Violeta

O vestido roxo, a bolsa lilás, todos os complementos em tons violáceos, essa era ela. Onde via uma parede roxa, sentia-se tentada a olhar; se uma loja ou restaurante exibia essa cor (ou tons próximos) na fachada ou nos letreiros, ela inevitavelmente entrava “pra dar uma olhadinha”. Seus amigos a chamavam de Violeta. E, de tanto ouvir, foi esse o codinome que ela adotou, apesar de ser outro seu nome de batismo: “Prazer, Cláudia Souza Figueiredo – mas pode me chamar de Violeta!”

Renato era alucinado por ela. Por sua alegria contagiante, seu bom humor inabalável, sua inquietação juvenil que o transformava, quando estavam juntos, em um adolescente que se esquecia de seus cabelos brancos um tanto precoces. Adorava seus trejeitos, seu modo de andar, seu sorriso fácil e ligeiro, suas combinações extravagantes e originais de tons entre o rosa e o roxo. Com ela sentia-se especial, diferente, importante. Violeta era seu espírito.

Até que um dia (como sempre em histórias que começam bem) Cláudia Souza Figueiredo foi embora, alegando nada mais do que estar cansada daquela vida. Precisava de ar, entende? E ar foi tomar, sem voltar - para desespero de Renato, que num instante envelheceu trinta anos, ficou cinza e quase adoeceu.

O ano acabou, o ano começou; e numa sexta feira fresca de outono a campainha de Renato soou de madrugada. Ele levantou num pulo, sem tempo de imaginar o que veria – mas, mesmo que tentasse, jamais teria conseguido vislumbrar aquela cena: o rosto rosado, a boca vermelha e os dentes brancos do sorriso de Violeta.

- Eu tava roxa de saudades...

Era a cara dela. Amanhã, sem falta, trocaria por outras as flores lilases do jardim. Não precisava mais disso; a cor havia voltado para dentro de casa. Melhor esquecer que a saudade também tinha a cor de Violeta.

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Este texto faz parte do Exercício Criativo "A cor da saudade".

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