O criminoso.

O CRIMINOSO.

Do livro: Carinhanha e sua História.

Por Honorato Ribeiro.

Havia aqui um coronel muito rico e poderoso dono de muitas terras, que se chamava capitão Ferreira. Tenha ele muitos jagunços a seu serviço. Ele era um homem autoritário e mau. Todos tinham que ficar debaixo de suas ordens. Era nos tempos que não havia democracia e o povo, na maioria era analfabeto, e escravo dos que possuem terras e dinheiro. Principalmente se tivesse patente de coronel da Guarda Nacional. Quem era coronel era também delegado, promotor, juiz, era absoluto.

Esse coronel Ferreira tinha uma filha muito bonita era uma prenda de menina, que se chamava Jacyra. Ela namorava a rapaz modesto, mas não era da nata social. Era de classe pobre, mas honesto e muito simpático. Jacyra começou a gostar do jovem rapaz que se chamava Agapto. O namoro era às escondidas, pois, se o coronel soubesse impediria a filha de gostar do rapaz, por preconceito social. Jacyra se engravidou do rapaz e o avisou. Ele ficou alegre, pois, somente assim ele se casaria com a Jacyra. Pensamento e sonho inocente do jovem rapaz. Jacyra sabendo o pai que tinha, deu conselho para que ele não falasse nada para o pai a pedir-lhe casamento. O rapaz ficou triste, pois, a sua intenção seria levá-la ao altar e tê-la como esposa. Mas Jacyra lhe implorou para que ele não fosse ao pai falar sobre o relacionamento dela com ele. O rapaz atendeu ao pedido dela e se conformou.

Meses iam passado e a barriga ia crescendo. Ela resolveu falar para o pai que estava grávida de um jovem e que iria se casar com ele. O pai ao ouvir a filha lhe dizer que estava grávida, virou uma fera e o mundo explodiu do turro que o coronel deu, que assustou a todos que correram para lá. Chagando lá viu o coronel de olhos arregalados, bufando como um touro enfezado e agarrou a filha e disse-lhe:

-Você vai me dizer agora quem foi esse miserável que dessorou você, polis não irá escapar. Ele terá que morrer.

-Não, meu pai, ele me ama e nós iremos nos casar.

-Não vai, não. Ele tem que morrer. Uma desonra dessa terá de morrer. Você tem que me dizer que foi esse sujeitinho ordinário, senão eu vou lhe matar; não considero mais como minha filha...

-Não direi, pois ele não merece morrer só porque me ama, pai?!

-Chame pra mim, urgente, dois ou três cabras meus dos bons. Diga-lhe que estou chamando. Obedeceram as ordens e, imediatamente, chegaram três jagunços fortes e o coronel Ferreira disse-lhes: Pegue a Jacyra e amarre-a e leve-a no porto, à beira do rio São Francisco, coloque uma estaca bem no fundo, tire a roupa dela, amarre-a e deixe para as piranhas comer, pois ela me desonrou e não tenho mais como a minha filha.

E assim foi feito o pedido do coronel Ferreira. Eles levaram entre choros e pedidos da mãe em aflição, mas não se apiedaram dela. Chagando à margem do rio São Francisco, um dos jagunços ficou a acha de aroeira, os dois despiram a jovem que em prantos lhe pedia para não lhe assassinarem. Eles marram a Jacyra e deixaram a gritos de socorro, mas foram em vão. Imediatamente as piranhas, [é um tipo de peixe feroz e carnívora do rio São Francisco], transformaram a pobre moça em puros ossos. Somente a cabeço ficou ilesa. O povo foi ao lugar do filicídio e muitos choraram a morte de Jacyra. Por causa desse crime absurdo o povo colocou o nome deste porto: O CRIMINOSO, e até hoje é conhecido por este nome por causa do filicídio praticado pelo coronel Ferreira, que achou que a honra tem mais valor de que o amor à sua própria filha.

Zé de Patrício
Enviado por Zé de Patrício em 10/01/2013
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