A BUSCA
Ouviam-se os meus passos pela estrada. De meus sapatos sobre as pedras, escapavam estalidos tísicos, denotando a escassez do momento. Garranchos retorcidos se desenhavam, margeando uma sequiosa paisagem.
O caminho se permeava da poeira dos pedregulhos que ornamentavam o serpenteado pelo qual eu caminhava. Sem pressa e sem rumo.
Os ventos do verão não estavam fraternos, amornavam-me os intestinos. Numa atmosfera de brasa, meus passos me guiavam. Faziam-me refém da insegurança de meus dias.
Parei sem forças. Caí de joelhos. Doeu-me os ossos mais que a carne. As pedras pontiagudas maltratavam-me naquela posição, cortando o meu jeans surrado. Prostrei meu rosto sobre as pedras, como quem ora a um Deus que em breve se vai conhecer.
O contorno de fogo sobre o meu corpo adentrou-me as entranhas. Quanto tempo ainda? Passos errantes, palavras lançadas. Erro. Arrependimento. Ou não. Quantos minutos naquela posição? Queria alguém que me afagasse. O cansaço me bebia a alma. Secava-me o viver.
Ao prosseguir, as agruras da vida me endureciam os passos. O espinhoso coração feria-me os pensamentos. Laços desfeitos. Partida sem adeus. Sozinho agora.
Lugares desencontrados. Estradas desconhecidas. Viagens sem fim.
Mais uma cidade. Um estirão de arvoredos contornava a via principal. Pequenas casas, de cores diversas alimentavam o astral de pequenas ruas, numa cidade onde o mato rasteiro crescia junto às calçadas, e as águas das chuvas lhe formavam leves correntezas.
O fim de tarde se anunciou. A brisa que me sorriu, fez-me parar e sentar. As pernas agradeceram-me. Numa calçada de esquina, descansei.
As pessoas passavam apressadas. Homens voltavam do trabalho, crianças da escola. Mulheres puxavam seus filhos. Carros passavam. Poucos. Bicicletas ladrilhavam a cidade.
Foi quando avistei no final da rua. A antiga construção misturava ares de imponência e simplicidade, num contraste harmonioso que convidava olhares. O meu permaneceu lá, estagnado.
Com passos flutuantes, pisei os paralelepípedos daquela rua. Caminhei. Olhar fixo em sua fachada. De três portas frontais, o laranja dos umbrais se harmonizava com o amarelo ouro predominante. As portas traziam o amadeirado de um verniz que o tempo não vencera. Havia uma pequena escada de cinco degraus.
Parei frente ao templo. As três portas estavam abertas e convidativas. De dentro, uma melodia de adoração. Um cântico entoado em voz suave, num aparelho de som.
Subi os degraus. Barulhos magros ressoavam de meus pés. Com receio, adentrei o recinto. As paredes brancas, despidas de qualquer adorno, cortinavam as laterais. Assentos em fileiras, bem organizadas, silenciavam a dureza do meu coração; havia dor e vazio em mim.
Foi com inquietude no coração que levantei o olhar e percebi, à frente, um gigantesco painel, onde se emoldurava uma paisagem natural. Em letras douradas, um versículo da bíblia.
Havia um altar sublime. Ao chegar até ele, caí como morto. Sem forças, me rendi. Queria alguém que me afagasse. O cansaço me bebia a alma. Secava-me o viver.
Fechei os olhos e descansei na beleza daquele momento. Prostrei meu rosto sobre o piso, como quem ora a um Deus que se quer conhecer.
Eu não queria uma divindade qualquer. Não precisava de um gênio da garrafa. Não precisava de facilitadores da fé. Estava em farrapos. O corpo e também a alma. Passos errantes, palavras lançadas. Erro. Arrependimento. Sim. Arrependera-me dos erros cometidos. Eu queria Deus.
Chorei como um dilúvio. Meu peito fora lavado.
A mão no meu ombro despertou-me daquele momento sublime. Com segurança, fui levado ao entendimento da fé. Leituras perscrutaram minha mente. Palavras tocaram-me. Entendi que minha caminhada iniciava ali. Naquele dia, eu encontrei o que buscava.