O SONHO DE UM DÉSPOTA ESCLARECIDO
O SONHO DE UM DÉSPOTA ESCLARECIDO
Acho que todo mundo já sofreu com uma mudança de residência, quer seja na mesma rua, mesmo bairro, mesma cidade, ou o que é pior de uma cidade para outra, ou um país para outro. Mas por outro lado, significa também esperança, novas amizades, novo estilo de vida, de acordo com o contexto que a gente vai encontrar.
Agora imaginem quando essa situação envolve a população inteira de uma cidade. Pois é; foi o que aconteceu com a população da cidade de Mazagão no Marrocos, no continente africano no século XVIII, o último reduto português cristão na África.
Diante da iminente queda daquela cidadela lusitana no continente africano, o todo poderoso Marques de Pombal primeiro ministro do rei D. José I tomou uma histórica decisão, entre o enviar tropas para defender a cidadela cercada pelos milhares de mouros. Ou evacuar as mais de 400 famílias moradoras daquela fortaleza cristã, optou pela segunda opção, promovendo assim a maior operação migratória daquela época.
A operação, diga-se de passagem, envolveu uma vultosa soma de recursos do erário real, além de outros tantos em termos materiais e humanos. Foi formada uma pequena esquadra de dez navios sendo sete embarcações do reino (São Francisco Xavier, Nossa Senhora da Glória, Nossa Senhora das Mercês, Nossa Senhora da Conceição, São João, Nossa Senhora da Purificação e São José) e três da Companhia Geral de Comercio do Grão Pará e Maranhão (Nossa Senhora do Cabo, Nossa Senhora das Mercês e Santa Ana). O traslado compreendeu três etapas, a saber: Mazagão Marroquina/Lisboa, Lisboa/Belém, e Belém/Mazagão Amazônida no atual Estado do Amapá.
A sábia decisão pombalina, não só evitou mais derramamento de sangue numa guerra praticamente perdida, como também serviu para consolidar a presença portuguesa e manter o espaço luso até então ocupado na Amazônia brasileira. Vale salientar que foi talvez o primeiro e único movimento migratório planejado no Brasil Colonial tanto é que nos primeiros anos da empreitada colonial a Mazagão Amazônica tornou – se próspera economicamente sendo uma das grandes produtoras da região. A produção tinha destino fluvial certo para o abastecimento de Belém.
Porém não contavam os governantes da época, com as epidemias que assolaram a região no século XVIII, notadamente em 1781 quando o vibrião colérico se fez presente, vitimando centenas de pessoas, o que provocou a migração para outros locais da maioria das famílias traumatizadas pelas perdas de seus entes queridos naquele lugar, uns poucos moradores ainda permaneceram no local, sendo a maioria composta por negros, ocasionando assim o fim de uma era próspera e consequentemente a decadência da Mazagão Amazônica, pondo fim ao sonho do déspota esclarecido Marques de Pombal.