O Futuro Diz Amém - Cap 2
( três meses depois)
A chegada
Logo depois daquela noite em que eu estava escrevendo acabei adormecendo sob os papéis e acordei com o suspiro do meu colega de quarto, ele estava roxo e soltava um liquido transparente pela boca e narinas. - Parecia que estava engasgado, então fui até a enfermaria gritando: - Help me, Help me... E eles vieram logo juntamente com a Doutora Catherine a única médica que não parecia um robô, a única que me olhava e me passava um pouco de verdade. A doutora Catherine era mais gente do que eu. Ela era americana, então nós nos entendíamos melhor, já que o inglês que eu sabia era o de lá.
O meu colega de quarto foi retirado daqui e não me deixaram acompanha-lo. Não grudei os olhos a noite toda, embora a gente nunca tivesse trocado nem uma palavra sequer ele era uma companhia e na limitação de pessoas eu até que gostava dele.
Bem no meio da madrugada a Doutora Catherine bate na minha porta eu digo que entre... Então ela se senta ao meu lado e começa a me falar coisas reveladoras sobre aquele hospital. A doutora me contou que o David, esse era o nome do meu colega. O David era deficiente auditivo e os médicos descobriram isso. A função deles era manter apenas pessoas “perfeitas” já que éramos pequenos grupos de pessoas agora. Então o envenenaram. Ela foi contra, mas era minoria e isto era uma lei. Então Só vão ficar pessoas sem nenhum tipo de deficiência, brancas, entre quinze a cinquenta anos, e heterossexuais. Fiquei espantando, pois eu era homossexual, e minha mãe possuía mais de cinquenta anos, mas a doutora disse para eu me acalmar, já que ninguém tinha os documentos de ninguém e não falavam a mesma língua era difícil descobrir exatamente a idade, e disse também que ninguém saberia que eu era homossexual, pois eu não aparento ser. Pediu para eu manter sigilo, pois médicos não podem conversar com “pacientes”. Em seguida me deu um beijo na testa e saiu.
Senti uma espécie de alegria e desespero, fiquei alegre porque depois de seis meses eu tinha uma amiga, alguém que realmente confiasse em mim de verdade, que demonstrou algum tipo de sentimento por mim, mas ao mesmo tempo desesperado por saber de toda aquela história, e eu não podia fazer nada.
Chorei, chorei muito até pegar no sono e ser acordado de novo.
Acabara de chegar um rapaz no meu quarto com aproximadamente vinte e poucos anos e o que parecia inacreditável aconteceu eu o ouvi dizendo as seguintes palavras: - Meu Deus, onde eu estou?!
Ele falava português!
Eu o olhei e começou a sair lágrimas dos meus olhos de tanta alegria, finalmente achei alguém que falasse a minha língua, isto era maior do que qualquer coisa naquele lugar é como se eu tivesse alguém que pudesse dividir uma mesma identidade. Então eu disse: É brasileiro?
Ele disse sim, e o abracei com tanta força, fui tão espontâneo, tão aconchegante, eu me senti a pessoa mais feliz do mundo.
Ele me disse: Hei, porque você fez isso?
- Faz seis meses que eu estou aqui, eu nunca falei com ninguém neste lugar e finalmente eu achei um brasileiro, é inexplicável pra mim, me desculpa.
E então ele disse: Sem problemas, só me explique onde eu estou.
Então eu disse que estávamos em uma espécie de hospital e que éramos os únicos sobreviventes da catástrofe natural que ocorreu. Eu não disse nada a respeito do que a doutora havia me contado, primeiro porque ela me pediu sigilo e segundo que eu mal o conhecia embora ele seja brasileiro eu não posso sair falando coisas para um desconhecido.
Ele era forte, alto, de cabelos negros lisos e olhos azuis, era lindo o seu nome era Marcelo, era do Rio de Janeiro, e cursava medicina veterinária, curso que eu ia começar a fazer na mesma universidade que ele, isso foi o mais impressionante de qualquer forma íamos nos conhecer. Então eu e ele começamos a falar de tudo, já que naquele momento só tínhamos um ao outro.
Marcelo também gostava de escrever, mas ele gostava era de escrever músicas, ele cantava muito bem e começou a cantar para mim, ele me olhava de uma forma tão penetrante com sorrisos no olhar, seus dentes eram lindos, sua voz era bela e soava completamente bem aos meus ouvidos.
Meu coração estava batendo forte, saindo pela boca mesmo, minhas mãos soavam frias e eu sorria sem graça para ele e o aplaudia após cada canção.
Ele me chamava de Lu e me abraçava todos os dias de manhã para me acordar... Sabe, nunca me senti tão feliz pela morte de alguém, sei que é egoísta, mas se o David não tivesse morrido eu jamais conheceria o Marcelo.