O sertão é um paradoxo

Os lábios não molham, de tão secos, e os olhos não conseguem se abrir para a claridade do sol, que castiga. Não pode pensar em parar, será pior, não existe sombra, apenas o sol, apenas o sol e o calor insano da caatinga. O homem continua caminhando sob o cansaço e a fome, sob a sede que lhe maltrata, sobre o chão por onde arrasta as alpercatas. Nesse trajeto de todo dia em busca dos animais, que correm o mundo buscando água, se maldiz, e fala mal da vida, xinga-a. Maldita! Encontra seus bichos comendo os restos de cactos que restam. Tange-os. E de volta para casa, continua imaginando. Bom se chovesse, meu Deus!! Mas nem uma nuvem para dar esperança, o céu está limpo e sol brilha forte, muito forte como a dizer quem manda. Mas o homem acredita. A chuva virá. Quando menos se esperar, ela chega. E nesse dia tudo muda, a terra cheira, o vento varre a poeira do chão, o verde começa aos pouquinhos aparecer, até que dá outra beleza ao sertão. Por que ele já muito bonito apesar de feio. O homem sorrir. Sente na boca o gosto da água bendita, sente o vento brincar com seu corpo e balançar seus cabelos. Terezinha vai ficar mais bonita. Suas carnes começarão a inchar, e os cabelos ficarão macios e limpos. Terezinha vai querer amar com mais amor. É capaz de nascer outro menino. Não é bom. Mas é bom ver a casa cheia. Só é ruim para dar de comer. As crianças sofrem e ele sofre de ver. Eita sertão da peste! Mas o homem não se entristece, apenas reflete sobre a situação. É um descontentamento que passa quando cai a chuva, mas se chove demais, não é sertão. Tem vezes que é preciso pedir para a chuva ir embora, senão tudo se acaba debaixo d’água. O sertão é um paradoxo! O sertanejo é sua continuação. Seco, mas doce. Quente como o calor que recebe, mas forte e fiel. Sem esperança, mas esperando em Deus. Simples e humilde, mas capaz de superação. Parece alienado, mas é apenas conformado com o que não pode dar jeito não. Sua fé é sua força. Seu sertão sua paixão.