Enquanto eles não sabiam.
Passavam os dias juntos, nada combinado. Se encontravam, aqui, ali. Puro acaso, diziam, fingindo que não se buscavam. Fingindo para todos, um para o outro, cada qual para si mesmo.
Quando se viam (puro acaso, repito), os olhos se iluminavam e sendo ambos barco e farol se atraiam. Encontravam se ao meio do caminho, nenhum esperando o outro, nenhum se fazendo esperar e então juntos se dirigiam a um destino não combinado. Ninguém decidindo nada. Caminhavam, ora em linha reta, como se em busca de um ponto comum, ora em círculos, como se cada um buscasse a si mesmo e se encontrando encontrasse também o outro. Ora andavam, ora corriam, ora simplesmente ficavam parados contemplando o milagre da vida.
Eles falavam, monólogos e diálogos, sempre sabendo quando era hora de calar e ouvir, hora de falar e ser ouvido. Riam e choravam encantados com o milagre de terem se encontrado. Por acaso, ambos diziam, por puro acaso, já que ninguém buscava ninguém, nem alguém buscava outro alguém.
Sentavam-se em bancos de praças, encostavam-se em quinas de balcões. Qual crianças dividiam tudo, esse é meu, esse é seu. Pedintes a quem davam sorrisos, cachorrinhos a quem davam petiscos, os carros que passavam, as casas que iam vendo. Algumas vezes se tocavam, um roçar de mãos, ombros que se encontravam e então os dois emudeciam como se tivesse acontecido algo inapropriado que lhes roubasse as palavras. Achavam-nas outra vez, por puro acaso, encontrando uma banca de jornais onde um lia para o outro as manchetes estampadas, voltando a velha brincadeira: essa é minha, essa é sua, que sempre acabava em risadas.
Então um dia tudo mudou. Por puro acaso, dizia cada um a si mesmo, pois não mais se encontravam e nem se falavam e o que era uma busca em fuga se tornou.
Um dia, que se fez escuro, andavam juntos pelas ruas, na mesma alegria, quando a chuva caiu. Só um tinha guarda-chuva e era preciso proteger o outro mais do que a si mesmo, da água que descia. Então um abraçou o outro e andaram juntinhos, calados e colados, por um longo tempo, nem mesmo se lembrando que não mais chovia. Deve ter sido ao mesmo tempo que eles ficaram sabendo da grande verdade porque seus pensamentos eram cada vez mais sincronizados. Descobriram ali que um era o outro, não havia mais lugar para fingimento. Mas porque tudo seria tão difícil e proibido quando se separaram nenhum olhou um para o outro, ensimesmados que estavam na própria dor. Nem mesmo olharam para trás, cada um seguindo uma direção diferente.
Passavam os dias juntos, nada combinado. Se encontravam, aqui, ali. Puro acaso, diziam, fingindo que não se buscavam. Fingindo para todos, um para o outro, cada qual para si mesmo.
Quando se viam (puro acaso, repito), os olhos se iluminavam e sendo ambos barco e farol se atraiam. Encontravam se ao meio do caminho, nenhum esperando o outro, nenhum se fazendo esperar e então juntos se dirigiam a um destino não combinado. Ninguém decidindo nada. Caminhavam, ora em linha reta, como se em busca de um ponto comum, ora em círculos, como se cada um buscasse a si mesmo e se encontrando encontrasse também o outro. Ora andavam, ora corriam, ora simplesmente ficavam parados contemplando o milagre da vida.
Eles falavam, monólogos e diálogos, sempre sabendo quando era hora de calar e ouvir, hora de falar e ser ouvido. Riam e choravam encantados com o milagre de terem se encontrado. Por acaso, ambos diziam, por puro acaso, já que ninguém buscava ninguém, nem alguém buscava outro alguém.
Sentavam-se em bancos de praças, encostavam-se em quinas de balcões. Qual crianças dividiam tudo, esse é meu, esse é seu. Pedintes a quem davam sorrisos, cachorrinhos a quem davam petiscos, os carros que passavam, as casas que iam vendo. Algumas vezes se tocavam, um roçar de mãos, ombros que se encontravam e então os dois emudeciam como se tivesse acontecido algo inapropriado que lhes roubasse as palavras. Achavam-nas outra vez, por puro acaso, encontrando uma banca de jornais onde um lia para o outro as manchetes estampadas, voltando a velha brincadeira: essa é minha, essa é sua, que sempre acabava em risadas.
Então um dia tudo mudou. Por puro acaso, dizia cada um a si mesmo, pois não mais se encontravam e nem se falavam e o que era uma busca em fuga se tornou.
Um dia, que se fez escuro, andavam juntos pelas ruas, na mesma alegria, quando a chuva caiu. Só um tinha guarda-chuva e era preciso proteger o outro mais do que a si mesmo, da água que descia. Então um abraçou o outro e andaram juntinhos, calados e colados, por um longo tempo, nem mesmo se lembrando que não mais chovia. Deve ter sido ao mesmo tempo que eles ficaram sabendo da grande verdade porque seus pensamentos eram cada vez mais sincronizados. Descobriram ali que um era o outro, não havia mais lugar para fingimento. Mas porque tudo seria tão difícil e proibido quando se separaram nenhum olhou um para o outro, ensimesmados que estavam na própria dor. Nem mesmo olharam para trás, cada um seguindo uma direção diferente.