EU LI TUA MENSAGEM
Era uma tarde, num dia de outono quente...
Estavam as folhas caindo à calçada, quando algumas crianças por ali passavam.
Um vento, em redemoinho, afoito, alevantou folhas e finos gravetos lançando-os um pouco mais adiante. E assim foi sendo feito, de tempos em tempos. Sempre um pouco mais à frente...
O vento, assim fazendo, arrastou, por mais dois quarteirões, folhas, finos gravetos, adamascados papéis, pétalas descoloridas de flores...
Encostada à uma branca cerca, uma página ficou. Amarrotada pelo tempo, amarelecida pelo sol, definhando, atonteada junto à uma flor.
De tempos em tempos ainda, o vento, em vão tentava, a flor daquela página separar. Era balançada de lá para cá. De cá para lá. Mas, entre as dobraduras ficou. Inerte. Em desmaio angelical. Como se esperasse a última gota de esperança.
Olhava o céu, o sol, as nuvens e nada mais via...
Num percalço, uma mão intrometida, abeirou-se da flor e da página a separou.
A página, como que inconformada, rangeu-se entre a cerca, como se chorasse o amor que lhe era retirado.
Notando esse gemido, aquela velha mão, pelos anos também amarrotada, a desencostou da amurada, trouxe-a mais para perto de seus dedos e num golpe certeiro a arrebatou do chão e àquela flor ajuntou.
Um homem em idade avançada, com pequenos óculos de aro arrendondados, em sua dificuldade costumeira, notou algo na página rabiscado.
Como que o destino lhe reservasse o poder de realizar algo, solenemente ajeitou-se, num banco ali próximo sentou-se.
Com suas mãos trêmulas firmou a velha página que o vento de algum lugar arrancou.
Piscou os olhos para melhor ler. Pigarreou como se necessário à leitura fosse e com altivo menear da cabeça iniciou a leitura.
Após alguns minutos, que sob aquele sol morno pareceram eternos, baixou as mãos, levantou-se com certa dificuldade, tirou os óculos e os guardou no bolso dianteiro de seu colete.
Andou pela calçada pintada de folhas amarelecidas, escutando sob seus pés o farfalhar delas.
Alguns quarteirões mais estancou-se em frente a um portão semi-aberto, já um tanto desgastado pela intempérie.
Olhou ao redor, ainda um pouco mais olhou à página e a flor em suas mãos...
Avançou portão adentro, com um golpe com os dedos fechados, àquela porta se fez anunciar.
Eis que de dentro, uma jovem bela e plácida, em sorriso angelical, adiantou-se e lhe falou:
-o que desejas desta casa, nobre senhor?
A esta pergunta, o velho, já corcunda, enfraquecido, um pouco mais pestanejou, antes de se por a falar...
_ li esta página, que o vento trouxe de algum lugar. E nela, na frase aposta, uma dor me tocou...
Notando o semblante tristonho daquele bom velhinho, a moça convidou-o a entrar.
Já assentado numa poltrona de alto espaldar, um tanto indeciso, a página, à jovem entregou.
Esta, tomando conhecimento do teor nela escrito, um "ohh" soltou.
Entre suas alvas e pequenas mãos as do senhor idoso ajuntou, com olhar lacrimejante, sincero e piedoso acrescentou:
- Ela já se foi para o Eterno, bom velhinho. Deus a levou na primeira primavera após esta data aqui anotada. Agora sei bem o por quê daquele sorriso jovial, logo que fechou os olhos e adormeceu... Ela o amara tanto e, este amor, para sempre o levou!...
Ambos se olharam... Nada mais podiam fazer...
A frase, se quiserem saber, dou-lhes aqui, em primeira mão:
"Meu amado, sou tua, hoje e sempre. Aguardo-te vir me buscar. Estou te esperando junto ao portão!"
LIÇÃO: O AMOR SEMPRE VALE A PENA!
(Milena Medeiros-24/09/2012- escrita online no site Recanto das Letras)