Não consigo deixar de pensar naquele olhar...
Senti a dor instalada naquele ser, o choro contido, a angústia profunda...
O que eu poderia fazer?
Fiquei pensando o tempo todo naquele velhinho sentado no banco praça, todo maltrapilho, fétido, triste, de olhar vazio...
Senti que ele já não esperava por mais nada dessa vida, mas ele olhou pra mim...
E nesse instante a sua alma me gritou, foi como se tivéssemos uma ligação, e um estranho sentimento se apoderou de mim...
Fiquei muito atormentada, precisava fazer algo, porém não sabia o que...
Ao chegar em casa, tentei esquecer, comecei a fazer as coisas normalmente, mas a lembrança daquele olhar me sobrevinha a todo instante...
Tomei uma decisão, larguei tudo em casa e saí, passei na padaria, comprei pão, leite, presunto e queijo e fui à procura do velhinho...
Chegando à praça, lá estava ele, do mesmo jeito, parecia até que ele fazia parte dela...
Fui ao seu encontro, me aproximei devagar e sentei ao seu lado, bem pertinho dele, sem me importar com seu forte mal odor, ele me olhou outra vez, mas dessa vez ele sorriu, mas seus olhos eram de tristeza, semblante de dor, não física, mas de sofrimento, de alguma decepção...
Olhei pra ele e disse:
_Olá, meu senhor!
Ele respondeu baixinho:
_Olá...
_Trouxe-lhe pão e uns alimentos para que o senhor faça um lanche, ta?
Ele ficou muito interessado...
Então, fui tirando as coisas do saco e preparando tudo, fui a uma barraca e pedi dois copos descartáveis e preparei o lanche pra nós...
E com ele comecei a conversar...
Perguntei de onde ele era, o que ele precisava... e ele começou a falar de sua vida enquanto lanchávamos...
Ele me disse que havia perdido sua esposa já ia fazer três anos, dois de seus filhos fazia tempo que ele não via e o que vivia com ele o tratava muito mal e ele veio pra minha cidade à procura de sua irmã, mas ela não o deixou ficar na casa dela porque não havia espaço pra ele e ele já estava a uns quatro meses perambulando sem rumo...
E ele falava de uma forma tão dorida, tão decepcionado...
Perguntei se ele queria que eu ligasse pra alguém...
Ele me olhou e apertou os lábios, ficou meio pensativo,com aquele semblante de dor...
E disse que não precisava, mas eu insisti e ele disse que tinha um número de telefone de um de seus filhos....
Me dispus à ajudar...
Terminando de lanchar com ele, pedi o número do telefone de seu filho, ele sabia de cabeça e me ditou o número e eu anotei na agenda do meu celular...
Pedi que ele não saísse dali pois eu voltaria com uma resposta....
Ele aceitou e eu fui em casa...
Chegando, tomei imediatamente o telefone e liguei para o número que ele havia me dado... do outro lado atendeu uma criança:
_Alô?...
_Alô, boa tarde... gostaria de falar com Sr.Oswaldo...
_Quem deseja falar?
_É da parte do Sr.Petterson...
_Um minuto que vou chamar meu pai....
Passado uns segundos, o Sr.Oswaldo atendeu e eu me identifiquei e comecei a conversar com ele, disse que havia encontrado seu pai na rua, mendigando... disse o que seu pai havia me dito e contei a ele tudo o que eu senti e disse como eu me sentiria se eu tivesse um pai pra poder cuidar...
E o filho se interessou em vir buscá-lo...
Eu antes de dizer onde ele estava, falei:
_Sr. Oswaldo, queira me perdoar, mas sugiro que o senhor cuide bem de seu pai, olhe para seu filho e pense que um dia será o senhor nas condições que o seu pai se encontra, idoso, necessitado e sinceramente, desejo que sua sorte seja melhor que a dele, cuide de seu pai, creio que ele já nem tem tanto tempo mais aqui, então, que esse pouco tempo lhe seja mais digno... ele é seu pai!
O filho do Sr. Petterson me pediu que lhe desse o endereço de onde encontrá-lo e assim eu fiz, lhe dei todas as informações e disse que eu estaria com ele no momento...
Marcamos para o dia seguinte às 10 horas...
Corri à praça para dar a notícia ao Sr. Petterson, e consegui que ele passasse à noite numa igreja do centro da cidade, quentinho e seguro.
No dia seguinte, fui ao encontro do Sr.Petterson e ele já estava arrumadinho, os responsáveis da igreja conseguiram roupas limpas pra ele, estava de banho tomado e barba feita... e fomos para praça esperar o seu filho Oswaldo....
Às 10 horas estávamos no local, o Sr. Petterson estava ansioso, cada minuto parecia uma eternidade... até que parou um carro bonito, novinho, azul escuro perolado, um luxo.... e saiu seu filho Oswaldo da parte do motorista e sua nora do lado do carona...
Eu fiquei pasma, e me apresentei a eles, e apenas disse-lhes:
_Creio que não há necessidade do seu pai estar nessas condições.
Só isso que eu disse ao seu filho.
Me voltei para o Sr. Petterson, dei-lhe um forte abraço, um beijo no rosto e disse-lhe:
_Me apaixonei pela sua alma no primeiro instante que a vi sobre seus olhos.
Ele deixou uma lágrima rolar, me agradeceu e me deu um beijo na testa, naquele momento, senti tanta coisa junto que nem sei explicar...
Ele abraçou seu filho, cumprimentou sua nora, meio seco com os dois, entrou no carro e ficou me olhando, com aquele olhar penetrante, e o carro foi saindo e ele acenando pra mim e eu pra ele.... até que se foi.
Segui de volta pra casa com uma ótima sensação de dever cumprido....
Mas a dor daquele olhar ficou marcado em minha alma, eu sei que nunca mais irei vê-lo mas, eu juro que nunca mais me esquecerei daquele rosto, daquele olhar, ficará guardado eternamente em meu coração.
Carina Morais
28/09/2012
Senti a dor instalada naquele ser, o choro contido, a angústia profunda...
O que eu poderia fazer?
Fiquei pensando o tempo todo naquele velhinho sentado no banco praça, todo maltrapilho, fétido, triste, de olhar vazio...
Senti que ele já não esperava por mais nada dessa vida, mas ele olhou pra mim...
E nesse instante a sua alma me gritou, foi como se tivéssemos uma ligação, e um estranho sentimento se apoderou de mim...
Fiquei muito atormentada, precisava fazer algo, porém não sabia o que...
Ao chegar em casa, tentei esquecer, comecei a fazer as coisas normalmente, mas a lembrança daquele olhar me sobrevinha a todo instante...
Tomei uma decisão, larguei tudo em casa e saí, passei na padaria, comprei pão, leite, presunto e queijo e fui à procura do velhinho...
Chegando à praça, lá estava ele, do mesmo jeito, parecia até que ele fazia parte dela...
Fui ao seu encontro, me aproximei devagar e sentei ao seu lado, bem pertinho dele, sem me importar com seu forte mal odor, ele me olhou outra vez, mas dessa vez ele sorriu, mas seus olhos eram de tristeza, semblante de dor, não física, mas de sofrimento, de alguma decepção...
Olhei pra ele e disse:
_Olá, meu senhor!
Ele respondeu baixinho:
_Olá...
_Trouxe-lhe pão e uns alimentos para que o senhor faça um lanche, ta?
Ele ficou muito interessado...
Então, fui tirando as coisas do saco e preparando tudo, fui a uma barraca e pedi dois copos descartáveis e preparei o lanche pra nós...
E com ele comecei a conversar...
Perguntei de onde ele era, o que ele precisava... e ele começou a falar de sua vida enquanto lanchávamos...
Ele me disse que havia perdido sua esposa já ia fazer três anos, dois de seus filhos fazia tempo que ele não via e o que vivia com ele o tratava muito mal e ele veio pra minha cidade à procura de sua irmã, mas ela não o deixou ficar na casa dela porque não havia espaço pra ele e ele já estava a uns quatro meses perambulando sem rumo...
E ele falava de uma forma tão dorida, tão decepcionado...
Perguntei se ele queria que eu ligasse pra alguém...
Ele me olhou e apertou os lábios, ficou meio pensativo,com aquele semblante de dor...
E disse que não precisava, mas eu insisti e ele disse que tinha um número de telefone de um de seus filhos....
Me dispus à ajudar...
Terminando de lanchar com ele, pedi o número do telefone de seu filho, ele sabia de cabeça e me ditou o número e eu anotei na agenda do meu celular...
Pedi que ele não saísse dali pois eu voltaria com uma resposta....
Ele aceitou e eu fui em casa...
Chegando, tomei imediatamente o telefone e liguei para o número que ele havia me dado... do outro lado atendeu uma criança:
_Alô?...
_Alô, boa tarde... gostaria de falar com Sr.Oswaldo...
_Quem deseja falar?
_É da parte do Sr.Petterson...
_Um minuto que vou chamar meu pai....
Passado uns segundos, o Sr.Oswaldo atendeu e eu me identifiquei e comecei a conversar com ele, disse que havia encontrado seu pai na rua, mendigando... disse o que seu pai havia me dito e contei a ele tudo o que eu senti e disse como eu me sentiria se eu tivesse um pai pra poder cuidar...
E o filho se interessou em vir buscá-lo...
Eu antes de dizer onde ele estava, falei:
_Sr. Oswaldo, queira me perdoar, mas sugiro que o senhor cuide bem de seu pai, olhe para seu filho e pense que um dia será o senhor nas condições que o seu pai se encontra, idoso, necessitado e sinceramente, desejo que sua sorte seja melhor que a dele, cuide de seu pai, creio que ele já nem tem tanto tempo mais aqui, então, que esse pouco tempo lhe seja mais digno... ele é seu pai!
O filho do Sr. Petterson me pediu que lhe desse o endereço de onde encontrá-lo e assim eu fiz, lhe dei todas as informações e disse que eu estaria com ele no momento...
Marcamos para o dia seguinte às 10 horas...
Corri à praça para dar a notícia ao Sr. Petterson, e consegui que ele passasse à noite numa igreja do centro da cidade, quentinho e seguro.
No dia seguinte, fui ao encontro do Sr.Petterson e ele já estava arrumadinho, os responsáveis da igreja conseguiram roupas limpas pra ele, estava de banho tomado e barba feita... e fomos para praça esperar o seu filho Oswaldo....
Às 10 horas estávamos no local, o Sr. Petterson estava ansioso, cada minuto parecia uma eternidade... até que parou um carro bonito, novinho, azul escuro perolado, um luxo.... e saiu seu filho Oswaldo da parte do motorista e sua nora do lado do carona...
Eu fiquei pasma, e me apresentei a eles, e apenas disse-lhes:
_Creio que não há necessidade do seu pai estar nessas condições.
Só isso que eu disse ao seu filho.
Me voltei para o Sr. Petterson, dei-lhe um forte abraço, um beijo no rosto e disse-lhe:
_Me apaixonei pela sua alma no primeiro instante que a vi sobre seus olhos.
Ele deixou uma lágrima rolar, me agradeceu e me deu um beijo na testa, naquele momento, senti tanta coisa junto que nem sei explicar...
Ele abraçou seu filho, cumprimentou sua nora, meio seco com os dois, entrou no carro e ficou me olhando, com aquele olhar penetrante, e o carro foi saindo e ele acenando pra mim e eu pra ele.... até que se foi.
Segui de volta pra casa com uma ótima sensação de dever cumprido....
Mas a dor daquele olhar ficou marcado em minha alma, eu sei que nunca mais irei vê-lo mas, eu juro que nunca mais me esquecerei daquele rosto, daquele olhar, ficará guardado eternamente em meu coração.
Carina Morais
28/09/2012