TE PEGUEI

Olívio era o primogênito de Zulmira, conhecida em toda a cidade por “fazer ponto” na Esquina da Tamarineira, nas proximidades da casa de dona Elvira. Exageradamente atenciosa nos cuidados para com o pequerrucho, podia ser chamada verdadeiramente uma mãe coruja. Quem não gostava dela?

Olívio crescia dentro das suas proporções, mas ainda era bebezinho. Os “querer” de dona Elvira não dava nenhum trabalho. Silencioso e dorminhoco.

Certo dia de uma manhã nublada apareceu por ali um morador do sítio Baixio, acompanhado de Genessildo. Zeca de Lu apeou-se e ajudou o companheiro a desmontar do animal. Mal os olhos de Zulmira bateram em Sildo, a resposta se deu prontamente no seu coração. O amor à primeira vista foi tão explosivo, que à tardinha Zulmira deixava para trás seu pequeno Olívio, e iniciava a história de uma paixão desmedida e louca, ao lado de Genessildo Pitombeira.

O desenvolvimento de Olívio dava-se num ambiente propício à assimilação das primeiras palavras. Uma “vendinha” do interior por onde circulava tudo que era gente. Batiam palmas: “Oi de casa!”; usavam a voz: “Dona Elvira!”; sinalizavam na porta e gritavam avisando: “Tem gente!” Sempre assim.

- Parabéns, cumpade! A cumade tá passando bem? O “fiote” já tá é grande, né? Inda mama ou toma gagau?

- Gosta dum gagauzim danado!

- E quando cumeçá a chamá mãmã?

Olívio ouvia e prestava atenção. Quando da época de emitir os sons iniciais foi fácil.

- Olívio!... Olívio!...- chamava dona Elvira.

- Mãmã.

- Quer o mingau agora?

- Gagau, gagau.

De tanto ouvir decorava tudo. Parecia até um papagaio.

Adolescente, não parou mais. De quê? “De falar. De falar”.

- Elvira, tem gente.

- Já vou, Olívio.

- Aqui tá só.

- Tô indo aí.

E cantava para manter a calma.

- Ave, Ave, Ave-Maria! Ave, Ave, Ave-Maria!

Dona Elvira se orgulhava de Olívio. A sua adoção foi uma bênção para ela. Não cansava de expor as suas qualidades.

- Mãmã, o Chico tá roubando! Corre!

Tac. Tac. Quando dona Elvira chegou Olívio estava dentro de uma poça de sangue. Tomou-o nos braços e falou comovida:

- Onde é que eu vou achar outro papagaio

ALMacêdo

Antonio Luiz Macêdo
Enviado por Antonio Luiz Macêdo em 21/05/2012
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