O Futuro Diz Amém - Cap 1

(Primeiro Dia)

Já era tarde quando saí pela porta da frente e fui para o jardim pisar um pouco na grama gelada e observar o céu. A lua era cheia e brilhante encharcada de estrelas a sua volta.

Logo atrás de mim ficava o hospital. “hospital” do qual eu acabara de sair pela porta da frente para ir ao jardim respirar um pouco de ar contaminado. Logo retornei ao “hospital” subi silenciosamente em meu dormitório de número 391, retirei o casaco e agora estou aqui deitado nesta cama de mola, olhando para este teto opaco e não há nada além de paredes descascadas, goteiras e esta cama velha.

Aqui existem monitores, cozinheiras, médicos, enfermeiras, professores e agentes de limpeza especializada. Embora tudo seja muito velho e precário as coisas são totalmente limpas e esterilizadas. Aqui todo mundo fala pouco. Divido meu dormitório com um sujeito há mais ou menos seis meses e ainda não sei o nome dele. Também perdi a noção do tempo, aqui não temos relógios, meios de comunicação. Nem mesmo livros. Só temos a nós mesmos.

Eu vivia no Brasil, me chamo Lúcio, mas aqui sou codificado. - Sou o número B101. Desde a catástrofe natural Perdi meus pais, minhas irmãs, meus amigos, meus animais. Meus sonhos. – Todos eles acabaram.

Acordei aqui em Paris, Lugar que sempre quis conhecer, mas nunca desta forma.

Disseram-me que todas as redes de comunicação foram destruídas por isso não temos como encontrar os nossos parentes desaparecidos, Disseram-me também que existem mais nove bases como esta. Duas aqui na França, uma na Itália, duas na China, três na África do Sul, Uma na Índia e uma nos Estados Unidos. Não faço ideia porque vim parar aqui. – Tenho esperanças que eu ainda encontre algum parente ou conhecido por aí. Não paro de pensar um minuto na minha mãe. Ela sempre foi muito aflita e não sei como ela está estes seis meses longe de mim. – Estou com dezoito anos e ela com cinquenta e dois. Segundo os meus dados hoje é o aniversário dela. Nunca estive tão triste em toda minha vida, mas tristeza é um sentimento que incrivelmente se acostuma. É tanto desespero que fico sem ação, não tenho mais vontade de fazer nada, faz dias que eu não falo uma palavra. Deve ser por isso que essas pessoas são tão quietas. Está todo mundo abalado, desorientado, e assustado.

Eu tinha uma vida tão boa, era super popular nas redes sociais; Facebook, Twitter, Instagram, Tumblr. Eu escrevia textos e tinha uma câmera profissional cuja amava fotografar tudo o que me cercava. Sempre fui muito observador, fechado em meu mundo secreto. Isto é devido o meu signo também... Escorpião, signo forte, intenso, destemido, cruel, emotivo, signo da vida e da morte.

Eu tinha os melhores amigos do mundo e até estava tentando conseguir me apaixonar de novo, coisa que eu sempre achei difícil já que depois que meu coração foi quebrado uma vez por um garoto imbecil jurei a mim mesmo nunca mais me apaixonar de novo e é assim até hoje.

Voltando a falar daqui. –Queria mesmo era fugir, mas dizem que não há mais civilização, não há mais economia. O capitalismo de fato chegou ao fim. Existem cientistas trabalhando para tentar concertar a comunicação pelo menos de um “hospital” para o outro para tentar ajudar no encontro das famílias.

Aqui no “hospital” existem cerca de 30 homens e 30 mulheres cada sexo em um prédio respectivamente. Fomos separados assim, não me pergunte o motivo o Inglês daqui é péssimo e o português é fora de cogitação, até hoje não achei nenhum brasileiro. Então o pouco que eu entendo é o que verdadeiramente sei.

A comida daqui também é péssima, temos apenas duas refeições por dia o chamado “déjeuner” (almoço) e “dîner” (jantar) que nos servem apenas carnes mal passadas e uma espécie de bolo de péssima qualidade com gosto de vomito. Temos o direito de beber um litro de água por dia também. Tudo aqui é marcado pelo nosso código no meu caso b101.

Por sorte nos distribuíram lápis e papéis e eu estou escrevendo para tentar aliviar um pouco o meu tédio de seis meses.

Estou tão cansado que preferia estar morto. Minha vida já não faz muito sentido, no meu jardim não existem mais flores com apenas dezoito anos me sinto velho e nada mais!

Lucas Guilherme Pintto
Enviado por Lucas Guilherme Pintto em 24/06/2012
Reeditado em 15/12/2012
Código do texto: T3741189
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