PRIMAVERA DE LEMBRANÇAS
Um trinado quase insistente me acorda. Era o canto dos pardais como se saudassem um novo dia ou quisessem me despertar para a vida. O trinado tinha notas suaves e perfeitas como se dedilhassem em um piano uma melodia clássica e erudita. Mas nem os dedos mais inteligentes seriam capazes de dedilhados tão perfeitos como esses que repercutiam em meus ouvidos qual o som de uma orquestra.
Abri os olhos sonolentos... então me lembrei que era domingo e que a primavera chegara nessa manhã. A alma embalada pelo trinado dos pardais me fez ver além da decoração rotineira e simples de meu quarto e a imagem que meus olhos vislumbraram nada mais era que uma lembrança. Ela tinha a forma de uma casa simples, como todas as casas do campo: paredes brancas... Janelas azuis... Cores da simplicidade e da paz. A sua volta a cor da primavera: pés de lírios vermelhos e cor-de-rosa cresciam junto ao alicerce do muro que ia até a casinha de fazer queijos; no pátio pequeno em frente à sala, onze - horas se abriam lépidas e se estendiam rasteiras cobrindo o pequeno espaço entre a moita de lírios e suspiros. Lembro-me de alguns pés de sempre-vivas e uma única roseira que teimava em querer cobrir a janela do quarto. Ah! E tinha o pé de manacá com suas flores azuis e brancas disputando os mesmos galhos...
Vale a pena lembrar o verde mandiocal que cobria o quintal disputando espaço com árvores frutíferas, a moita de bambu jardim, a velha árvore frondosa da encosta, o canavial, a fileira quase medida os eucaliptos seguindo a cerca de arame farpado e a estradinha...
Depois qual um tapete verde de veludo, a grama circundava todo aquele quadro, arrematando em pontos perfeitos toda aquela obra digna de um artesão. Estendia-se ricamente até a estradinha. Esta seguia quase lado a lado com uma fileira de morros salientes e desiguais; agora verdes, porque a primavera chegara substituindo a paisagem pálida deixada pelo inverno. Ao fundo do roçado de canas passava o córrego serpenteando como um caracol entre árvores verdejantes até desaguar no velho rio. No pasto as vacas ruminavam saboreando o gosto novo das pastagens. O sol tinha uma quentura que alcançava a alma e banhava calientemente os grandes cerradões. Os pássaros não se cansavam de voar sobre as árvores colhendo frutinhos, ou fazendo ninhos novos para a prole anual. A orquestra formada por seus cantos era bela e infinita.
O céu divinamente azul cobria este paraíso...
Penso que era realmente a primavera, pois tudo resplandecia na mais bela cor e juventude. Pois sim... Em minhas lembranças naquele dia era primavera, assim como hoje. Percebi assim que o dia amanheceu e ouvi o trinado dos pardais que brincavam nas poucas árvores do quintal do vizinho. Eu a esperava há alguns dias na esperança de que ela trouxesse um pouco de cor ao mundo. Abri a janela para descobri-la ainda tímida num ponto qualquer do universo, mas só consegui ver a primavera de minha infância e embriaguei-me nela por alguns minutos. Com certeza era domingo como hoje porque também ouvi algazarras de crianças subindo o espigão para mais um passeio no campo o que só acontecia na primavera. Bem sei... Aquele passeio domingueiro era seguido religiosamente em dias de primavera, do qual se voltava com as mãozinhas cheias de margaridas amarelas e o rosto abraseado pelo sol das manhãs.
Minha vida estava toda ali. Minhas origens estavam plantadas no meio de todo aquele esplendor. Mas voei como os pássaros e busquei outras paragens... Voltei poucas vezes em algum vôo rasante... E pensar que nem fui tão longe... Em algum momento parei... E talvez fosse nesse exato momento em que procuro a primavera nas poucas árvores que vejo daqui ou no asfalto cinza e nos telhados vermelhos que me rodeiam. E foi exatamente hoje que me surpreendi que tivesse se passado tanto tempo. Chorei, embora não quisesse chorar a saudade dessas lembranças tão latentes porque são tão belas e santas e não merecem lágrimas que as turvem. Mas chorei... Porque adquiri em meus vôos uma sensibilidade que não sei explicar. Não há coração que não se torne terno e saudoso diante de lembranças tão doces e ingênuas. A santidade escondida nesse viver tem alguma coisa de sacerdotal ou mística que molha o seio da alma com gotas de paz e harmonia. Só a alma conhece essa santidade, porque o viver e os sentimentos são espontâneos como a chegada da primavera...
( IMAGEM GOOGLE)
Um trinado quase insistente me acorda. Era o canto dos pardais como se saudassem um novo dia ou quisessem me despertar para a vida. O trinado tinha notas suaves e perfeitas como se dedilhassem em um piano uma melodia clássica e erudita. Mas nem os dedos mais inteligentes seriam capazes de dedilhados tão perfeitos como esses que repercutiam em meus ouvidos qual o som de uma orquestra.
Abri os olhos sonolentos... então me lembrei que era domingo e que a primavera chegara nessa manhã. A alma embalada pelo trinado dos pardais me fez ver além da decoração rotineira e simples de meu quarto e a imagem que meus olhos vislumbraram nada mais era que uma lembrança. Ela tinha a forma de uma casa simples, como todas as casas do campo: paredes brancas... Janelas azuis... Cores da simplicidade e da paz. A sua volta a cor da primavera: pés de lírios vermelhos e cor-de-rosa cresciam junto ao alicerce do muro que ia até a casinha de fazer queijos; no pátio pequeno em frente à sala, onze - horas se abriam lépidas e se estendiam rasteiras cobrindo o pequeno espaço entre a moita de lírios e suspiros. Lembro-me de alguns pés de sempre-vivas e uma única roseira que teimava em querer cobrir a janela do quarto. Ah! E tinha o pé de manacá com suas flores azuis e brancas disputando os mesmos galhos...
Vale a pena lembrar o verde mandiocal que cobria o quintal disputando espaço com árvores frutíferas, a moita de bambu jardim, a velha árvore frondosa da encosta, o canavial, a fileira quase medida os eucaliptos seguindo a cerca de arame farpado e a estradinha...
Depois qual um tapete verde de veludo, a grama circundava todo aquele quadro, arrematando em pontos perfeitos toda aquela obra digna de um artesão. Estendia-se ricamente até a estradinha. Esta seguia quase lado a lado com uma fileira de morros salientes e desiguais; agora verdes, porque a primavera chegara substituindo a paisagem pálida deixada pelo inverno. Ao fundo do roçado de canas passava o córrego serpenteando como um caracol entre árvores verdejantes até desaguar no velho rio. No pasto as vacas ruminavam saboreando o gosto novo das pastagens. O sol tinha uma quentura que alcançava a alma e banhava calientemente os grandes cerradões. Os pássaros não se cansavam de voar sobre as árvores colhendo frutinhos, ou fazendo ninhos novos para a prole anual. A orquestra formada por seus cantos era bela e infinita.
O céu divinamente azul cobria este paraíso...
Penso que era realmente a primavera, pois tudo resplandecia na mais bela cor e juventude. Pois sim... Em minhas lembranças naquele dia era primavera, assim como hoje. Percebi assim que o dia amanheceu e ouvi o trinado dos pardais que brincavam nas poucas árvores do quintal do vizinho. Eu a esperava há alguns dias na esperança de que ela trouxesse um pouco de cor ao mundo. Abri a janela para descobri-la ainda tímida num ponto qualquer do universo, mas só consegui ver a primavera de minha infância e embriaguei-me nela por alguns minutos. Com certeza era domingo como hoje porque também ouvi algazarras de crianças subindo o espigão para mais um passeio no campo o que só acontecia na primavera. Bem sei... Aquele passeio domingueiro era seguido religiosamente em dias de primavera, do qual se voltava com as mãozinhas cheias de margaridas amarelas e o rosto abraseado pelo sol das manhãs.
Minha vida estava toda ali. Minhas origens estavam plantadas no meio de todo aquele esplendor. Mas voei como os pássaros e busquei outras paragens... Voltei poucas vezes em algum vôo rasante... E pensar que nem fui tão longe... Em algum momento parei... E talvez fosse nesse exato momento em que procuro a primavera nas poucas árvores que vejo daqui ou no asfalto cinza e nos telhados vermelhos que me rodeiam. E foi exatamente hoje que me surpreendi que tivesse se passado tanto tempo. Chorei, embora não quisesse chorar a saudade dessas lembranças tão latentes porque são tão belas e santas e não merecem lágrimas que as turvem. Mas chorei... Porque adquiri em meus vôos uma sensibilidade que não sei explicar. Não há coração que não se torne terno e saudoso diante de lembranças tão doces e ingênuas. A santidade escondida nesse viver tem alguma coisa de sacerdotal ou mística que molha o seio da alma com gotas de paz e harmonia. Só a alma conhece essa santidade, porque o viver e os sentimentos são espontâneos como a chegada da primavera...
( IMAGEM GOOGLE)