Dos devaneios a Realidade

No ônibus Mateus sente-se meio incomodado com os passageiros ao seu lado, um casal de amigos cantam em uma sincronia incrível, porem irritantemente desafinada.

A caminho de volta para sua casa que fica em um bairro pobre da cidade de são paulo, em um banco até que confortável de um ônibus de vidros lacrados e bem silencioso em comparação aos que costuma ulltilizar em outras viagens que costuma fazer. Mas o que fazia mateus fora de sua cidade e longe de sua família?

Bom, pouco importa o motivo agora...

Durante sua viagem observa pela janela os carros passarem, e vendo o mundo com seus olhos observadores mergulha em seu devaneio ( diga-se de passagem, não é raro.) imagina imagens movimentando em forma de nuvens, passa por um ônibus com marcas de ferrugem, pneus carecas e vidros riscados provavelmente por estiletes ou outra qualquer ferramenta pontiaguda, pessoas com aparência degradante, sofridas e de poucos motivos a soltar um sorriso banguela em seus rostos.

Bem quieto e no meio do seu devaneio, de repente o ônibus para e embarca uma bela moça, de cabelos longos e lisos, de uma cor castanho claro com umas pontas mescladas de louro claro e escuro, uma pele aparentemente macia, movimentos lentos e delicados, vestia shorts jeans, uma camisa de botoes e manga dobrada com os três primeiros botoes soltos formando um fundo decote avantajando o seu belo par de seios, “ ó que Deusa de Mulher...” pensava Mateus já caindo novamente em um novo devaneio, imaginando-se ao lado daquela linda mulher que acabara de sentar a sua frente, e agora sentia-se melhor do que antes, na companhia daquele casal de amigos irritantes e metidos a cantores de bar .

Após duas horas de viagem Mateus cai em sono e adormece profundamente. Bom, aproveitamos esse seu sono para falarmos mais sobre tal. Pobre garoto, 18 anos de uma vida miserável, de pobreza de angustias, de ver sua vida e a de sua família em meio a desordem, brigas, sua mãe que nunca lhe dava atenção, sentia-se desprezado a ver o carinho que recebia seus irmãos...

“Buéééé” o choro de uma criança na poltrona atras tem a culpa de acordar Mateus que irritado com a situação fica novamente observando a estrada, e agora, o cenário é totalmente diferente, ao horizonte somente montanhas cobertas por vegetação. E novamente passa um outro ônibus ao lado, desta vez é um ônibus elegante de traços marcantes em sua lataria, poucos detalhes na pintura e um nome de ponta a ponta da sua lateral, provavelmente da empresa a quem ele pertence, diferente do outro ônibus que viu esse não está ocupado por pessoas tristes e de aparência degradante. Neste são pessoas de aparência fina, bem vestidas, aparentemente felizes e com um rosto bobo assim digamos por conta de um sorriso de boca entreaberta enquanto observam a paisagem oferecida pela esplendida natureza ( que provavelmente pouco se verá a alguns anos.).

Ao cessar o choro da criança ainda se ouvi o cantar baixo do casal irritante de amigos cantores ao seu lado, mas não da muita atenção e se foca a olhar a linda mulher sentada a sua frente,”linda,linda!!” que falava ao telefone com uma voz irritada, que a fazia mais bela ainda.

O ônibus para, é um terminal rodoviário que Mateus pouco se interessa em saber o nome, mas acaba mudando de idéia quando vê a linda mulher levantando e saindo pelo corredor entre as poltronas, pelo vidro bem limpo e nítido do ônibus observa a mulher indo em direção a um homem bem vestido sentado no capo de um caro luxuoso

Provavelmente importado. Um olhar rabugento, não parecia ser muito velho, porem havia em seus cabelos alguns tantos fios brancos. Logo que a linda mulher chega é puxada bruscamente até a porta do carro onde começa uma provável pequena discução e logo em seguida ela entra no carro e ambos saem em alta velocidade.

-É la se vai minha linda mulher, pobre de mim! Exclamou Mateus.

Pobre mesmo, a próxima parada já seria a de seu destino, e não parecia muito feliz com a chegada, não parecia feliz em voltar pra a sua casa, para a sua família.

Logo que que o ônibus parou no terminal rodoviário sentiu-se feliz por não ter que ouvir o choro e o cantarolar do casal de amigos em coro. Mesmo com isso não lhe trouxe realmente um bom humor.

O terminal rodoviário esta cheio, movimentação intensa de pessoas entrando e saindo dos ônibus, após pegar “sua bagagem” dirige-se até uma fileira de cadeiras de plastico duro, uma ao lado da outra e antes que pense em sentar ouvi um grito ensurdecedor e frenéticas vezes repetidas por um mulher apontando um homem, e que dizia:

-socorro, me ajudem fui roubada!!

Por sorte do Mateus, ou melhor da mulher, o homem passava justamente ao lado do Mateus, quando foi surpreendido com um soco forte e certeiro que o derrubara ao chão imóvel, Mateus treinava artes macias escondido da mãe, pois ela não aceitava, mas isso acabara de ser útil a ele, ou melhor a mulher.

-oh, me Deus, muito obrigado mocinho, não sei como lhe agradecer por isso, muito...

- não foi nada senhora, não foi nada!

-Não. Por favor diga-me como lhe agradecer?! Insistia ela.

-Não ha necessidade senhora, fique...

-ei mocinho, já sei como lhe agradecer, você tem emprego?

Desculpe-me querido leitor, por interromper o dialogo dos personagens agora, mas quero lhes dizer uma coisa, quando se tens uma oportunidade e ainda por cima ela seja boa não a desperdice, muitas vezes precisará deixar outras coisas para trás, para que possa seguir com novos caminhos, e boas oportunidades não aparecem sempre.

-não exatamente, Senhora.

-acabou de ganhar um então! Estou indo para frança com minha agencia de publicidade, posso lê encaixar como garoto propaganda, lhe proporciono treinamentos necessários, está chegando aqui um ônibus fretado com alguns membros da empresa, para nos levar até o aeroporto e não se preocupe com roupas e quaisquer bens, nos podemos arcar com...

-me desculpe senhora, mas eu não posso, não posso abandonar minha família!

-estou lhe oferecendo uma ótima oportunidade meu querido, salvou a minha bolça de um assalto, e você se encaixa perfeitamente no quadro de modelos de propaganda que procuro!

Mateus era de família pobre, e com um “bico” que realizava durante o período noturno conseguia dinheiro para ajudar sua família, enquanto seu pai gastava dinheiro nos bares do bairro e sua mãe com jogos de azar, ainda sobrava dinheiro para que pudesse comprar roupas boas, diga-se de passagem ele vestia-se muito bem.

-Realmente não vai aceitar minha proposta meu querido? Alias, como se chama?

-Me chama Mateus, Mateus alcântara.

E o ônibus da empresa da mulher acabara de chegar.

-Pois bem, Mateus, eu preciso ir, e já que não aceita minha proposta, aceite esses trocados como amostra da minha gratidão, adeus.

-Adeus, Senhora.

Mateus com a bagagem que buscara a mando de sua mãe e mais alguns trocados que na verdade não eram poucos que ganhara pelo feito para a tal mulher, parte em caminho de sua casa, que não fica muito longe da rodoviária.

Enquanto isso, o ladrãozinho já havia sido levado pelos seguranças da rodoviária e tomada as devidas providencias..

***

Logo que chega em sua casa e entrando pelo portão aos pedaços, com madeiras dependurados de uma especie de maderite, e houve os gritos de sua mãe: “onde está esse maldito? Que a essas horas não deus as caras, onde? Onde?”

Então o pobre garoto abre a porta e entra na casa de paredes feitas com madeiras pregados e chão de piso mal acabado.

-mãe...

-onde você estava moleque? Isso são horas de chegar? Seu inútil, imprestável me da essa bagagem aqui, anda!

Cabisbaixo com a recepção da sua mãe, continua quieto mesmo inconformado respeita muito sua mãe...

-desculpa mãe eu estava...

-não quero mais explicações suas, alem de demorar uma vida pra trazer minha encomenda ainda amassa tudo, eu devia ter abortado você quando pude, inútil.

- E eu devia ter aproveitado a oportunidade quando a tive! Sussurrou ele enquanto dirigia até o quarto improvisado com divisas de pano.

Daniel Monteiro