APOSENTADORIA - CONTAGEM REGRESSIVA
Dizem os teóricos de plantão, com eles os autores de autoajuda, ser o momento da aposentadoria de impacto tal que superá-lo é tarefa das mais difíceis, pois o trabalho sai de você, e você não sai do trabalho. Daí, ser comum, não imediatamente, que ainda subsiste a sensação de férias, mas após algum tempo dizem que sobrevém aquele vazio, a falta da rotina, a saudade dos colegas, e aquela sensação de inutilidade. Psicólogos, orientadores da área, seminários, já preparam o futuro aposentado para o dia fatal, algo meio parecido com a caminhada para o cumprimento da pena capital. Alegam que a pessoa não se preparou para a aposentadoria, e os dias futuros poderão ser de transtornos no lar, idas ao antigo local de trabalho, até ele se dá conta de que não pertence mais àquela dimensão – como boi de engenho que, após passar o dia rodando a almanjarra, à noite, livre da canga, permanece no local comendo o bagaço da cana – sim, e irá procurar uma atividade qualquer, de filantropia a jogar dominó no bairro, local que antes não teve de conhecer, pois só tinha tempo para o serviço.
Há uns que pensam em fazer aquela viagem, vestir um pijama de seda, jogar o relógio fora – a sensação de que não precisam mais controlar o tempo. Lembram outros que a coisa não é parecida com loteria ou com chifre: independe de sorteiro, esse dia chegará, você será aposentado. Os renitentes acham que ainda podem dar o melhor de si, que sua ausência será sentida, até finalmente serem “convidados” a esse gesto. O Banco e eu celebramos um contrato. Ambos cumprimos o que estava acertado. Por que adiar? Em 1964, além de Norman Vincent Peale e Dale Carnegie, que eu saiba, não havia livros de autoajuda, muito menos encontros e seminários para futuros aposentados. Assimilei essa idéia, vislumbrei o amanhã ao assinar pela primeira vez uma folha de ponto no Banco. Se a morte ou outros fatores não me detivessem a marcha, o dia 9 de dezembro de 1994 já era esperado em minha vida. Ao fim do primeiro dia de serviço, faltariam muitos, mas um já era passado. E a finalidade prática dessa atitude? Era que o dia a dia me aproximava daquela marca.
No dia 14 de março de 1992, um sábado, coloquei na máquina de escrever uma folha de papel, do tipo A4, e fui escrevendo, em ordem decrescente: 1000, 999, 998, 997... ... 3, 2, 1. No sentido paisagem, enchi a folha. Fui pondo um x a cada dia em um número. E o que representavam esses números? A conta regressiva de 1000 dias para a aposentadoria. Mostrada aos colegas, pelo inusitado em si, mereceu observações do tipo: Vais te cansar disso! Não tens o que fazer! Passaram-se os dias, os meses, e a marcação continuava. Aí, não houve mais críticas, só a pergunta: Faltam quantos dias? – Tantos dias! Até que no dia 9 de dezembro de de 1994 pude mostrar a todos a folha totalmente preenchida. Era uma sexta-feira, e eu não fique muito à vontade para dar-lhes meu adeus nesse dia. Cara de pau também tem limite. Ao fim do dia 12 dezembro, sem protocolo, discurso ou maior emoção, agradeci aos presente a tolerância que tiveram comigo, externando-lhes minha admiração e meu carinho por todos. Porque os amava muito, iria para casa para ter mais força e disposição de continuar querendo-os muito mais. Nos trinta anos, tive um bom período de licença-saúde. A quem sugeriu, – justificando pequeno acréscimo nos vencimentos de aposentadoria –, que eu permanecesse mais três ou quatro meses, agradecendo a sugestão, declarei que aguardaria o aumento em casa. Hoje, quando escrevo esta página, 8 dezembro de 2012 (4h48), já conto exatos 17 anos, 11 meses e 25 dias. Aos que me precederam nesse ato, só uma observação, que abomino a mentira. Disseram-me que a vida de aposentado era boa, e não é. É ótima!
Dizem os teóricos de plantão, com eles os autores de autoajuda, ser o momento da aposentadoria de impacto tal que superá-lo é tarefa das mais difíceis, pois o trabalho sai de você, e você não sai do trabalho. Daí, ser comum, não imediatamente, que ainda subsiste a sensação de férias, mas após algum tempo dizem que sobrevém aquele vazio, a falta da rotina, a saudade dos colegas, e aquela sensação de inutilidade. Psicólogos, orientadores da área, seminários, já preparam o futuro aposentado para o dia fatal, algo meio parecido com a caminhada para o cumprimento da pena capital. Alegam que a pessoa não se preparou para a aposentadoria, e os dias futuros poderão ser de transtornos no lar, idas ao antigo local de trabalho, até ele se dá conta de que não pertence mais àquela dimensão – como boi de engenho que, após passar o dia rodando a almanjarra, à noite, livre da canga, permanece no local comendo o bagaço da cana – sim, e irá procurar uma atividade qualquer, de filantropia a jogar dominó no bairro, local que antes não teve de conhecer, pois só tinha tempo para o serviço.
Há uns que pensam em fazer aquela viagem, vestir um pijama de seda, jogar o relógio fora – a sensação de que não precisam mais controlar o tempo. Lembram outros que a coisa não é parecida com loteria ou com chifre: independe de sorteiro, esse dia chegará, você será aposentado. Os renitentes acham que ainda podem dar o melhor de si, que sua ausência será sentida, até finalmente serem “convidados” a esse gesto. O Banco e eu celebramos um contrato. Ambos cumprimos o que estava acertado. Por que adiar? Em 1964, além de Norman Vincent Peale e Dale Carnegie, que eu saiba, não havia livros de autoajuda, muito menos encontros e seminários para futuros aposentados. Assimilei essa idéia, vislumbrei o amanhã ao assinar pela primeira vez uma folha de ponto no Banco. Se a morte ou outros fatores não me detivessem a marcha, o dia 9 de dezembro de 1994 já era esperado em minha vida. Ao fim do primeiro dia de serviço, faltariam muitos, mas um já era passado. E a finalidade prática dessa atitude? Era que o dia a dia me aproximava daquela marca.
No dia 14 de março de 1992, um sábado, coloquei na máquina de escrever uma folha de papel, do tipo A4, e fui escrevendo, em ordem decrescente: 1000, 999, 998, 997... ... 3, 2, 1. No sentido paisagem, enchi a folha. Fui pondo um x a cada dia em um número. E o que representavam esses números? A conta regressiva de 1000 dias para a aposentadoria. Mostrada aos colegas, pelo inusitado em si, mereceu observações do tipo: Vais te cansar disso! Não tens o que fazer! Passaram-se os dias, os meses, e a marcação continuava. Aí, não houve mais críticas, só a pergunta: Faltam quantos dias? – Tantos dias! Até que no dia 9 de dezembro de de 1994 pude mostrar a todos a folha totalmente preenchida. Era uma sexta-feira, e eu não fique muito à vontade para dar-lhes meu adeus nesse dia. Cara de pau também tem limite. Ao fim do dia 12 dezembro, sem protocolo, discurso ou maior emoção, agradeci aos presente a tolerância que tiveram comigo, externando-lhes minha admiração e meu carinho por todos. Porque os amava muito, iria para casa para ter mais força e disposição de continuar querendo-os muito mais. Nos trinta anos, tive um bom período de licença-saúde. A quem sugeriu, – justificando pequeno acréscimo nos vencimentos de aposentadoria –, que eu permanecesse mais três ou quatro meses, agradecendo a sugestão, declarei que aguardaria o aumento em casa. Hoje, quando escrevo esta página, 8 dezembro de 2012 (4h48), já conto exatos 17 anos, 11 meses e 25 dias. Aos que me precederam nesse ato, só uma observação, que abomino a mentira. Disseram-me que a vida de aposentado era boa, e não é. É ótima!