a solidariedade de cada um como uma luz, manifestando assistência moral e espiritual. Formando um laço de união fraternal pelo fato de serem semelhantes. 

Oiapoque possuía umas economias e resolveu mudar-se para esquecer a dor. Agora a sua mente estava povoada de recordações. Ele sabia que morando no mesmo lugar, sentiria aquele gosto amargo da solidão. Estava fraco e precisava renovar as suas forças. Botou o 'pé na estrada' indo para o sul. Depois de alguma espera, obteve êxito numa carona. Ficou em silêncio o tempo todo...Olhar pensativo no horizonte, vento quente sobre o seu corpo, Oiapoque lembrou-se do provérbio chinês que lera na academia,nos tempos que praticava Kung Fu: "Se quiser compreender a vida, olhe para trás, se você quiser viver a sua vida, olhe para frente".

Casa dos Guerreiros... esse era o significado do seu nome em tupi-guarany. Era o que ele precisava ser agora, um guerreiro para viver uma nova etapa. Após longas horas de lembranças e impulsos inconscientes, o cansaço foi produzindo imagens distorcidas e ele despertou do pesadelo. Fim da linha. Saltou... nem de leve poderia imaginar-se voltando para trás, ainda que os fantasmas se fizessem presentes, ele era um lutador; atentava que a vida é um contínuo andar para frente. De repente, alguém o chamou:

_Hei guri, és daqui?
_Não, sou de muito longe, Amapá...
_Bah! De que cidade tu és, tchê?
O gaúcho tinha percebido um carregado sotaque.

_Maninho, sou de Oiapoque, tenho o mesmo nome da minha cidade. E você...(?)
_Bah! Que coincidência tchê, sou de Arroio Chuí, e tenho o mesmo nome da minha cidade também.
_Eita Porra! Veio à passeio para o Sudeste ou de mudança, to vendo a sua mala...
_Nem te conto guri, barbaridade! Tinha minha prenda, era apaixonado e ela, me traiu com meu compadre...resolvi sair da cidade. E você, guri? Passeando ou de mudança?
_"Arreeeeee", meu caso é diferente, minha companheira "levou farelo..."

_Que dissestes tchê?

_Minha amada morreu..."levar farelo" é gíria da minha terra quando alguém morre.
_Ah, meus sentimentos...fazias o que na tua terra?
_Era gerente do Banco de Sangue e músico nas horas vagas. E tu maninho?
_Bah! Tinha uma banda de música regional, meu compadre era o produtor...(fdp!)

_"Paidéguaa", a gente podia ir pra Goiás, e fazer uma dupla sertaneja. Já que tu é corno mesmo e eu viúvo. Vamos cantar as mágoas!
_Barbaridade tchê! Vamos ser sucesso, será trilegal o apresentador anunciando: " E com vocês, Oiapoque e Chuí...!"

_"Umborimbora" então? Só tem uma coisa maninho...

_ Bah! O que guri?

_Maninho, por acaso tu já viu alguma dupla sertaneja de pulgas fazendo sucesso?

_Barbaridade...não vi, mas se nós não tentarmos não vamos saber guri, bora saltar no primeiro cachorro que passar por aqui. Sabes...de cachorro em cachorro vamos compondo e ensaiando, logo, logo chegaremos no maior polo produtor de duplas sertanejas, Goiás!

_...Tenho uma letra assim: "Tem um rio no sul fazendo chuí, fazendo chuá, fazendo chuí, fazendo chuá...cachoeiraaaaaaaaaa..."

(Bah! onde tem água quente por aqui, to feito gaudério querendo tomar chimarrão!)
Alberto SL
Enviado por Alberto SL em 07/07/2013
Reeditado em 01/06/2014
Código do texto: T4375731
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