QUANTO VALE UM SORRISO

Este conto parecerá ingênuo; mas, se assim for considerado, satisfaço-me por relatar a experiência com um ancião, e poder mensurar nas reações dos seus sentimentos e na carência de sua afetividade, o quanto o ser humano precisa de tão pouco para ser feliz.

Encontrava-me lanchando, por volta de 15:00h de um dia qualquer, quando de repente levanto a vista e deparo com um mendigo de uns 75 anos de idade, sujo, descalço, um saco às costas, que, encostado a uma das portas, olhava insistentemente para mim. Seu olhar denotava fome, sede e cansaço. A princípio fiquei um pouco encabulado porque outros olhares já se voltavam sobre mim. Baixei a cabeça como se não tivesse percebido, e continuei a lanchar. Impulsionado pela curiosidade, levanto os olhos outra vez. Outra vez ele me olha fixamente. Um sorriso brota espontaneamente dos meus lábios, um sorriso quase que infantil. Por sua vez, um sorriso largo e desdentado surge naquela face de tez queimada, pelas andadas sob a luz de um sol escaldante e sem compaixão. Levantei-me. Dirigi-me até ele e convidei-o para fazer uma refeição. Ele continuou sorrindo. Um sorriso que podia denotar tudo: menos fome e sede. Indaguei então: “O senhor não quer comer nem beber nada?” Ao mesmo tempo em que respondia, balançava a cabeça negativamente: “Nhôr, não! A fome e a sede que eu tinha já passô”. “Hein?!” - assustei-me. Ele concluiu de uma forma tal, que duas lágrimas grossas escorreram pelo meu rosto: “A fome e a sede que eu tinha era a fome e a sede de um sorriso. Este sorriso eu ganhei. Tô feliz. Obrigado”.

Engasguei-me. Não pronunciei uma palavra sequer. Apenas apertei a sua mão encaliçada, e ele saiu sorrindo até perder-se de vista no meio da multidão.

Já se vão mais de trinta anos. Nunca soube do seu nome. Mas as suas palavras deixaram gravadas no meu coração e na minha alma, uma das mais belas lições que a vida me ensinou: o sorriso não tem preço. Não tem preço porque é o próprio fruto da alegria; e a alegria é um presente do Espírito Santo. Cultivemos a alegria e espalhemos os seus frutos pelo mundo.

ALMacêdo

Antonio Luiz Macêdo
Enviado por Antonio Luiz Macêdo em 20/08/2012
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