SONHO ESTRANHO
Naquela madrugada resolvi andar na garoa, sentir a umidade da neblina em meu rosto, caminhar pelas esquinas frígidas e lúgubres noite adentro até o amanhecer. As imagens translúcidas enganavam meus olhos que lacrimejavam em goles e percorriam a calçada à minha frente, exigindo passagem ao meu corpo cambaleante, embora não houvesse obstáculo algum a impedir os meus movimentos desajeitados.
A casas envelhecidas pela pobreza, ocultavam a solidão das suas gentes trancafiadas nos alojamentos da mente em virtude do sono pesado; entorpecidos pela escuridão daquela noite vadia, esqueciam as mazelas da vida em vigília.
Eu sentia uma fragrância doce e suave trazida pelo vento calmo e molhado. Quanto mais distanciava-me da minha origem e aproximava-me do que me tornei, o cheiro daquele perfume foi intensificando juntamente com a vontade de impulsionar com rapidez o caminhar. Já muito além de onde parti, notei que observava o cenário sem qualquer subjetividade; vidas estranhas, maltratadas, famintas esbarravam em mim, clamavam por socorro, pediam auxílio, mas não podia ajudá-las; uma força maior empurrava meu corpo, impunha a sua energia com sofreguidão, determinando que eu seguisse adiante. Minha surdez barrava o clamor apavorante daquelas fisionomias medonhas, e então...
Acordei agitado.
Embora um terrível pesadelo, não pude ajudar aquela gente.