O labirinto espelhado de Deron

Ele sozinho, criou um labirinto. Deron, sem pedir nenhuma ajuda sequer, arquitetou o projeto meticuloso, dedicando dias e noites, construiu o labirinto, seu labirinto.

Suas paredes eram espelhadas, assim como o teto e o chão, tudo era revestido por espelhos, não havia lugar ali em que a imagem do arquiteto não era oferecida aos seus atentos olhos.

O labirinto era redondo, tinha caminhos arredondados, girava em torrno do centro, com a extremidade ao norte erguida a quinze graus do chão, o ritmo do movimento era baseado na velocidade com que Deron, que estava na extremidade ao leste, caminhava sempre no sentido horário, de forma tal que se estimulasse a movimentação do criador e habitante. Assim ele caminharia para sempre e daria uma volta diária pelas extremidades do labirinto. Deron andou, correu, quase parou, andou…correu e o tempo correu ao seu lado. Andou, correu, tentou parar, correu e o tempo já havia se distanciado e logo o tempo corria em sentido anti-horário, aquele homem não queria mais encontrar suas imagens, elas não mais cortejavam os seu olhos, agora ofendiam toda a razão que ele conhecia. Então de olhos fechados ele correu mais rápido, como se para ganhar uma corrida, correu como se corresse para a saída daquele sonho, na medida que corria se debatia contra a parede e caía no chão, quebrava os espelhos e se feria com os cacos, talvez desejasse um corte na garganta, a extração do coração ou mesmo a dilaceração do ventre.

Não contente com suas palpebras que insitiam em abrir os olhos e fazer ver o reflexo decadente que a morte lhe mostrava, ele arrancou seu olhos, e cego continuaou a correr, se debater, a cair e se ferir, no final daquele dia não exitia nenhum espelho que não fosse caco lavado de sangue, foi quando encontrou o centro do labirinto antes espelhado.

Ele sentiu uma respiração que indicava alguem diante dele, o débil estendeu a mão e tocou um rosto, um rosto que parecia sorrir, era questão de tempo para se reconhecer aquela face, era familiar, veridicamente não era a primeira vez que suas mão tocavam aquele rosto. Deron se fez réu condenado a pena capital ao constatar que encontrara logo quem mais repulsava, Deron encontrava Deron, não a sua imagem, nem bela nem repugnante, não haviam imagem, apenas breu, apenas escuridão e formas reconhecidas pelo tato, não havia imperfeições no segundo Deron, mas tal aspecto não podia ser notado pelo cego e infame primero Deron.

O segundo, viveu enquanto viveu o primeiro. O Primeiro, viveu enquanto julgou não existir o segundo. Não há mais nem o primeiro nem o segundo Deron, também não há mais labirinto, não há mais espelhos nem tempo.